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Teorias da conspiração atraem quem tem dificuldade de lidar com incerteza

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

05/05/2014 07h50

O homem nunca chegou à lua e as imagens do pouso da Apollo 11 foram montadas em um estúdio de Hollywood. A princesa Diana não foi vítima de um acidente, mas de um assassinato planejado pela família britânica real. E os Estados Unidos não só sabiam do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, como ajudaram a arquitetá-lo.

Essas são algumas das muitas teorias da conspiração que permeiam o imaginário coletivo e surgem a partir de grandes acontecimentos públicos. “A ideia de ser perseguido por inimigos, que temos que combater e dos quais devemos nos defender, é a construção cultural que origina essas teorias, que são uma tentativa de esclarecer elementos controversos ou não suficientemente explicados”, diz Magali do Nascimento Cunha, pesquisadora de comunicação da Universidade Metodista de São Paulo.

Um levantamento divulgado em 2010 pelo grupo Angus Reid apontou que 15% dos norte-americanos acreditam que os Estados Unidos tinham conhecimento da ação terrorista antes mesmo do atentado acontecer. E um grupo menor, de 6%, foi ainda mais longe, afirmando que o atentado não passou de uma farsa. Para essas pessoas, o complexo de edifícios World Trade Center nem sequer foi atingido e as imagens mostradas na TV eram apenas montagens.

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Mas por que, mesmo diante de tragédias amplamente divulgadas, como foi o ataque às torres gêmeas, há pessoas crentes de que tudo não passou de uma conspiração? Para o especialista em medicina comportamental pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) José Carlos Carturan, o ser humano precisa acreditar em algo para tentar colocar ordem naquilo que é caótico. “Ao buscar explicação, você justifica o que é aleatório. É uma maneira de diminuir o sentimento de impotência”, diz.

Na era da informação, fica ainda mais fácil de difundir essas teorias por meio da internet. E por estarem cada vez mais elaboradas, muitas delas chegam a ser difíceis de refutar. “As teorias se apoiam em fatos, relatos, versões de acontecimentos, fragmentos religiosos ou filosóficos que, por mais diversos e fantasiosos que sejam, têm origens em aspectos do real concreto”, explica o sociólogo Silas Nogueira, doutor em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com Silas, há também uma característica sedutora nessas histórias, que atrai pessoas motivadas em desvendar mistérios e desmascarar ideologias. “É algo parecido com a literatura policial e a ficção, que são campos de grande interesse”, afirma.

A personalidade dos teóricos

Essas teorias têm, ainda, outra característica importante: elas atraem defensores de todos os estilos.  “De acordo com os estudos psicológicos já feitos nessa área, nem todos os que acreditam em teorias da conspiração têm traços paranoicos. Não são pessoas estúpidas ou pouco informadas, há muitas pessoas inteligentes e bem informadas que defendem essas teorias”, afirma a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, doutoranda e mestre em Psicologia Social pela USP (Universidade de São Paulo).

Já alguns aspectos comportamentais são comuns a todos teóricos, de acordo com os especialistas. Tanto quem defende a farsa do homem na lua, quanto os que acham que as torres gêmeas foram colocadas abaixo a mando dos Estados Unidos têm pouca autoconfiança. “Ao acreditar nessas teorias, um dos benefícios é o aumento da autoestima. Essas pessoas geralmente passam a pertencer a um grupo, onde todos acreditam naquilo, e não se sentem mais excluídas. Pelo contrário, ganham importância, pois encontram outros que pensam igual”, diz José Carlos Carturan.

Associada à baixa autoestima, há também uma necessidade de controle. Por confiarem menos em si, os teóricos da conspiração precisam sentir que dominam outras situações da vida, para obter a segurança necessária. “É um conforto psicológico. É como se eles se sentissem mais espertos e com mais capacidade do que as outras pessoas, ao defender uma teoria dessas”, afirma Angelita.

Um estudo conduzido pelo cientista cognitivo Stephan Lewandowsky, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicado em 2013, conclui que teóricos da conspiração tendem a rejeitar descobertas científicas. Além disso, de acordo com Angelita, a crença também é consequência da falta de confiança nas autoridades que representam uma instituição, como o governo. “Há casos históricos em que as autoridades omitiram fatos, contaram meias-verdades. Isso criou uma base cultural para que as pessoas desconfiem de alguns relatos oficiais”, explica a psicóloga.

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O ponto de equilíbrio

Mesmo existindo extremos, ou seja, pessoas que acreditam piamente na versão oficial de um fato, bem como as que negam essa explicação veementemente, a maior parte dos cidadãos está no meio-termo, segundo os especialistas. Essas pessoas até podem pender mais para um determinado lado, porém, não adotam posturas radicais. E esse posicionamento é o mais saudável.

Porém, para chegar a esse equilíbrio, é preciso se informar em diferentes fontes, adquirir visões distintas de um mesmo acontecimento. E, a partir daí, construir a própria opinião. “Tem que pesquisar sempre e não se contentar com explicações misteriosas simplistas, com aparência de científicas. Fugir das teorias da conspiração não significa aniquilar o nosso senso crítico, o que nos levaria a tomar sempre como verdadeiras as explicações oficiais”, declara Magali do Nascimento Cunha.

Também é preciso ter em mente que as dúvidas surgem na mesma velocidade dos conhecimentos adquiridos. E, em muitos momentos, é impossível obter certezas. “Às vezes, precisamos nos contentar com a ideia de que não vamos chegar a uma resposta definitiva para aquele assunto. Talvez a gente precise aprender a conviver com as incertezas e indefinições”, diz a psicóloga.