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Profissional puxa-saco pode prejudicar até o chefe que bajula

É importante que o chefe saiba diferenciar o puxa-saco do profissional solícito - Getty Images
É importante que o chefe saiba diferenciar o puxa-saco do profissional solícito Imagem: Getty Images

Rita Trevisan e Suzel Tunes

Do UOL em São Paulo

24/09/2014 07h46

Figura folclórica no ambiente de trabalho, o puxa-saco é o sujeito que chega todos os dias antes do chefe –e sempre vai embora depois dele, concorda com tudo o que o seu superior diz e, pior, está em todo lugar. "O bajulador é uma figura muito malvista, mas ainda muito presente nas organizações", afirma o professor Adolfo Plínio Pereira, especialista em gestão avançada de pessoas pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais e autor do livro "Liderança Humana e de Resultados", lançado na Bienal do Livro pela editora Scortecci.

Contudo, em um mercado em que o trabalho em equipe ganha cada vez mais relevância, a tendência é que os puxa-sacos –individualistas por excelência– encontrem cada vez menos terreno para ascender. "Todo chefe que dá força para puxa-sacos é um líder incompetente", declara o professor.

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Segundo Pereira, o líder que valoriza o bajulador ou ainda não percebeu que está sendo usado como trampolim profissional ou sofre de carência afetiva. De um jeito ou de outro, não contribui para o crescimento da empresa. "Os líderes devem ouvir a todos e dar oportunidade para os funcionários se desenvolverem. Assim, a organização se torna uma terra fértil para o desenvolvimento do seu capital humano e árida para o crescimento dessa ‘planta daninha’, que são os puxas-sacos", diz.

Segundo Mariana Scharwz, gerente da empresa de recrutamento Hays, especializada em pessoal qualificado, nas empresas que têm uma gestão de pessoal profissionalizada, a bajulação nunca será um caminho para conquistas.

"O critério para a promoção e valorização deve ser a meritocracia, ou seja, o reconhecimento de acordo com a performance e os resultados subsequentes. Quando uma empresa premia de alguma maneira um profissional por causa da atitude de bajulação, corre o risco de desmotivar outros profissionais que sejam tão competentes ou mais do que o colega”.

O bajulador pode ser até um bom funcionário. O problema é que emprega seus talentos de maneira errada. “Creio que o pior no comportamento do puxa-saco é que ele se concentra, quase que única e exclusivamente, no atendimento dos desejos, anseios e necessidades do seu chefe, e não naquilo que a equipe e a organização esperam de um bom profissional”, diz o professor Adolfo Pereira.

Além de prejudicar o clima organizacional, gerando desmotivação e intrigas, o puxa-saco pode acabar induzindo os bons profissionais, verdadeiramente interessados nos resultados da organização como um todo, a procurarem outro emprego.

Um perigo para os colegas e até para o chefe

Conviver com um puxa-saco na empresa exige paciência e cautela. Segundo a professora Sylvia Ignácio da Costa, coordenadora da graduação tecnológica em gestão de RH da Universidade Anhembi Morumbi, o puxa-saco costuma ter como uma de suas características principais o imediatismo. "Ele tem como objetivo uma rápida ascensão profissional –ainda que venha a encontrar dificuldades em se manter nessa posição depois– e pode dificultar o acesso de outras pessoas ao seu superior, por desejar ser visto como o colaborador principal”, diz a professora.

Ele pode se aproveitar, ainda, da proximidade com o superior para desqualificar os colegas que vê como possíveis ameaças. "Se necessário, ele até pode puxar o tapete dos outros", diz Sylvia. Por isso, um conselho dos especialistas para quem convive com colegas bajuladores é manter os olhos abertos. E a boca fechada, evitando fazer críticas à empresa e, sobretudo, ao superior hierárquico que é alvo da bajulação.

Mas não é apenas aos colegas que o profissional adulador pode prejudicar. Uma pesquisa realizada em 2011 pela Universidade Northwestern e Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, resultou num alerta: a bajulação pode levar a empresa à direção errada e pôr em risco o cargo dos diretores executivos, os CEOs. O impacto pode ser significativo. O estudo revela que, em empresas com alto grau de puxa-saquismo e longo tempo de baixa performance, a probabilidade de demissão de um CEO pode aumentar em até 64%.

O perigo é ter alguém que finge concordar com todas as opiniões do executivo. Isso porque, mesmo quando começam a surgir resultados negativos, os bajuladores continuam sustentando as decisões do chefe que, influenciado pela aprovação geral, se convence de que suas estratégias são boas e mantém o curso. Para não cair nessa armadilha, os pesquisadores sugerem que os executivos busquem opiniões de colegas que não sejam seus subordinados. "Todo líder precisa ter ao seu lado pessoas de confiança", afirma Pereira.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/05/18/voce-costuma-engolir-sapos-no-trabalho.htm')

Gentileza na medida certa

No entanto, é importantíssimo que a liderança saiba diferenciar o puxa-saco do profissional que naturalmente é solícito. Segundo a professora Sylvia Ignácio da Costa, essa não é uma tarefa tão difícil quanto parece.

“O profissional gentil não exagera nem força situações”, diz. Outra característica da pessoa dedicada é que seu empenho está nas metas e prazos da empresa, enquanto o puxa-saco está mais preocupado em executar tarefas que chamem a atenção do chefe. “Trata-se de uma proatividade que não traz valor ao trabalho em si, como se dispor a pegar folhas da impressora, pegar o café, buscar algo na recepção etc.”, explica Mariana Scharwz.

Mas, para que não restem dúvidas, o professor Adolfo costuma aconselhar os seus alunos a “espalharem gentileza por todos os cantos, seja para o chefe, para o subordinado, para o colega de trabalho ou o vigilante do estacionamento”. Se a bajulação é malvista no ambiente de trabalho, a gentileza é cada vez mais valorizada como fator que influencia diretamente a motivação e a performance da empresa, e já tem sido até tema de treinamentos corporativos.

“É muito melhor trabalhar com alguém gentil, agradável e bem-humorado do que com alguém que está constantemente de mal com a vida, ou, de forma estranha, é agradável somente ao chefe e indiferente com os demais”, afirma o professor.