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Conhece o dogging? Entenda essa prática sexual exibicionista

O dogging costuma rolar no carro. Mas, atenção, a prática é considerada crime - Getty Images
O dogging costuma rolar no carro. Mas, atenção, a prática é considerada crime Imagem: Getty Images

Yannik D'Elboux

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/11/2014 08h07


É comum dizer que entre quatro paredes vale tudo. Mas, para algumas pessoas, isso é pouco. A excitação está em sair do quarto e levar o sexo para a rua.

A prática sexual em locais públicos é chamada de dogging. Não se sabe ao certo a origem do termo em inglês. A palavra, que surgiu na década de 1970 na Inglaterra, pode ter relação com o comportamento sexual dos cachorros ou com o fato de alguns homens aproveitarem o passeio noturno com seus animais para espiar os casais dentro dos carros.

O dogging envolve exibicionismo e voyeurismo (prazer em observar). Geralmente, um casal tem relação ou se exibe no interior de um veículo estacionado, enquanto alguns homens ao redor se masturbam, participam do ato ou apenas assistem.

Segundo a psicóloga e sexóloga Maria Cláudia Lordello, coordenadora da Psicologia do Projeto Afrodite, do Ambulatório de Sexualidade Feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), uma das explicações para esse tipo de prazer vem da quebra das regras. Tornar explícito algo tão íntimo como o sexo provoca a libido. “Essa transformação gera muito estímulo”, explica.

Códigos e limites

Os adeptos do dogging aproveitam a facilidade de comunicação na internet para organizar encontros, na maioria das vezes tarde da noite e em locais de pouca circulação, como praças, parques e estacionamentos.

A busca por vivências emocionais intensas costuma ser um aspecto comum no perfil dos praticantes, de acordo com o psicólogo e psicoterapeuta sexual do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade) Oswaldo Rodrigues Júnior. “Algumas pessoas desejam ultrapassar as barreiras do convencional, outras buscam comportamentos sexuais alternativos por não conhecerem os usuais”, acrescenta.

O prazer associado ao perigo de ser flagrada é o que atrai Analy Ximena Mendes, 34, casada há 15 anos, que diz praticar dogging com o marido toda semana nas ruas de Piracicaba (SP).  “Tenho muito medo, mas nunca fomos pegos”, conta. “Deixamos os rapazes observarem, participarem raramente. E, às vezes, gosto de masturbá-los”, diz sobre o que aprecia nesse fetiche.

Apesar de romper algumas barreiras, o dogging também tem seus limites, determinados pelo casal. “É uma prática com regras bem definidas. Não é cada um faz o que quer, da maneira que quer”, ressalta a sexóloga Maria Cláudia.

Diferentemente do voyeurismo convencional, em que a observação acontece à distância, nessa prática os envolvidos ficam bastante próximos. "No dogging, quanto mais perto melhor, porém nem sempre para participar, depende das regras", destaca a psicóloga.

Os limites são estabelecidos por meio de códigos não verbais. Os praticantes usam o carro para comunicar seus desejos. Luz acesa no interior do veículo significa que os interessados podem se aproximar, a janela abaixada indica que o toque é permitido e a porta aberta convida à participação no sexo.

"Tentamos ao máximo selecionar quem pode se aproximar para evitar problemas. Escolhemos os que mostram boa conduta e se adequam aos meus padrões de beleza e higiene", revela Analy.

Acordo do casal

Para quem está de fora parece difícil compreender, contudo, em práticas como o dogging, não há ciúme envolvido, apesar do contato com estranhos. "Sexo é diferente de amor e esses casais sabem disso. Assim, sentem que podem ter sexo com pessoas diferentes sem atrapalhar o relacionamento", esclarece o psicoterapeuta do Inpasex.

Oswaldo Rodrigues também explica que, nesses casos, quase sempre existe um compromisso de não envolvimento afetivo e acordos que não devem ser quebrados. Antes de se aventurar em práticas alternativas, o psicólogo alerta que a pessoa precisa ser capaz de ponderar todas as consequências positivas e negativas dos seus atos para não sofrer.

A consensualidade do casal consiste em outro ponto fundamental antes de transformar a fantasia em realidade. "É importante nunca achar que sabe o que o outro quer. Perguntar é sempre melhor", enfatiza Rodrigues.

"Os dois precisam estar de acordo, ter a mesma fantasia, o mesmo desejo. Porque se um quiser mais do que o outro aquilo não vai dar certo", reforça a psicóloga do Projeto Afrodite.

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Crime

É importante lembrar que a prática do dogging fere a legislação brasileira. "Fazer sexo em lugar aberto ou exposto ao público é crime. Está definido no artigo 233 do Código Penal, chamado de ato obsceno, no capítulo que trata do ultraje público ao pudor", esclarece a advogada Ana Cláudia Lucas, coordenadora do curso de Direito da UCPel (Universidade Católica de Pelotas) e professora de Direito Penal da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), no Rio Grande do Sul.

Ana Cláudia explica que os participantes que assistem ao ato também estão sujeitos a responder pelo mesmo crime, já que contribuem para a sua ocorrência. “Essas pessoas vão assistir numa posição de incentivadoras daquela prática", esclarece.

A pena prevista para a condenação por ato obsceno é de detenção de três meses a um ano ou multa. Entretanto, por ser considerado um crime de menor potencial ofensivo, existem diversas possibilidades de substituição da pena, como pela prestação de serviços à comunidade, e até de suspensão do processo.

"É muito difícil que alguém possa ser processado e condenado por esse crime. E, se for, não vai ser preso. A resposta punitiva não é algo que possa intimidar ou frear o ímpeto dessas pessoas", diz a advogada. $escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2014/02/18/qual-e-a-sua-temperatura-sexual.htm')