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Chorar no trabalho ainda pega mal, mas a tendência é que isso mude

O que você faz quando vê um colega chorando? Responda no campo de comentários - Getty Images
O que você faz quando vê um colega chorando? Responda no campo de comentários Imagem: Getty Images

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

06/01/2015 07h09

Por mais que pareça coisa do passado, e as empresas queiram reafirmar essa ideia, chorar no ambiente de trabalho ainda é malvisto por colegas e pela chefia. Segundo Marcia Luz, especialista em comportamento e administração de recursos humanos, ainda existe um tabu sobre o assunto, que deveria ser visto como uma manifestação da emoção natural, assim como o riso.

Mesmo assim, ainda há quem veja o profissional que chora como uma pessoa fraca, desequilibrada ou que não está sendo capaz de lidar com suas tarefas diárias, sem nem sequer considerar que o motivo das lágrimas pode ser estritamente pessoal. 

"Deixar sentimentos aparentes pode ser considerado descontrole, mas, na minha opinião, um pouco de emoção mostra sinceridade e aproxima a equipe", afirma Marcia Luz, que também é autora do livro "Agora É pra Valer! - A Verdadeira História de Quem Passou de Chefe dos Outros a Líder de Si Mesmo" (DVS Editora).

"O riso costuma não incomodar ninguém. Com o choro acontece o inverso". Mas, para ela, sempre que for algo pontual, não deve ser visto como problema. "O excesso de choro incomoda como o de risada. Afinal, ninguém gosta daquele colega que faz piada de tudo, não é mesmo?", pergunta a especialista.

Para Alba Duarte, diretora da ABRH-RJ (Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro), o ambiente de trabalho é um reflexo da nossa sociedade e, por isso, ainda encontramos dificuldade para entender e respeitar quando nos deparamos com alguém aos prantos. Dentro e fora das empresas, as pessoas, normalmente, se sentem constrangidas ao ver uma pessoa chorando, ainda mais se não tiverem intimidade. 

"Temos espaços tidos como determinados para chorar. Se você vê alguém chorando na praça de alimentação de um shopping, por exemplo, por mais que não conheça aquela pessoa, vai se incomodar. Isso acontece porque a situação deixa o outro vulnerável", diz Alba. "Aceitar o choro não é uma evolução do ambiente de trabalho, mas, sim, entender que é algo normal", afirma.

Por isso, ao encontrar um colega nessa situação, procure agir com a naturalidade e não ignore-o. "É esperado que a razão prevaleça no trabalho, porém, somos humanos e demonstrar compaixão não fará mal nenhum", afirma Sylvia Ignácio, coordenadora do curso de Gestão de RH da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo. Ela diz, também, que se a pessoa que encontra alguém chorando for o líder, é papel dele avaliar o que está acontecendo, principalmente se a crise estiver ligada ao trabalho. 

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Caso seja você quem está sentindo que não poderá segurar as lágrimas em um momento difícil, o conselho de Sylvia é respirar fundo e tentar manter a calma. "O melhor a ser feito ainda é pedir licença e retirar-se do local para beber um copo de água e recuperar o fôlego", diz.

A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho da USP (Universidade de São Paulo), Ana Cristina Limongi-França, acredita que derramar lágrimas em público ainda é motivo para infantilizar o profissional. Porém, a especialista alerta para os prejuízos que o choro reprimido pode causar.

"Quando você segura o choro, seja por qual motivo for, somatiza aqueles sentimentos e, de alguma forma, aquilo terá de ser colocado para fora. Muitas vezes, se manifesta como uma dor de cabeça. Também pode se transformar em doenças comuns do estresse, como queda de cabelo, herpes, gastrite etc.", diz.

Apesar do preconceito ainda predominante nos locais de trabalho, Marcia afirma que ter o domínio das emoções tem sido cada vez mais valorizado em processos seletivos. "Essa característica, chamada de inteligência emocional, é mais estimada até do que a cognitiva, já que você pode treinar uma pessoa capacitada que não tem experiência. Mas se um profissional não consegue se relacionar com os demais, o problema é mais difícil de ser resolvido". 

A psicóloga fala, ainda, que, quando você se emociona, não deve ter sua imagem ligada a algo ruim. Somos seres humanos e, por isso, é praticamente impossível não demonstrar reações.

Felizmente, desvincular o seu papel corporativo do pessoal é uma ideia ultrapassada, e o conceito de que somos uma pessoa só já está mais disseminado entre os gestores. Isso deve fazer com que mais profissionais compreendam que demonstrar emoções é inevitável e não desmerece uma trajetória profissional. 

"Os problemas de casa vão te acompanhar no trabalho e vice-versa. Não dá para separar. Quando aceitamos isso, conseguimos viver muito melhor em ambas as áreas da vida", finaliza Marcia.