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Fazer sexo todos os dias é possível atualmente? Leia, vote e opine

Especialistas acreditam que internet influencia na vida sexual dos casais - Getty Images
Especialistas acreditam que internet influencia na vida sexual dos casais Imagem: Getty Images

Yannik D'Elboux

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/03/2015 07h55

Quantas vezes você fez sexo nesta semana? Mesmo entre os casais mais empolgados, a resposta, dificilmente, ultrapassa três relações sexuais. Falta de tempo, cansaço e o ritmo profissional intenso consomem muita energia e minam o desejo. 

"O estresse do dia a dia acaba gerando desencontros. Antes, as pessoas trabalhavam mais perto das suas casas, tinham um convívio mais próximo e namoravam mais", diz a psicóloga e sexóloga Arlete Gavranic, coordenadora da pós-graduação em Terapia Sexual do Isexp (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática).

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Pelo que Arlete observa em seu consultório, fazer sexo todos os dias não é uma completa utopia nos relacionamentos da atualidade, porém algo bastante raro. "Alguns casais ainda mantêm esse hábito, mas é a minoria", afirma a sexóloga.

Menos sexo e mais internet

Na pesquisa mais recente sobre o comportamento sexual do brasileiro, a “Durex Global Sex Survey”, com dados coletados em 2012 de 1004 participantes com idade entre 18 e 65 anos, somente 5% das mulheres e 12% dos homens disseram praticar sexo diariamente.

Nos maiores levantamentos já realizados no Brasil pelo Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade), ligado à USP (Universidade de São Paulo), em 2003 e 2008, a frequência sexual média da população aparece como sendo de duas a três vezes por semana.

Não existem dados históricos comparativos a respeito da frequência sexual do brasileiro, portanto não há como saber com precisão se o ritmo entre os lençóis está mesmo diminuindo, mas muitos estudiosos de sexualidade acreditam que, no passado, os casais transavam com mais frequência.

Na Grã-Bretanha, a queda na quantidade de relações sexuais nas últimas três décadas ficou evidente nos números revelados pela Pesquisa Nacional de Atitudes Sexuais e Estilo de Vida, envolvendo cerca de 15 mil pessoas. Conforme o estudo, a população de 16 a 44 anos de idade passou da média de cinco atos sexuais por mês em 1990 para quatro em 2000 e somente três em 2010.

Segundo Cath Mercer, da University College London, em Londres (Inglaterra), responsável pela pesquisa, a redução é decorrente, em parte, da diminuição na porcentagem de pessoas que moram com um parceiro, contudo esse fato não explica tudo. “Também observamos um declínio na frequência sexual entre pessoas que vivem com um parceiro”, constata.

A mudança no comportamento dos britânicos, segundo a pesquisadora, é similar à encontrada em estudos com outros países desenvolvidos, como Austrália e Estados Unidos. Apesar das causas não terem sido investigadas, Cath acredita que homens e mulheres estejam fazendo menos sexo em razão do estilo de vida contemporâneo. “Tem sido sugerido que o declínio é por causa do aumento das pressões sobre o tempo das pessoas, inclusive devido à presença crescente da internet”, diz.

Arlete Gavranic concorda que o uso excessivo da tecnologia impacta negativamente na vida sexual dos casais. Além do tempo, a sexóloga observa que as redes sociais, por exemplo, podem roubar parte da libido. "As pessoas buscam parceiros interessantes, reencontrando outras e isso é um investimento de libido que está sendo direcionado para outra área e não para a relação”, analisa.

Quantidade e qualidade

A ginecologista Fabiene Vale, coordenadora do Ambulatório de Sexologia do Hospital das Clínicas de Minas Gerais, prefere não entrar na discussão sobre a viabilidade de manter relações sexuais cotidianamente nos tempos atuais. “O importante na vida sexual de um casal é a qualidade da relação, não a frequência do ato sexual”, enfatiza.

Nos relacionamentos prolongados, segundo a médica, a ausência de novidade acaba mesmo diminuindo o interesse e a motivação sexual, o que leva a uma menor frequência nas relações. “O casal deve fugir da monotonia sexual: no mesmo local, do mesmo jeito e na mesma hora”, sugere Fabiene.

Se houver um clima de namoro, sedução e cumplicidade, a psicóloga Arlete Gavranic diz que o casal deve dedicar mais tempo à vida a dois e ao sexo. “Existem pessoas que vivem o momento sexual só como descarga de tensão”, explica.

Para os casais que ainda se gostam, mas estão transando pouco, Arlete acredita que o caminho é adquirir hábitos que aproximem, como tomar banho ou cozinhar junto ao chegar em casa, antes de pegar o tablet ou celular, estabelecer um dia para sair e namorar, fazer massagem um no outro etc. “Pequenas adequações na rotina fazem com que essa aproximação promova um desejo mais frequente”, justifica.

Homens e mulheres ainda costumam apresentar diferenças com relação à expectativa de quantidade de relações e à maneira de lidar com o sexo no dia a dia. Apesar das queixas não serem mais exclusividade deles, são mais frequentes entre eles. “Os homens diante do estresse dia a dia necessitam do sexo para relaxamento; as mulheres precisam estar relaxadas para ficarem dispostas a uma relação sexual", fala Fabiene Vale.

Se servir como alento, apesar da frequência sexual estar em declínio na Grã-Bretanha e em outros países desenvolvidos, a vida sexual tem durado mais. “A maioria da população britânica relatou fazer sexo bem até a faixa dos 70 anos”, diz  Cath Mercer.