Topo

Mulheres traem tanto quanto homens nas novas gerações

A traição entre homens e mulheres é similar nos casais jovens, exceto em países asiáticos - Lumi Mae/UOL
A traição entre homens e mulheres é similar nos casais jovens, exceto em países asiáticos Imagem: Lumi Mae/UOL

Yannik D'Elboux

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/04/2015 07h50

A ideia de que os homens são mais infiéis do que as mulheres já não é uma percepção tão apurada nos dias de hoje. Entre os mais novos, a porcentagem daqueles que assumem que traem costuma ser bem parecida nos dois sexos.

  • 42411
  • true
  • http://mulher.uol.com.br/comportamento/enquetes/2015/04/02/voce-ja-foi-infiel.js

"A traição entre homens e mulheres é similar nos casais jovens, exceto em países asiáticos, onde o valor da mulher é baseado na pequena quantidade de experiências sexuais ou virgindade", explica a pesquisadora Pepper Schwartz, professora de Sociologia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Segundo Pepper, que é coautora do livro “The Normal Bar: The Surprising Secrets of Happy Couples” (“O Padrão Normal: Os Surpreendentes Segredos dos Casais Felizes”, em tradução livre, sem edição em português), baseado em dados de cerca de 100 mil pessoas, entre os mais velhos, sobretudo depois dos 40 ou 50 anos, o comportamento fica acentuadamente mais frequente entre os homens. "A traição masculina é três a quatro vezes mais comum nesses casos", afirma.

Os poucos números que existem no Brasil a esse respeito corroboram as observações da professora norte-americana. Na faixa etária acima dos 60 anos, 66,2% dos homens admitiram ter sido infiéis pelo menos uma vez na vida contra 21% das mulheres, conforme dados do levantamento Mosaico Brasil, com 8.200 entrevistados, realizado em 2008, que está sendo atualizado.

Já entre os indivíduos de 18 a 25 anos, a diferença diminui consideravelmente: 49% das mulheres dizem ter traído em comparação a 65% dos homens na mesma idade. No site de relacionamentos extraconjugais Ashley Madison, com 3 milhões de usuários no Brasil, há uma mulher para cada homem cadastrado na faixa etária dos 20 aos 40 anos.

Segundo Eduardo Borges, diretor geral da rede no Brasil, em 2011, no início das atividades, a porcentagem de homens nessa faixa ainda era mais alta, em torno de 65%. “Conforme o site foi crescendo, percebemos um aumento de mulheres procurando pelo serviço”, diz.

Porém, entre os mais velhos cadastrados no Ashley Madison, a infidelidade continua sendo um comportamento predominantemente masculino. “A partir dos 50 anos de idade, temos 14 homens para cada mulher", diz Borges.

Infidelidade feminina

Se as mulheres mais jovens têm quase a mesma tendência a serem infiéis que os homens, isso se deve, principalmente, a maior igualdade entre os gêneros, conquistada nas últimas décadas. Com maior autonomia e liberdade, ficou mais fácil alimentar os anseios e desejos.

"Hoje em dia, elas têm muito mais oportunidades e possibilidades, inclusive no que diz respeito à busca por uma vida afetiva e sexual satisfatória", afirma a antropóloga Maria Silvério, investigadora do CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia), em Lisboa (Portugal), e autora do livro “Swing: Eu, Tu...Eles” (Chiado Editora).$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2014/08/09/voce-e-capaz-de-trair.htm')

Maria conta que, antigamente, muitas mulheres permaneciam casadas porque não tinham outra opção, não trabalhavam nem tinham recursos próprios e suas vidas estavam inteiramente atreladas à do marido. “Isso, provavelmente, dificultava a infidelidade feminina", acredita.

As leis que facilitaram o divórcio e descriminalizaram o adultério, em diferentes partes do mundo, também contribuíram para diminuir o medo delas de trair. Mas não foi apenas isso que mudou. "As mulheres viajam mais, estão mais no escritório e têm oportunidade de encontrar alguém, mantendo essa experiência longe dos seus maridos e de suas famílias", acrescenta Pepper Schwartz.

Entre os casais homossexuais, a pesquisadora norte-americana observa que os homens tendem a permitir com mais facilidade relações sexuais extraconjugais. Já as lésbicas costumam ser menos propensas a aceitar esse comportamento. “Se elas traem, é muito mais provável que seja sério e se transforme em uma relação concorrente à vida do casal”, diz Pepper.

Há casais, porém, em que as pessoas envolvidas têm relações extraconjugais e isso não significa infidelidade. Depende do acordo que o casal estabeleceu. Se o combinado é que cada um pode ter parceiros fora do relacionamento, não há traição.

Quem trai?

Não se pode traçar um perfil de indivíduo mais suscetível a ser infiel. Porém, o médico e psicanalista Mauro Hegenberg, supervisor do NAPC (Núcleo de Atendimento e Pesquisa da Conjugalidade e da Família) do Instituto Sedes Sapientiae,  afirma que hábitos familiares e culturais induzem a comportamentos que se repetem. "Por conta disso, mesmo em casamentos onde a convivência vai bem, a infidelidade pode ocorrer", diz.

No estudo para o livro “The Normal Bar”, Pepper e os autores Chrisanna Northrup e James Witte apuraram que 27% dos casais mais felizes também traíram. Os motivos alegados foram variados, desde a necessidade de aventura ou um novo parceiro até a vontade de se sentir sexy. "Algumas vezes, isso não tem nada a ver com a condição do casamento, se é bom ou ruim", fala Pepper.

Nas pesquisas do site Ashley Madison, segundo Eduardo Borges, fazer sexo com uma mulher mais jovem é o objetivo número um dos homens inscritos. Entre o público feminino, os motivos para a infidelidade, além do sexo, vão desde vingança à carência de afeto.

Apesar de estarem se igualando nos números, pelo menos entre as novas gerações, as puladas de cerca não são vistas da mesma forma em ambos os sexos.

"A infidelidade masculina ainda é mais aceita do que a feminina, pois quando o homem trai isso é considerado normal”, diz Maria Silvério. Já os deslizes das mulheres nem sempre são socialmente perdoáveis na mesma proporção que os dos homens. "O peso de ser ‘corno’ no Brasil ainda atua com muita força sobre os homens, como uma ameaça à masculinidade", explica a antropóloga.