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Nu de Stênio é tapa na cara do preconceito contra vida sexual do idoso

Stênio Garcia e a mulher foram à delegacia para depor sobre o caso - Marcello Sa Barretto/AgNews
Stênio Garcia e a mulher foram à delegacia para depor sobre o caso Imagem: Marcello Sa Barretto/AgNews

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

02/10/2015 18h02

 

Stênio Garcia, 83, e a mulher, Marilene Saade, 47, foram surpreendidos, na terça-feira (29), com a notícia de que fotos em que apareciam nus haviam vazado na internet. Além de terem a intimidade exposta, os dois, desde então, passaram a ser alvo de comentários maldosos nas redes sociais e nos sites de notícias. "O velho tá só o pó da rabiola", " o cara estava na sacanagem, mas é um senhor já" e "o povo que devia processar vocês por divulgar aquelas imagens, meus olhos sangram" foram algumas das manifestações geradas com o episódio. Segundo os especialistas ouvidos pelo UOL Comportamento, a reação deixa claro o preconceito contra a vida sexual do idoso.

A visão do idoso aposentado, encostado e recluso ainda é muito presente no inconsciente da sociedade do que pessoas mais velhas curtindo a vida e sendo sexualmente ativas. “O preconceito, com certeza, é maior por eles serem um casal mais velho. Se fosse com alguém jovem, os comentários não passariam de curtição”, afirma Beltrina Côtre, coordenadora e assessora do mestrado de gerontologia social da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Segundo Beltrina, o que acontece no Brasil é uma inversão de valores. A vítima passa a ser tratada como culpada da situação. “Os comentários maldosos deveriam focar naquele que invadiu a privacidade do casal, independentemente da idade, e veiculou essas imagens, que só interessavam a eles.”

Para a psicóloga Raquel Staerke, professora do Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro, a questão mais grave e lamentável desse episódio não é só o preconceito, mas, sim, a insensibilidade atual da humanidade.

“O Stênio e a mulher não tiveram intenção de expor a intimidade deles, e as pessoas não conseguem reconhecer o sofrimento que o casal deve estar passando. A sociedade está se distanciando da solidariedade e do altruísmo”, fala Raquel.

30.set.2015 - Fotos em que o ator Stênio Garcia, de 83 anos, aparece completamente nu ao lado da mulher, Marilne Saade, de 47 anos, deram o que falar na web. Mas o ator não está preocupado com as críticas. Em entrevista à revista "Quem", ele falou sobre a repercussão das fotos íntimas: "A gente brinca mesmo como todo casal saudável e não tenho problemas com isso. Estava com a minha mulher e não com a mulher de outra pessoa. Que problema tem isso? Não tenho motivo para ter vergonha". O post teve mais de 300 curtidas e cem comentários - Reprodução - Reprodução
A foto do casal nu foi alvo de comentários maldosos
Imagem: Reprodução

Aurélio Melo, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, afirma que o fato de a internet ainda garantir uma certa forma de anonimato faz com que esses comentários maldosos se multipliquem. "Muita gente comenta coisas na rede que não diria na vida real, se precisasse se identificar.”

Ditadura da beleza

Muito abalada com ocorrido, Marilene também teve sua forma física duramente criticada na web. “Historicamente, a mulher é julgada por tudo que lhe diz respeito. Como ela se comporta, conduz uma relação, educa o filho, insere-se no mercado de trabalho... Além disso, existe a ditadura da estética a que todas as mulheres são submetidas”, afirma Raquel.

Mas para a professora do Centro Universitário Celso Lisboa, os homens também não passam incólumes por essas críticas. “A diferença é que, enquanto a mulher é cobrada pela forma física, o homem sofre preconceito pela sua capacidade de ereção, pois essa virilidade do pênis é o que o legitima como macho”, fala a especialista sobre os comentários depreciativos ao órgão sexual do ator. 

Beltrina espera que o culpado por ter vazado as imagens do casal seja punido, mas também não descarta que o episódio possa ter efeitos positivos para aqueles casais mais velhos que já tinham desistido da vida sexual.

“A pessoa pode pensar: ‘se ele pode, eu também posso’ e rever sua condição ante ao diferente. O Stênio mostra ao mundo que ele pode ser velho, mas não morreu, que ainda tem prazer com a pessoa que ama. Tomara que todos nós cheguemos na idade dele com essa mesma paixão", fala assessora do mestrado de gerontologia social da PUC.