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Mulher gosta de sexo tanto quanto homem, mas desejo feminino 'flutua' mais

O ímpeto sexual é igual, mas o desejo feminino pode ser afetado por múltiplos fatores - Getty Images
O ímpeto sexual é igual, mas o desejo feminino pode ser afetado por múltiplos fatores Imagem: Getty Images

Yannik D´Elboux

Colaboração para o UOL

17/12/2015 07h05

Existe a crença popular de que os homens têm mais vontade e necessidade de sexo do que as mulheres. Porém, do ponto de vista médico, essa ideia está equivocada. “Não é verdade que os homens possuem uma libido maior, é igual”, diz o ginecologista Gerson Lopes, coordenador do Departamento de Medicina Sexual do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte.

Contudo, segundo o médico, existe diferença no que se refere a libido espontânea. “A maioria das mulheres tende a perder o desejo espontâneo com o tempo, em relacionamentos estáveis”, afirma.

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O desejo sexual masculino não costuma sofrer alterações significativas, mesmo nas relações mais longas. Entre as mulheres, a libido espontânea, que surge sem estímulo, é maior em três situações: início de relacionamento ou novo parceiro, reatamento após alguma briga e em determinados períodos do ciclo menstrual.


Se não houver problemas fisiológicos, como alterações hormonais, e psicológicos, desde abusos até repressões, o ponto de partida do interesse sexual é o mesmo em ambos os gêneros. Porém, em razão de aspectos sociais e culturais, a expressão do desejo nem sempre acontece da mesma forma. 

Em um estudo acerca das diferenças e similaridades de gênero no desejo sexual, as pesquisadoras Meredith Chivers e Samantha Dawson, do Departamento de Psicologia da Universidade Queen´s, em Ontário, no Canadá, perceberam que a maneira de investigar o assunto também interfere nos resultados. “O desejo sexual emerge similarmente em mulheres e homens, mas há fatores que podem influenciar as diferenças de gênero observadas”, declara Meredith.

Na pesquisa, publicada no ano passado, as canadenses destacam aspectos que impactam o desejo feminino --como sintomas pré-menstruais e normas sociais-- e que influenciam as respostas das mulheres nos estudos, o que não acontece com os homens. “Isso pode criar uma falsa diferença de gênero”, fala Meredith.

Esse problema de metodologia poderia ser uma das explicações para a prevalência de disfunções sexuais ligadas ao desejo na população feminina.

Mais intimidade

Apesar do ímpeto sexual ser o mesmo, a resposta feminina está mais suscetível a múltiplos fatores que afetam o desejo. “Parece que os homens estão sempre dispostos para o sexo”, afirma o psiquiatra Giancarlo Spizzirri, médico do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP (Universidade de São Paulo).

No caso das mulheres, além dos aspectos fisiológicos, como as diferentes fases do ciclo menstrual, também existe o forte impacto dos valores sociais e culturais. “Ser mulher está associado a uma série de repressões”, diz o médico.

Geralmente, os homens, em razão da cultura que estimula a virilidade masculina, têm menos dificuldades em lidar com a sexualidade e exprimir seus anseios. “As mulheres precisam de intimidade para se sentirem à vontade”, declara o médico do Prosex.

Desejo responsivo

Nas últimas décadas, a concepção de como funciona o ciclo de prazer foi modificada pela medicina sexual. Antes, prevalecia a ideia de que esse sistema seguia a ordem linear: desejo, excitação, orgasmo e resolução. Atualmente, leva-se em conta um modelo circular, em que o desejo pode ser responsivo, ou seja, mesmo não existindo uma vontade inicial é possível provocá-lo. 

O desejo responsivo aplica-se bem às mulheres, que mesmo perdendo a libido espontânea são capazes de se excitarem se receberem estímulos sexuais adequados. “Partindo de um estado de neutralidade, a mulher responde a esses estímulos e acaba despertando o desejo”, fala Gerson Lopes.

Em seu estudo, Meredith Chivers afirma, com base nas pesquisas disponíveis nesse campo, que o desejo responsivo também se manifesta de forma semelhante em homens e mulheres. “Considerar o desejo como responsivo pode ser útil do ponto de vista terapêutico para tratar pacientes com dificuldades sexuais”, fala.