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Romance em horário de expediente: empresas aceitam e até 'protegem' casais

Mila Moreira e Eduardo Turolla têm "escalas casadas" para poderem estar juntos - Arquivo Pessoal
Mila Moreira e Eduardo Turolla têm "escalas casadas" para poderem estar juntos Imagem: Arquivo Pessoal

Beatriz Vichessi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/04/2016 07h15

Foi-se o tempo que namorar alguém do trabalho era proibido ou mal visto. Hoje, há empresas que não só aceitam como também facilitam a vida dos casais.

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Na Gol Linhas Aéreas Inteligentes, profissionais que se relacionam com colegas podem solicitar a “escala casada”. O que significa que podem voar juntos e dividir o mesmo quarto de hotel, em caso de pernoite no destino.

Noiva do copiloto Eduardo Turolla, 29, a chefe de cabine Mila Moreira, 34, afirma que a “escala casada” é o melhor benefício que a Gol poderia lhe dar.

“Durante os voos, mantemos uma postura profissional e, antes da decolagem, sempre deixo claro para a tripulação que voamos em ‘escala casada’. Assim, evitamos qualquer situação constrangedora, como alguém falar para ele alguma coisa a meu respeito, fazer alguma gracinha”, diz Mila.

O Banco do Brasil é outra empresa que vê com naturalidade relacionamentos entre integrantes. Namorada de Wmarlei Pires, 32, auditor júnior, a assessora da área de educação corporativa do banco Danielle Alves, 28, sentiu-se segura para assumir o relacionamento na instituição financeira, mas procura adotar certos cuidados de conduta.

“No início, trabalhávamos na mesma gerência, em projetos diferentes. Trocávamos muitas informações no dia a dia.  Atualmente, ele está em outra área. Só andamos de mãos dadas ou temos outras manifestações de carinho da porta do trabalho para fora”, fala Danielle.

No banco, só não pode haver relação de subordinação entre o casal. Se houver, é estudada a mudança de função de uma das partes. O mesmo acontece na Gol.

Danielle diz que é bom saber que no banco, quando um dos pares é transferido para outra região do Brasil, os gestores consideram transferir o outro, se forem casados. “É uma preocupação a menos para o nosso futuro, nem precisamos pensar a respeito caso isso venha ocorrer quando estivermos casados.”

No Westwing, clube de compras de casa e decoração on-line, os funcionários que namoram ou são casados também têm liberdade para trabalhar juntos. Inclusive, algumas pessoas indicaram o namorado para uma vaga no e-commerce, o que é aceito pela chefia.

É o caso do casal formado pelo analista comercial Leonardo Pimentel Conceição, 23, e a assistente de compras Nágilla Nery, 23.

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“Nágilla começou a trabalhar no Westwing antes de mim. Quando fui fazer a entrevista para a vaga, já fui apresentado às pessoas como namorado dela. Depois que fui contratado, a única coisa que foi pedida para nós é separar o relacionamento pessoal do profissional. O chefe explicou a importância de não nos comportarmos como um casal no ambiente de trabalho. E é exatamente o que fazemos. Temos funções diferentes e ela já fez o que faço hoje em dia. Então, ela me ajuda às vezes. Sinto que rendemos mais porque estamos juntos”, conta Conceição.

Limites legais

Embora diversas empresas, como as citadas nesta reportagem, não tenham problemas em manter funcionários que se relacionam afetivamente, é fato que algumas ainda adotam a política de proibição de relacionamento entre funcionários, com regras verbais ou escritas.

Mesmo não existindo lei no Brasil que trate sobre o tema, os tribunais trabalhistas têm considerado ilegal a conduta de empregadores que proíbem esse tipo de relacionamento.

“A proibição viola alguns dos direitos fundamentais dos trabalhadores, como liberdade de trabalho, não discriminação e os direitos à intimidade e à vida privada. Além do mais, essa proibição revela abuso do direito diretivo do empregador, o que é veementemente repudiado", declaram Zilma Aparecida da Silva Ribeiro, sócia responsável pela área trabalhista do escritório A. Lopes Muniz Advogados Associados, em São Paulo, e Juliana Campão Roque, advogada sênior do mesmo escritório.

Caso um trabalhador venha a ser demitido por namorar ou ser casado com um colega de trabalho, pode mover uma ação trabalhista para discutir a legalidade da dispensa e requerer indenização por danos morais.

No entanto, o empregador que libera relacionamentos afetivos entre funcionários pode exigir deles condutas que não comprometam o desempenho das atividades nem os resultados esperados.

"A empresa tem direito de estabelecer regras para coibir práticas que levem, por exemplo, a favorecimentos ilícitos, como um diretor que promove indevidamente sua mulher e subordinada. Dependendo da gravidade do caso, a empresa pode aplicar sanções disciplinares, como advertências e suspensões, e até dispensar o funcionário por justa causa", afirmam Zilma e Juliana.