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Sem medo da crise: 6 perguntas para se fazer antes de morar fora

Aos 20, Rafael Santos lavava pratos em Londres; hoje tem seu próprio negócio - Arquivo Pessoal
Aos 20, Rafael Santos lavava pratos em Londres; hoje tem seu próprio negócio Imagem: Arquivo Pessoal

Andrezza Czech

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/04/2016 07h15

Filho de um pescador e de uma dona de casa, Rafael dos Santos saiu do Brasil aos 20 anos. Mudou-se para Londres, na Inglaterra, em 2001, e, depois de lavar muitos pratos, começou seu próprio negócio.

“Em 2003, gerenciei uma casa para um senhor. Vi que isso dava dinheiro e lancei minha própria agência (de aluguel de imóveis). De uma casa, passei para 50, e o faturamento chegou a 1,2 milhão de libras”, fala Santos.

O negócio foi vendido em 2014 e, no ano seguinte, ele lançou o mi-HUB, projeto que ajuda imigrantes a estruturarem a própria empresa. Em fevereiro deste ano, Santos figurou entre os cem empreendedores mais inspiradores do Reino Unido na lista do jornal “The Sunday Times”.

Um ano após se formar, Roberta Weber foi para a Itália; hoje, vive em Londres - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Um ano após se formar, Roberta Weber foi para a Itália; hoje, vive em Londres
Imagem: Arquivo Pessoal

Assim como ele, a empresária Roberta Weber também decidiu largar tudo e mudar de país. Em 2010, um ano após se formar em relações públicas na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), ela terminou um namoro, despediu-se da família e foi à Itália, onde ficou por cinco meses. Depois, mudou-se para Madri e, em um momento de crise na Espanha, conseguiu trabalhar como garçonete em uma grande sorveteria, da qual virou gerente. Desde 2013, Roberta vive em Londres, onde fundou a Steps to Fly, consultoria que ajuda pessoas a realizar o sonho de morar fora.

Assim como Santos e Roberta, muitos querem experimentar viver em outro país e conquistar sucesso profissional. Mas, com a crise e a alta do dólar, esse plano precisa ser adiado?

“Com o aumento do desemprego, essa pode ser uma oportunidade. Aproveitar uma demissão para morar fora é um movimento arriscado, mas pode valer a pena”, diz o especialista em finanças pessoais e educação financeira André Massaro, professor do Instituto Educacional BM&F Bovespa.

Para minimizar os riscos dessa decisão, veja o que é importante se questionar antes de fazer as malas.

1 – Por que quero ir?

Em seu livro “Mudando de País – Um Passo de Cada Vez” (Clube de Autores), Santos afirma que o primeiro passo é entender por que você quer mudar.  “Pense no objetivo da sua viagem. Ter uma meta faz as horas difíceis valerem a pena.”

2 – Estou com tempo para planejar tudo?

“Leia bastante sobre o país, ouça vídeos de especialistas e de pessoas que moram por lá, veja possibilidades de trabalho, pesquise sobre cursos, saiba quanto dinheiro você precisa e se prepare emocionalmente”, diz Roberta. Para Santos, ter sucesso morando fora não é algo que acontece por acaso e, sim, com muito planejamento. “Aprenda a fazer um orçamento. Você só se dá bem se planejar a viagem”, diz ele. Para quem fica na dúvida sobre comprar moeda estrangeira de uma vez ou aos poucos, Massaro dá a dica. “Se você tem a quantia total, compre já para não ficar refém dos movimentos especulativos do mercado da moeda.”

3 – Qual a possibilidade de retorno profissional?

Encarar essa mudança como um investimento em seu futuro profissional é fundamental. Por isso, cursos de especialização são mais recomendados para quem quer passar um tempo fora. “Fazer um intercâmbio não é barato, ainda mais com a atual situação cambial. Vale pensar quanto está se investindo nisso e qual a possibilidade de retorno em tempo real ou quando voltar ao país”, diz Massaro. Para quem deseja apenas estudar línguas, é necessário escolher bem. “Estudar inglês ou espanhol, que são as línguas mais requeridas no mercado de trabalho brasileiro, provavelmente trará benefícios”, fala o especialista em educação financeira.

4- Tenho um bom nível de idioma para fazer curso de especialização?

Não adianta almejar uma pós-graduação se ainda é preciso investir mais na fluência do idioma local. “Para fazer uma pós ou mestrado você vai ter de demonstrar que fala fluentemente. As faculdades não aceitam estudantes que não atendam esse requisito, pois eles não irão conseguir acompanhar as aulas”, afirma Santos.

5 – Tenho reserva financeira para quando voltar?

Quem pretende retornar ao país depois de um tempo precisa ter uma quantia reservada para não passar por apuros até conseguir voltar ao mercado de trabalho. “Não se sabe como vai estar a economia local ao voltar. É prudente que a pessoa tenha essa segurança”, declara Massaro.

6 – Estou preparado para enfrentar os desafios?

“As dificuldades são constantes. E, uma vez que você supera os desafios e se estabiliza, aparecem novos, como conseguir um emprego melhor. Mas nada substitui essa experiência. É fantástica”, diz Santos. Roberta também incentiva a mudança. “Não existe nada mais enriquecedor do que descobrir novos lugares, culturas, idiomas e, principalmente, a autodescoberta que essa experiência proporciona.”