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Tarefas domésticas estimulam autoconfiança e o senso de colaboração das crianças

Para Renata Sanches, pedagoga e mãe de três filhas, quando a criança aprende que dá trabalho manter o quarto arrumado e a sala organizada, provavelmente aprenderá também a manter as coisas em ordem  - Marcos Zanutto/UOL
Para Renata Sanches, pedagoga e mãe de três filhas, quando a criança aprende que dá trabalho manter o quarto arrumado e a sala organizada, provavelmente aprenderá também a manter as coisas em ordem Imagem: Marcos Zanutto/UOL

Gabriela Horta*

Do UOL, em São Paulo

30/08/2012 21h20

Aos 6 anos, as gêmeas Sophia e Luiza guardam os brinquedos depois de usar e sabem que devem  colocar a roupa usada dentro do cesto de roupa suja. A irmã mais velha, Stephanie, 9 anos, além de fazer o mesmo que as caçulas, mantém o quarto sempre em ordem, ajuda a mãe a arrumar a mesa antes e depois das refeições e dá uma força na hora de atender o telefone de casa. “A criança deve aprender a fazer, para respeitar o serviço do outro”, defende Renata Sanches, pedagoga, mãe das três meninas. “Quando ela aprende que dá trabalho manter o quarto arrumado, a sala organizada, provavelmente aprenderá também a fazer menos sujeira e manter as coisas em ordem”, acredita.

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Para Adriana Friedman, educadora e antropóloga, especialista na área da infância, Renata está certa. “Ajudar nas tarefas de casa faz parte da educação para a vida”, afirma. Os benefícios? São muitos, porque nessas situações se aprende disciplina, solidariedade, descobrem-se novas habilidades, aprende-se a prevenir acidentes, compreende-se a importância da higiene cotidiana e assimila-se, é claro, valores de organização.

Além do mais, “estar ao lado dos pais -seja dos dois ou de um deles- e fazer algo que não pertence apenas ao universo infantil, proporciona uma sensação de autoconfiança e, consequentemente de autoestima fortalecida”, destaca Karen Ambra, pró-Reitora comunitária e coordenadora da brinquedoteca do Unifai (Centro Universitário Assunção). Nessas horas, o vínculo com a família é fortalecido pelo convívio, pelo sentimento de união, uma vez que estarão realizando algo em comunhão. “Atribuir responsabilidade à criança no que se refere à manutenção de um espaço que é compartilhado confere um sentimento de cuidado pelo que é de todos e não só dela”, explica Karen.

  • Marcos Zanutto/UOL

    A pedagoga Karina Bataglia respeita as diferenças de idade dos filhos Giovani (à dir.), 5 anos, e Lucas (à esq.), 13, na hora de escolher os deveres para cada um

Uma responsabilidade para cada idade
Se a criança pode ajudar em casa, então é importante saber que a cada idade a participação deve ser de um jeito diferente, de acordo com seu desenvolvimento. A pedagoga Karina Bataglia, mãe de Giovani, 5 anos, e Lucas, 13, respeita as diferenças de cada um dos filhos em relação à faixa etária. “Procuro agir da forma mais justa possível, colocando deveres e obrigações aos dois. Mas, na medida em que o tempo passa, a criança vai melhorando suas habilidades, então com o mais velho já começamos a atribuir mais responsabilidades”, explica.

Quer incluir seu filho nas tarefas de casa? Vejas as dicas sobre as atividades e responsabilidades ideais para cada faixa de idade da criança nas abas abaixo.

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Ajudante, mas não empregado
“O que pertence à casa, de maneira geral, deve ser uma tarefa obrigatória para os pais e optativa para a criança”, alerta Karen. Por esse viés, a obrigação está somente em arrumar o que é dela, como organizar os brinquedos e guardá-los após o uso, e evitar deixar roupas espalhadas, tirar os sapatos e deixa-los pelo caminho, e jogar o lixo em local inadequado. “Sem dúvida os limites são necessários. As tarefas não devem ser colocadas para a criança dentro de uma rotina, como uma atividade permanente”, ensina.

A educadora Adriana Friedman dá outra dica: “é importante estipular qual será, a cada vez, a tarefa solicitada, combinar antes”. Assim, a criança já sabe antecipadamente o que será feito e, se for o caso, pode até negociar fazer algo de que goste mais naquele dia.

Para Renata Sanches, mãe de Sophia, Luiza e  Stephanie, os pais nunca devem apresentar a tarefa como forma de punição, mas, sim, como uma aquisição de autonomia, sempre incentivada como reconhecimento do que os filhos já têm capacidade de fazer. Outro ponto importante é demonstrar satisfação com a cooperação. “Às vezes eles reclamam [de realizar as tarefas], mas, no final, sempre os elogiamos, o que faz com que se sintam importantes e felizes”, diz Karina Bataglia, mãe de Giovani e Lucas.

  • Marcos Zanutto/UOL

    "Sempre elogiamos os filhos após as tarefas, o que faz com que eles se sintam importantes e felizes”, diz Karina, mãe de Giovani

De olho na segurança
De acordo com dados da ONG Criança Segura, 70% das hospitalizações infantis são causadas por acidentes dentro de casa. “É por isso que a realização de toda atividade doméstica deve sempre ter a orientação e a supervisão de um adulto”, diz Alessandra Françóia, coordenadora nacional da entidade. Ensinar que vidro quebra e os cacos cortam, que vapor d’água queima, eletricidade dá choque e que se deve ter cuidado com produtos e equipamentos é papel do responsável pela criança, que já conhece os riscos.

"Esse discernimento não é da criança, mas dos adultos - e é do mundo adulto cuidar de criança”, afirma. Assim, não delegue para a criança a responsabilidade de se cuidar e não a culpe caso ela se machuque com frases do tipo ‘eu não te falei que você ia se machucar?’. "A criança não é um adulto pequeno", diz Alessandra Françóia, "ela é um ser em desenvolvimento, e precisa de cuidados."

Com segurança, discernimento e reconhecimento do esforço dos filhos por parte dos pais, a participação nos afazeres domésticos pode, sim, se tornar uma atividade prazerosa para as crianças. Elogiar e sempre conversar com elas sobre a importância que elas têm dentro da família fará com que se sintam confiantes e competentes, qualidades essenciais para a vida adulta. “Não se trata, portanto, de questionar se os pais podem pedir ajuda às crianças, mas de constatar que eles devem, sim, incluí-la nos afazeres domésticos”, finaliza Karen Ambra.

*Com colaboração de Fernanda Alteff