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Gestante deve tomar cuidado com a ingestão de alimentos crus, mas sem paranoia

Higienizar muito bem os alimentos crus é a maneira mais segura de evitar infecções - Thinkstock
Higienizar muito bem os alimentos crus é a maneira mais segura de evitar infecções Imagem: Thinkstock

Katia Deutner

Do UOL, em São Paulo

01/10/2012 07h10

O senso comum diz que mulher grávida não pode passar vontade de comer nada, mas no dia a dia –por implicações na saúde da gestante e do feto– a história é bem diferente. É importante que a mulher tome cuidado com a ingestão de alimentos crus, mas sem paranoias –não há necessidade de parar de comer frutas com casca, por exemplo; elas só precisam estar bem limpas. O ponto principal é estar atenta à higiene do local onde se faz a refeição e a certeza da boa procedência dos alimentos.

Qualquer pessoa corre riscos de ter contato com alimentos preparados sem higiene, mas uma infecção alimentar em uma grávida gera mais preocupação por dois motivos: o sistema imunológico da gestante está fragilizado e tudo o que ela come reflete no feto.

"Não há problema em comer alimentos crus na gravidez. Só é necessário lembrar que o processo digestivo é mais difícil e o organismo da gestante precisa de mais enzimas para fazer a digestão", afirma Durval Ribas-Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). E o especialista diz que não é necessária uma postura alarmista. "A grávida precisa saber a origem dos alimentos, se eles estão higienizados corretamente, se foram bem armazenados ou ficaram expostos por muito tempo sem refrigeração, o que acontece, geralmente, em restaurantes por quilo", diz.

Infográfico mostra os exames que a gestante deve fazer nos nove meses

 

  • Arte/UOL

Onde moram os riscos

"O maior perigo existe se a gestante nunca teve contato com o agente chamado toxoplasma (protozoário encontrado em alimentos crus e mal-lavados), que provoca a toxoplasmose. Na maioria das vezes, essa doença se manifesta como uma gripe forte, que, na gravidez, compromete a saúde do bebê", afirma a ginecologista Rosa Maria Neme, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

A infecção pode atravessar a barreira placentária e afetar o feto, provocando graves sequelas cerebrais. "O modo mais comum de contrair a doença é a partir do contato com fezes de gatos ou quando se come carnes cruas, ou pouco cozidas, e contaminadas pelo parasita”, explica a nutricionista Roseli Rossi, especialista em nutrição clínica funcional, de São Paulo.

O toxoplasma pode ser encontrado ainda em leite não pasteurizado, ovos crus e vegetais que não foram devidamente limpos (e possam ter tido contato com fezes animais). “Quando uma grávida contrai toxoplasmose pela primeira vez, há 40% de chances de transmissão para o feto. Assim mesmo, o risco e a gravidade da infecção no bebê dependem do momento em que a mãe contrai a doença”, diz a nutricionista. Quanto mais perto do começo da gestação, mais sérias são as consequências para o feto, que pode sofrer malformações como catarata congênita, surdez, retardo de crescimento ou mental e até morte intrauterina. Para a grávida, o risco é de aborto ou parto prematuro.

A listeriose é outra doença transmitida por alimentos contaminados. Nesse caso, pela bactéria listeria. Patês crus, queijos de pasta mole –como brie, camembert e roquefort– e leites não pasteurizados e seus derivados são os principais vetores de contaminação. "Ainda pode aparecer em refeições mal cozidas, saladas e quiches (se tiver como ingrediente um queijo de pasta mole)", conta a nutricionista Tânia Rodrigues, da RG Nutri Consultoria Nutricional, de São Paulo. Se contraída, principalmente no primeiro trimestre, a listeriose pode provocar aborto espontâneo, parto prematuro ou a morte do feto.

Por fim, outra infecção alimentar que merece atenção é a salmonelose, problema provocado por diferentes espécies da bactéria salmonela, presentes em alimentos crus ou mal cozidos e contaminados por fezes. Os itens que oferecem maior risco são as carnes em geral, os ovos, o leite não pasteurizado e seus derivados e a água. "Independentemente da gravidez, todos deveriam evitar pratos com ovos crus, como maionese caseira, mousses e cremes", diz Tânia Rodrigues. A doença provoca diarreia e vômito severos na grávida e, mais uma vez, risco de parto prematuro.

O médico nutrólogo Durval Ribas-Filho, no entanto, afirma que os perigos podem ser contornados. "Se tudo o que se comer durante a gravidez passar por cuidados básicos de higiene, as possibilidades de contaminação são nulas."

Mitos e verdades

Verdade: peixes crus devem ser evitados
Os peixes podem se deteriorar facilmente quando manipulados de forma inadequada ou expostos a temperaturas impróprias. "Certos peixes têm níveis elevados de metilmercúrio, substância que causa danos neurológicos e problemas de desenvolvimento no bebê. O ideal é limitar o consumo, mesmo que cozido, a 350 gramas por semana", diz Roseli Rossi.

Verdade: carne crua ou mal passada deve ser evitada
"Podem conter microrganismos prejudiciais à saúde. Se fossem completamente cozidas, eliminariam os contaminantes e assim não haveria risco de infecções", afirma Tânia Rodrigues. Portanto, o quibe cru da cozinha árabe oferece risco, assim como o carpaccio.

Mito: é preciso tirar a casca das frutas antes de comer
"Muitas vitaminas, minerais e fibras encontram-se nas cascas ou próximas a elas. Não vale a pena tirar. O importante é lavar e higienizar corretamente", fala Tânia.

Verdade: risque a maionese caseira do cardápio
“O produto contém ovos crus –veículo que transporta as variedades de salmonela. “Esqueça também gemada e sorvete caseiro”, lista Roseli.

Mito: verduras e legumes crus são prejudiciais
“Não há problema se forem higienizados em solução de hipoclorito de sódio, seguindo as recomendações de cada fabricante. Depois, devem ser escorridos e lavados novamente em água filtrada para retirar o produto”, recomenda Roseli.

Mito: é proibido comer fora de casa
Não, se a grávida tomar alguns cuidados e souber da qualidade e das condições de higiene do restaurante.