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Como avaliar se o filho adolescente está pronto para sair à noite? Veja como conduzir essa fase

Ter confiança no adolescente é o primeiro passo antes de liberá-lo para sair à noite - Thinkstock
Ter confiança no adolescente é o primeiro passo antes de liberá-lo para sair à noite Imagem: Thinkstock

Ludmilla Ortiz Paiva

Do UOL, em São Paulo

25/10/2012 11h35

Se o seu filho adolescente começou a reivindicar o direito de sair à noite com os amigos e sua cabeça fervilha de dúvidas sobre como agir nessa fase da vida dele, o primeiro passo é encarar o momento como um passo natural para a evolução do jovem.

"Essa é uma época de transição. Há um descolamento da família para a inserção no meio social. Festas e outras saídas noturnas cumprem um papel fundamental de permitir a conquista de maior autonomia para os jovens", afirma o psicanalista Tiago Corbisier Matheus, autor do livro "Ideais na Adolescência: Falta (d)e Perspectivas na Virada do Século" (Annablume Editora).

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Para ajudar os pais de adolescentes, o UOL Gravidez e Filhos elaborou uma lista com dúvidas sobre essa fase. Elas foram respondidas pelo psicanalista Tiago Corbisier e pela psicóloga Mara Pusch, do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo):

Existe uma idade correta para começar a deixar o filho adolescente sair à noite?

É por volta dos 12 anos que começam a surgir os primeiros convites para festas de aniversário em que pai e mãe não são bem-vindos. Geralmente, as saídas noturnas passam a ficar mais frequentes nessa fase. Mas isso não significa que essa idade sirva como parâmetro para todos os núcleos familiares. Cada família tem as suas características e define suas permissões. O mais indicado é dialogar com os filhos e chegar a acordos para determinar a idade em que eles poderão começar a sair sem os pais.

Como saber se meu filho está maduro ou não para sair sozinho?

Esse amadurecimento não é algo que acontece da noite para o dia. Permitir que o filho passe a sair à noite é um processo longo que começa na infância e que tem muito a ver com o quanto você confia nele.

Quais atitudes do adolescente demonstram que posso confiar nele para sair sozinho?

São aquelas que mostram que o adolescente tem responsabilidade e que aparecem desde que ele é criança. Na infância, quando dormia na casa de amigos ou viajava com tios e avós, ele cuidava de seus pertences? Ligava de vez em quando para os pais? Esses são sinais de responsabilidade. 

Além disso, observe pequenas ações do cotidiano. Seu filho devolve o troco quando você pede para ele comprar algo? Transmite o recado se atende ao telefone e você não está? Nunca perde as próprias coisas? Coopera com as tarefas domésticas?

Se o adolescente já sai para festas, repare: ele está te esperando quando você vai buscá-lo na hora combinada? Qual é o tipo de festa? São matinês? Há consumo de bebidas alcoólicas? Como é a turma dele? São pessoas da mesma idade? Têm comportamentos parecidos com os do seu filho?


Meu filho não chegou no horário, não ligou, saiu sem avisar. O que fazer? 

Reflita sobre o ocorrido e reavalie sua decisão de permitir que ele saia sozinho. Depois, converse com o adolescente. É importante que os pais exerçam sua autoridade. Vale combinar previamente qual será o tipo de repreensão se ele trair sua confiança. E, se a falta acontecer de novo, cumpra o acordo e nada de ficar com a consciência pesada. Se a regra não foi respeitada, a punição precisa ser aplicada --e sem sentimento de culpa. 

Como conversar sobre bebidas e drogas?

Se desde a infância você e seu filho conversam bastante, é muito mais fácil. O diálogo não vai render muito se você nunca teve intimidade para conversar sobre os problemas dele ou os do seu cotidiano. É preciso ter uma relação franca para que a conversa sobre drogas e temas afins não se torne uma imposição ou uma situação constrangedora.

Uma dica é abordar o assunto quando a família está vendo TV e ele surge em algum programa. É preciso falar sem formalidades. Uma família que já mantém o diálogo aberto conseguirá conversar com muito mais naturalidade.

O que fazer se o adolescente chegou em casa alcoolizado?

Se um jovem de 13 anos chega em casa bêbado, a consequência tem de ser muito maior do que se ele tivesse 18. Com um adolescente menor de idade, os pais precisam ser bem mais rigorosos com as regras. A volta para casa pode ser antecipada e algumas saídas até devem ser cortadas. É importante lembrar que a venda de bebidas alcoólicas para menores é proibida.

Após a repreensão, os pais podem trabalhar com recompensas. Se o jovem quiser ir àquela festa tão desejada, terá de realizar algumas tarefas que exigem responsabilidade. É preciso deixar claro que você está tentando recuperar a confiança nele. Mas cuidado com a repreensão excessiva. Se ela se torna muito desmedida, vira tortura e perde o propósito.

Devo combinar um horário para meu filho voltar da balada?

Sim. É importante, principalmente, se o adolescente começou a sair há pouco tempo. De um modo geral, quanto mais jovem, mais cedo, ele deve voltar para casa. É natural que à medida que o filho demonstre ter responsabilidade, os pais sintam-se mais confortáveis em dar autonomia e deixar o horário de retorno mais livre. Quando os pais flexibilizarem o horário de chegada, devem deixar claro para o adolescente a relação direta com o bom comportamento dele. 
 


É importante levar ou buscar?

Quando os filhos são mais novos, eles devem ser acompanhados. Há situações em que é imprescindível o pai ou a mãe exercer a tarefa de buscar e levar. Principalmente quando a festa é em um lugar desconhecido. Em situações como festa no salão do prédio do amigo ou outro ambiente conhecido, os pais podem combinar um rodízio de carona com os demais pais da turma. Dessa maneira, as duas partes saem ganhando: o filho experimenta regras de outra família, e os pais, além de mais tranquilos, ficam menos sobrecarregados. No caso de pai e mãe separados, é interessante dividir a tarefa de quem leva e quem busca. Aos poucos, vá observando os sinais que seu filho dá de que tem condições de ir e voltar por seus próprios meios.

Como lidar quando o filho não quer mais a carona dos pais?

Esse comportamento é um pedido de mais espaço e autonomia. Apesar do receio dos pais, é preciso que eles reflitam se é hora de dar mais liberdade. O que o jovem quer é que o percebam como uma pessoa mais independente e menos frágil. É hora de avaliar se esse é o momento certo de conceder a tão desejada liberdade ou se ainda é cedo. Se julgar que ainda não é a hora, não ceda à pressão.

De que maneira posso abordá-lo para saber o que aconteceu na festa?

O mais indicado é deixar o jovem livre para dizer o que aconteceu, sem pressioná-lo. A maneira de perguntar também influencia na resposta. Em vez de questionar o que ele fez, pergunte como foi a noite. A conversa deve fluir, ser animada. Deixe que ele conte até o ponto que quiser.

O interrogatório é necessário apenas quando você percebe que algo errado ou ruim aconteceu. E não precisa ser na hora que o jovem chega em casa. A conversa pode acontecer no dia seguinte, por exemplo, quando todos estiverem mais calmos. E se ele não quiser falar, não significa que aconteceu mesmo algo de errado. Um conflito com os amigos ou um fora de uma paquera fazem parte da adolescência e nem sempre os jovens querem compartilhar essas situações.

É saudável sair com o filho?

Sim, desde que ele te convide. Sair com o jovem para uma balada pode ser tanto um mico para os dois como uma grande descoberta. Pais e filhos podem sair de suas posições e experimentar um laço de amizade. Festas em que não há somente adolescentes, mas pessoas de outras faixas etárias, como aniversários e formaturas, em que os pais conhecem os anfitriões e também são convidados, também podem ser vivenciadas com os filhos. Mas não exagere no número de saídas com eles. Pais precisam agir como pais, não como amigos.