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Barulho da queima de fogos pode prejudicar a audição do bebê

Conversar e dar aconchego ajuda a acalmar o bebê - Thinkstock
Conversar e dar aconchego ajuda a acalmar o bebê Imagem: Thinkstock

Rita Trevisan e Caroline Bastos

Do UOL, em São Paulo

29/12/2012 07h10

O aparelho auditivo de uma criança se forma ainda na vida intrauterina. Apesar disso, as conexões do ouvido com o cérebro vão se estabelecendo gradualmente. Assim, mesmo ouvindo bem, uma criança com cerca de um ano ainda não sabe interpretar os sons que chegam até ela. Por isso mesmo, às vezes, toma sustos com ruídos que nem são tão altos assim.

E se isso acontece quando um copo se quebra ou um cachorro late, é muito natural que a criança também se mostre irritada ou com medo ao ouvir sons repentinos e altos, como os que resultam da queima de fogos típica das festas de fim de ano.

"O máximo que o ouvido humano pode suportar é 80 decibéis. E uma queima de fogos pode produzir sons de até 140 decibéis", afirma Moises Chencinski, pediatra pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Mais do que assustar, um ruído desse tipo pode lesionar os ouvidos, prejudicando a audição em diferentes níveis, dependendo do quanto seu filho estiver próximo da fonte geradora do som. "Além da perda auditiva, a criança pode permanecer escutando um zumbido  por um longo tempo se for exposta a um som intenso", diz o pediatra.

Sendo assim, o melhor mesmo é resistir à vontade de levar a criança para curtir a comemoração com os adultos, na beira da praia ou em local próximo onde vai acontecer a queima. Até porque, para seu filho, a celebração ainda não faz nenhum sentido.

"O melhor é ficar com a criança em um local mais afastado do barulho, em um cômodo tranquilo, e, se necessário, fechar a porta e as janelas para vedar o barulho", declara o otorrinolaringologista pediátrico Fabrízio Ricci Romano, do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo.

Protetores auriculares podem ser usados, mas a maioria das crianças não os tolera. "Também há a opção de usar um protetor que é uma espécie de fone de ouvido de pelúcia, muito comum nos países de clima frio. Mas a finalidade do acessório não é barrar o som e a proteção será apenas superficial", diz o otorrinolaringologista pediátrico Ricardo Godinho, chefe do Departamento de Medicina da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).

No entanto, para se certificar de que seu filho precisa de tanta proteção, observe as reações dele. Há crianças muito sensíveis a ruídos e outras que dormem profundamente mesmo em um ambiente barulhento. "Com as crianças, há uma regra prática que sempre funciona: elas se manifestam quando estão incomodadas, ficam irritadas ou chorosas. Nesse caso, cabe aos adultos respeitá-las, afastando-as tanto quanto possível da fonte de desconforto", fala Romano.  

Mas se o bebê continuar muito sobressaltado em razão do barulho, apesar dos cuidados tomados pelos pais, há outras técnicas para acalmá-lo. "Colocar uma música ambiente tranquila, oferecer a chupeta ou o peito ou conversar com ele. Ouvir a voz da mãe ou do pai e receber o aconchego das pessoas próximas, geralmente, é o suficiente para que ele, aos poucos, volte ao seu estado normal”, afirma José Ricardo Testa, otorrinolaringologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

A audição do bebê a cada fase

Até os três meses
Acorda e se assusta ao ouvir barulhos intensos ou repentinos, como uma batida de porta ou gritos. Acalma-se ao ouvir a voz da mãe.

De três a seis meses
Olha e movimenta a cabeça procurando a origem dos sons. Presta atenção nos barulhos mais sutis. Reconhece a voz materna e emite sons sem significado (balbucia).

De seis meses a um ano
Localiza prontamente a fonte dos sons de seu interesse virando a cabeça em sua direção. Intensifica o balbucio, brincando com a voz e repetindo suas emissões.

De um a dois anos
Aponta e procura objetos e pessoas familiares quando solicitado. Compreende ordens verbais simples (“dá tchau”, “joga beijo”, “cadê o pé”, “pega a bola”, “não” etc). Diz as primeiras palavras.
 
Fonte: Moises Chencinski, pediatra pela Faculdade de Medicina da USP e autor do livro “Gerar e Nascer – Um Canto de Amor e Aconchego” (editora Yechiel Moises Chencinski).