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Gravidez na adolescência: desafio é acolher sem assumir tudo pelo filho

Os pais devem ajudar os jovens a enxergarem as mudanças que terão de fazer em suas vidas - Thinkstock
Os pais devem ajudar os jovens a enxergarem as mudanças que terão de fazer em suas vidas Imagem: Thinkstock

Rita Trevisan e Thaís Macena

Do UOL em São Paulo

11/02/2013 07h05

Após a notícia bombástica de que um neto está a caminho, é muito comum os pais dos jovens “grávidos” se desesperarem por não acharem os filhos capazes de cuidar, emocional e financeiramente, do bebê a caminho. Até certo ponto, faz sentido. No entanto, os avós devem resistir ao ímpeto de se responsabilizar, desde cedo, por todos os cuidados com a criança.

Se começarem a resolver tudo pelos adolescentes, estarão impedindo-os de aprender e amadurecer com a experiência. “A primeira coisa que eu sugiro aos avós é buscar uma visão positiva da situação, já que não há mais como remediar. Isso facilita na tomada de decisões, pois todos estarão mais equilibrados”, afirma a psicoterapeuta Thaís Petroff Garcia, da ABPC (Associação Brasileira de Psicoterapia Cognitiva).

Replanejar a rotina com os futuros pais é uma medida importante, mais do que recriminá-los ou mesmo tentar puni-los pelo ocorrido. “Os pais devem questionar o que os dois adolescentes acham que deve ser mudado a partir de agora para se prepararem para a chegada do bebê e o que precisará ser alterado, na rotina dos dois e do resto da família, depois que a criança nascer. Podem dar opiniões e orientar, mas devem ter em mente que as decisões são sempre do casal.”

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A especialista também sugere que os adultos auxiliem os jovens a se organizar com as questões que precisam ser resolvidas com mais ou menos urgência, como agendar as consultas médicas de pré-natal, preparar o quarto do bebê, comprar o enxoval. Desde esse período, as responsabilidades podem ser partilhadas entre as famílias e os pais da criança, mas deve-se evitar a todo custo superproteger os jovens, ou fazer tudo por eles, sob a justificativa de que são imaturos e despreparados.

“A mãe pode lembrar a filha ou o filho de marcar a consulta de pré-natal, mas não deve fazer isso por ela ou por ele. É uma forma de ir preparando a garota ou o garoto para as inúmeras funções que terão de assumir mais tarde”, afirma Thaís, da ABPC.

Vida de gente grande

Nesse cenário, ainda que os jovens optem por assumir um trabalho para custear parte das despesas com o bebê, caberá aos pais incentivá-los a continuarem estudando, condição fundamental para garantir que tenham um futuro promissor. “Deve-se evitar a todo custo tirar os adolescentes da escola. A maioria dos colégios monta um esquema especial para favorecer a adolescente grávida, facilitando o acesso aos conteúdos perdidos em caso de faltas justificadas ou remarcando as datas das provas, quando necessário”, declara a psicóloga Sandra Lima Vasques, orientadora sexual do Instituto Kaplan, centro de estudos da sexualidade.

Os núcleos familiares dos futuros pais devem fazer um esforço de aproximação. Afinal, a criança que vai nascer será para sempre um elo entre eles. “Se as duas famílias estiverem juntas, haverá uma base mais sólida para se enfrentar todos os desafios que surgirem. É saudável que se mobilizem para facilitar a vida do jovem casal tanto quanto possível”, declara o psicoterapeuta Oswaldo Martins Rodrigues Junior, diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade).

A união das famílias não implica, no entanto, na oficialização do casamento entre os dois jovens que vão se tornar pais. “Em geral, o adolescente se propõe a casar para reduzir a sua culpa. Os pais, por outro lado, cedem apenas para manter a aparência com os conhecidos, como se isso os deixasse menos vulneráveis a opinião alheia. De qualquer forma, esses não são bons motivos para incentivar a formação de uma nova família”, diz a psicóloga Arlete Maria Girello Tavares Gavranic, coordenadora dos cursos de pós-graduação em sexualidade do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexualidade e Medicina Psicossomática.

Para a especialista, uma união entre adolescentes, nessas condições, tem poucas chances de dar certo, considerando os enormes desafios que eles enfrentarão por conta da adaptação ao novo papel de pais e dos cuidados com o bebê. “Se os dois estiverem realmente decididos a casar, se isso partir dos adolescentes e for um desejo sincero, o melhor é incentivá-los a morarem juntos primeiro. Melhor ainda se estiverem perto de uma das duas famílias, para contar com o apoio necessário no início”, afirma Arlete.

É saudável que os adolescentes e suas famílias busquem realizar desde cedo as mudanças que precisam ser feitas na rotina, para receber o bebê e que essas intervenções não sejam encaradas de maneira catastrófica. “Responsabilidade não é algo ruim, ela é apenas a consequência de uma determinada atitude, que traz consigo ganhos e perdas. Ver a situação por esse ângulo é bom para os pais e para os adolescentes, que vão se valer desse aprendizado para o restante da vida e empregá-lo também em outros tipos de situações, passando a avaliar melhor riscos e benefícios”, declara Thaís, da ABPC.