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O que esperar do curso de gestante e como aproveitar o investimento

Maíra Barros Hasemi Magalhães e o marido, Rafael Magalhães Silva, durante aula do curso de gestante - Aline Arruda/UOL
Maíra Barros Hasemi Magalhães e o marido, Rafael Magalhães Silva, durante aula do curso de gestante Imagem: Aline Arruda/UOL

Marina Oliveira e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

01/07/2013 07h15

Cheio de dúvidas com a chegada do bebê, muitas pais, principalmente os de primeira viagem, procuram cursos de gestante oferecidos por maternidades para aprender a cuidar do recém-nascido. Antes de decidir onde fazê-lo, informe-se sobre a programação. O conteúdo e a forma de ensino variam muito de um lugar para o outro.

O UOL Gravidez e Filhos acompanhou duas gestantes que frequentaram cursos diferentes na cidade de São Paulo a fim de descobrir as vantagens e as desvantagens desse tipo de treinamento.

No domingo que a fonoaudióloga Maíra Barros Hasemi Magalhães, 31 anos, participou do curso no Hospital e Maternidade Santa Joana, o auditório estava lotado. "É um bom curso para pais de primeira viagem, porque, ao nos percebermos 'grávidos', somos tomados por um misto de sentimentos como euforia, incertezas e dúvidas a respeito dessa nova vida que está em formação."

  • Aline Arruda/UOL

    Maíra treina uma nova posição para amamentar o bebê durante aula no Santa Joana

Para a cineasta Vanessa Rodrigues, 42 anos, que fez o curso aos seis meses de gravidez das filhas gêmeas, o mais importante do curso de gestante foi ouvir diretamente de especialistas da área da saúde as orientações sobre os cuidados com o recém-nascido, já que as informações que vêm de amigos e familiares nem sempre merecem crédito, mesmo quando carregadas de boas intenções.

“As enfermeiras são as pessoas que ficam com o bebê logo depois que ele nasce e antes de subir para o quarto. Então, para mim, foi muito importante saber como elas trabalham e aprender o que é certo e errado nos cuidados com a criança”, disse Vanessa, que participou do curso de gestante do Hospital São Luiz, em São Paulo.

Pouca prática

Tanto no curso do Santa Joana quanto no oferecido pelo Hospital São Luiz, a maior parte das aulas fica a cargo da equipe de enfermagem do hospital e algumas palestras podem ser proferidas por médicos ginecologistas, pediatras ou mesmo fisioterapeutas. De maneira simples, objetiva e espirituosa, as aulas tratam de cada fase da gravidez, explicam os tipos de parto e de anestesias.

Módulos que ensinam a amamentar, dar banho, trocar as fraldas e as roupas no bebê também estão inclusos na programação e são os que mais despertam a atenção dos futuros pais.

Porém, apesar do esforço dos organizadores de tentar reproduzir situações que os papais e mamães vão enfrentar quando estiverem às voltas com o bebê, grande parte do aprendizado fica na base da teoria. Os participantes são convidados a praticar apenas em momentos muito específicos, como nos módulos de amamentação e de cuidados com o bebê.

No Hospital São Luiz, as mamães são instruídas a treinar com uma boneca, que deve ser levada de casa. “O fato de ter de colocar a boneca em uma cadeirinha no carro já é muito interessante. A gente fica imaginando como vai ser quando tiver um bebê de verdade ali”, falou Fernanda Zanotto Garcia, 34 anos, que participou do treinamento com seis meses de gravidez. O momento de colocar a mão na massa, no entanto, não dura mais do que três ou quatro horas em um treinamento que tem um total de 12, distribuídas em quatro aulas distintas.

No Santa Joana, uma única boneca é utilizada na demonstração dos cuidados com o recém-nascido e as mães nem sequer chegam a imitar os movimentos feitos no palco pela enfermeira. Nesse caso, os pais é que participam mais. Eles são convidados, como voluntários, a tentar trocar a fralda ou a dar banho na boneca. Afinal, a ideia é que eles se encarreguem desse tipo de tarefa nos primeiros dias em casa com o filho. Enquanto isso, a mãe, que está se recuperando do parto e tem de amamentar, poderá tirar uns minutinhos de descanso.

Troca de experiências

Na hora H, é bem possível que esses pais, extremamente participativos, assumam, de fato, tarefas como essas. Afinal, eles assistem às aulas ao lado de suas mulheres, parecem tão sedentos de informações quanto elas e, em geral, ficam mais à vontade para parar a aula e questionar o que quer que seja. “Meu marido adorou as aulas. Ele ficava ainda mais inseguro do que eu quando pensava em cuidar de um bebê e saiu de lá muito mais confiante”, afirmou Fernanda.

  • Fernando Donasci/UOL

    Fernanda Zanotto Garcia e o marido, Felipe Velloso, no São Luiz

Outro fato que chamou a atenção foi o número de pais registrando as aulas com seus celulares, na tentativa de guardar aquelas informações, para resgatá-las mais tarde ou no momento em que tiverem de fazer o mesmo procedimento sozinhos.

Tanto interesse abre ou amplia a possibilidade de diálogo entre o casal sobre questões relacionadas à maternidade, à paternidade e à criação do bebê. O que é um ponto positivo a favor desse tipo de curso.

A troca com outros pais e mães também acontece e pode ser igualmente benéfica. “Durante os intervalos, sempre conversava com outras mães. E foi bom. Percebi que muitas estavam sentindo as mesmas coisas que eu e isso me deixou mais tranquila”, disse Maíra, que fez o curso com cinco meses de gestação.

Segundo os organizadores dos treinamentos acompanhados, o ideal é que se participe da atividade até os oito meses de gestação. A partir desse ponto, considera-se que o bebê pode nascer a qualquer momento.

Os cursos para gestantes também ajudam quem anda ouvindo palpites demais sobre a experiência de ter um filho, mas não sabe o que fazer com tanta informação. Entre um módulo e outro, o que mais se escuta são perguntas que começam com a sequência de palavras: “me falaram que...”. É então que surgem diversos tipos de questionamentos, a maior parte deles baseados em experiências de terceiros.

Nesses casos, os profissionais não só explicam a adequação ou não de se tomar aquela atitude na situação proposta como também aproveitam para dar dicas de como lidar com os conselhos dos mais próximos e que, invariavelmente, vão acompanhar papais e mamães durante toda a vida, dali em diante.

A gravidez semana a semana

  • Reprodução

Prós e contras

É claro que os cursos não dão conta de responder a todas as dúvidas e, da mesma forma, podem não atender plenamente às expectativas dos pais. No entanto, para evitar frustrações, o primeiro passo é se informar sobre a programação antes da inscrição. “O curso é mais voltado para o lado médico, para a saúde da mãe e do bebê. Nas questões práticas, continuei com algumas dúvidas, como por onde começar a colocar a blusa, se pela cabeça ou pelo braço do bebê”, afirmou Vanessa.

“Também esperava ouvir mais sobre questões de segurança. Como transportar o bebê e até pequenas adaptações que devem ser feitas na casa para a chegada da criança. Depois é que consultei a programação e vi que isso não estava mesmo entre os objetivos principais das aulas.”

Já a fonoaudióloga Maíra sentiu falta de informações sobre a gestação. “O curso poderia ter feito menção às fases do desenvolvimento intrauterino. Gostaria de saber mais sobre o que estava acontecendo com o meu bebê naquele momento, e não só sobre o que iria acontecer depois.”

Custo e benefícios

Outros pontos que devem pesar na decisão de fazer ou não o treinamento são os investimentos envolvidos –de tempo e de dinheiro. É comum que os cursos para gestantes sejam oferecidos em horários alternativos, nos finais de semana ou à noite, a partir das 19h ou 20h. Também há a opção de fazer o curso todo em um único dia ou de assistir às aulas divididas em quatro ou cinco encontros e, nesse último caso, os módulos são bem específicos. No total, a carga horária varia entre oito e 12 horas. Os temas são os mesmos e a programação muda apenas para atender aos diversos tipos de agendas dos casais.

No São Luiz, o curso com 12 horas, dividido em quatro aulas, nos finais de semana, sai por R$ 300 o casal. Já no Santa Joana, o investimento para uma única aula, de oito horas, também no fim de semana, é de R$ 200 por casal.

Não é obrigatório fazer o curso na maternidade em que se pretende ter o bebê, mas é recomendável. Assim, pode-se tirar maior proveito da experiência, seja conhecendo o ambiente do hospital destinado às mamães e seus bebês, seja tendo contato com parte da equipe médica que, provavelmente, os atenderá alguns meses mais tarde. “O curso prevê um passeio pela maternidade e essa foi uma das partes mais importantes para mim. Queria saber em que tipo de quarto eu ia ficar, como era o berçário e até a sala de espera, onde deixaria os meus parentes”, falou Fernanda.

Para ela, o investimento valeu a pena. “Além das aulas, que foram bem esclarecedoras, recebemos diversas cartilhas que eu continuo consultando em casa, sempre que surge uma dúvida.”

No caso de Maíra, o curso foi uma oportunidade de entrar em contato com informações básicas, mas que, para ela, ainda eram completamente novas. “Eu indicaria um curso como esse a outras mulheres que, como eu, são mães de primeira viagem. Aprendi muito.”