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Ajude o jovem a enxergar além das carreiras tradicionais

Maria Laura Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

22/07/2013 08h25

"O que você vai ser quando crescer?" Você, certamente, fez essa pergunta por muito tempo a seu filho para que ele se divertisse imaginando ser médico, desenhista, veterinário, astronauta, super-herói, modelo, apresentador de televisão...

Mas, agora, é para valer. Ele é um adolescente, está cursando o ensino médio e você quer ajudá-lo a tomar essa importante decisão na vida. O que fazer para não impor suas vontades aos sonhos dele? Como agir para não deixar que suas frustrações e medos contaminem as ideias dele, mas, ao mesmo tempo, deixar claro que pode ser válido que ele considere suas opiniões?

Basicamente, o que os profissionais especialistas em orientação vocacional recomendam é muita conversa e parceria entre a família e o jovem para que juntos busquem informações sobre as profissões que despertam interesse nele.

Antes de dar início a qualquer conversa, na tentativa de estabelecer um diálogo sobre o assunto, vale pensar consigo mesmo se você realmente conhece seu filho: a personalidade dele, as coisas pelas quais ele mais se interessa e as disciplinas escolares preferidas, por exemplo.

"Os pais, geralmente, não têm essas informações e também não estão por dentro das possibilidades de carreira, inclusive as que fazem parte de novas áreas nem das tendências do mercado", afirma Leo Fraiman, especialista em psicologia educacional e diretor da Clínica Fraiman, em São Paulo. Para se aproximar de seu filho e realmente ajudá-lo, é fundamental levar tudo isso em consideração.

A primeira atitude é não iniciar nenhuma conversa com ideias pré-concebidas. Não vale só apostar nas chamadas carreiras clássicas –administração, direito, medicina e engenharia–, estabelecer o que é (e o que não é) considerado aceitável para você nem impor ao adolescente somente o parâmetro de retorno financeiro, dividindo o mercado em profissões que dão dinheiro e as mal remuneradas. Afinal, existem profissionais bem pagos e mal pagos em todas as ocupações.

Sidnei Oliveira, consultor especialista em gerações e autor do livro “Geração Y e Profissões do Futuro – Você Está no Jogo?” (a ser lançado em agosto de 2013, pela Editora Integrare), recomenda que pais e filhos busquem conhecer a fundo as profissões que despertam interesse no jovem e pesquisem sobre elas.

"Sugiro ler guias e livros que retratem a carreira, visitar ambientes em que os profissionais atuam, frequentar feiras de orientação profissional, nas quais grandes empresas e universidades estão expondo e à disposição para conversar com o público, buscar informações na internet e conversar com profissionais já estabelecidos no mercado. Para isso, você pode recorrer a sua rede de contatos, formada por amigos pessoais e do ambiente de trabalho e parentes", fala Oliveira.

Tão importante quanto saber o que falar com o adolescente é calcular a dose de conversas. Exagerar ou nunca trazer o tema à tona, pensando não invadir o espaço ou pressioná-lo, é perigoso. Para acertar na medida, procure dialogar com o jovem sobre o dia a dia dele na escola e vá, aos poucos, introduzindo o assunto.

"Os pais têm de agir como copilotos, ajudar o jovem com suas indecisões, mas sem tomar a decisão por ele. É um papel de apoio para induzir à reflexão sobre o impacto da escolha profissional não só na vida do adolescente, mas também na familiar", diz Leo Fraiman.

Outro cuidado a ser tomado é não ficar fazendo previsões sobre o que vai acontecer daqui a alguns anos com o mercado profissional. Isso, ninguém sabe, nem os melhores consultores. O que eles fazem é pesquisar as tendências, mas daí a ter certezas, há uma grande diferença.

Por isso, nada de jogar um balde de água fria em quem pensa ser determinada coisa, dizendo que isso não existirá daqui a um tempo. Muito menos cair no erro de falar que o melhor a fazer é apostar nas carreiras ligadas ao trabalho com informática, por exemplo. Até o adolescente se formar, pode ser que alguns cargos nessa área estejam saturados.

"As carreiras de desenvolvedores de site foram destaque no início dos anos 2000. Hoje, sabemos que é possível as pessoas criarem páginas na internet por conta própria. É claro que essa profissão ainda tem espaço, mas agora estamos em outro cenário", declara Silvio Bock, orientador profissional e diretor do NACE – Orientação Vocacional, em São Paulo.

Durante as conversas com o jovem, procure pontuar suas colocações com argumentos, não se limitando a dizer sim e não. Ajude-o elencando prós e contras, dê exemplos concretos, e coloque em cena as habilidades dele e as exigências das profissões discutidas (afinal, ninguém se diverte trabalhando o tempo todo) e não se esqueça de reafirmar os valores da família, que desde quando ele era pequeno você se esforçou em transmitir.

"Não se trata de fazê-lo obedecer às suas ideias, mas de se empenhar para construir uma nova fase da vida de outra pessoa, não da sua", diz Bock. 

Os especialistas recomendam ainda transmitir ao adolescente tranquilidade. Escolher uma profissão não é tomar uma decisão imutável. Toda carreira permite um leque amplo de atuação, ainda mais nos dias hoje.

Fazer fisioterapia não quer dizer, necessariamente, que o profissional terá de trabalhar em um hospital ou em uma clínica. Ele pode ser professor, atuar na área de saúde de uma empresa e em uma academia, dentre outras possibilidades.

No entanto, cuide para que seu filho não ache que pode começar uma faculdade e simplesmente abandoná-la meses depois só porque não gostou de uma disciplina da grade curricular. "Todos precisam entender que, ao escolher um caminho, precisamos fazer concessões e isso inclui lidar com coisas de que não gostamos e que requerem, às vezes, abrir mão de prazeres da vida, momentaneamente ou por tempo indeterminado", afirma Oliveira.

Não se trata de forçar o jovem a seguir com algo que ele pode vir a não gostar, mas de deixar claro para ele que o tempo de estudo e o investimento financeiro devem ser valorizados e levados em conta antes de tomar qualquer decisão.

Fazendo tudo isso, você não estará somente ajudando seu filho a começar a trilhar um caminho na vida profissional. "É uma forma de fazer com que ele se conheça melhor e se torne um protagonista de suas próprias escolhas", afirma Fraiman.

Ajuda profissional especializada

Os orientadores vocacionais podem ser úteis nesse momento de vida do adolescente, mas não espere respostas prontas e certeiras, nem mesmo se seu filho fizer um dos famosos testes vocacionais.

"Testes desse tipo são bons para identificar facilidades que as pessoas têm. Com números, por exemplo, o que não quer dizer que o jovem vai trabalhar com engenharia necessariamente. Pode ser com finanças", diz Oliveira.

No Brasil, existem muitas consultorias particulares aptas a fazer esse tipo de trabalho e algumas clínicas instaladas em universidades que oferecem o serviço gratuitamente ou a preços acessíveis. Conheça algumas delas:

Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic, ligada à PUC de São Paulo;

Núcleo de Prática em Psicologia, ligado à PUC do Paraná;

Laboratório de Informação e Orientação Profissional, ligado à Universidade Federal de Santa Catarina;

Centro de Atenção Psicológica e Social Prof. João Ignácio de Mendonça, ligado à Universidade Federal da Bahia;

Clínica Psicológica da PUC de Minas;

Projeto de Orientação Profissional, ligado à Universidade Católica de Brasília;

Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia, ligado à PUC do Rio do Rio Grande do Sul. 

É válido também buscar saber se na escola que seu filho estuda algum profissional, como o orientador educacional, o coordenador pedagógico, o diretor ou mesmo algum professor, é destacado pela instituição para conversar com os jovens sobre esse assunto e pedir para conhecê-lo, a fim de vocês trabalharem juntos nesse momento.