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Para incentivar jovem a ler, ajude-o a descobrir temas de que ele goste

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

21/11/2013 07h05

Jovens que apreciam a leitura têm mais facilidade para aprender, comunicam-se melhor e acabam garantindo um desempenho superior em todas as outras matérias da escola, além do português. Muitos pais, sabendo disso, estimulam seus filhos a ler desde cedo. No entanto, nem sempre o empenho surte resultado. Uma criança que adora livros não necessariamente continuará sendo um leitor tão interessado na adolescência.

“As crianças adoram ouvir histórias, assim como se interessam bastante pela leitura logo após a alfabetização. O descobrimento das letras e a capacidade de adquirir conhecimento por meio dos textos é algo muito motivador para elas”, diz a pedadoga Irene Maluf, especialista em psicopedagogia pela PUC de São Paulo.

Porém, com o passar do tempo, não é incomum que as mesmas crianças que devoraram livros do Harry Potter não possam nem ouvir falar das leituras recomendadas pela escola. Segundo os especialistas, isso acontece, na maioria das vezes, porque o estímulo para ler, dentro de casa, pode não ter sido suficientemente forte.

A escola também pode pecar por tratar a leitura como uma obrigação, o que só serve para afastar os jovens desse bom hábito. “O adolescente lê o que a escola manda em vez de ler o que dialoga com seus interesses e com os desafios que enfrenta para conviver, estudar e se tornar, futuramente, um profissional”, afirma Simone André, coordenadora de educação do Instituto Ayrton Senna.

Por não se identificarem com muitos títulos com os quais têm contato, os jovens podem perder a vontade de ler. “A obrigatoriedade rouba dos alunos o interesse da descoberta. Escolher um livro para ler faz parte de um processo de encantamento com a obra”, diz Irene.

Recomeço

Para a doutora em letras Maria Afonsina Ferreira Matos, coordenadora do Centro de Estudos da Leitura da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), uma criança que teve uma boa iniciação na família ou nos primeiros anos escolares pode se afastar dos livros, mas retornará a eles desde que redescubra sentido na experiência.

“Colocar o jovem na posição de protagonista diante da leitura ajudará a encorajá-lo”, fala Simone, do Instituto Ayrton Senna.

De modo geral, é preciso respeitar as preferências juvenis e não censurar. “É a partir do reconhecimento do que dá prazer aos mais jovens que os pais poderão atuar para ampliar o repertório dos filhos”, diz Simone.

Assim, deixar que o adolescente leia o que lhe agrada é fundamental. “A influência da turma, nessa fase, é muito grande. É importante deixar o jovem escolher um autor ou assunto para chamar de seu, essa é uma necessidade existencial para o adolescente”, afirma.


Fixação por um tema

E mesmo se o jovem se interessar por um único assunto ou autor, e persistir no mesmo tipo de leitura por um período, os pais não devem se preocupar. “O jovem costuma ter essas fases. O melhor é deixá-lo elaborar isso e abandonar por si só. Permita que o próprio adolescente se mova em busca de novidades”, declara a pedagoga Irene Maluf.

Os pais podem, quando muito, apresentar assuntos similares ou autores que seguem a mesma linha dos que o filho aprendeu a gostar. “Seduzir para uma leitura diferente requer um trabalho de mediação cuidadoso. Um bom caminho é o diálogo. Pais que conversam com seus filhos são capazes de sugerir obras sem fugir muito do que eles gostam, trazendo, inclusive, novas conotações para as histórias que os filhos conhecem”, diz Maria Afonsina.

O exemplo vindo dos pais também é decisivo para reforçar os bons hábitos nos jovens. “Em uma casa de leitores, o livro tem status de alimento. Ele é motivo de diálogo na sala de visitas, serve como um pretexto para conversar. É lido em voz alta ou em silêncio, sempre como uma forma de lazer”, fala Maria Afonsina.

Assim, o mais importante é que os pais mostrem que valorizam a leitura, que eles promovam o contato dos filhos com os livros e com outros leitores e que, na medida do possível, conversem com o jovem sobre o que ele lê. No mais, a leitura tem de ser um ato prazeroso e de livre e espontânea escolha para o jovem, como ocorre com o videogame e as redes sociais.

“Independentemente de onde lê, seja nos livros da escola, nos que ele decide comprar, em jornais, revistas, na web, o jovem se atualiza e incorpora conhecimentos por meio da leitura. Se ler no computador é mais atraente do que no papel, sem problemas. O essencial é desenvolver nos adolescentes esse interesse”, afirma Irene Maluf.