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Para funcionar, "cantinho do castigo" precisa aliar uma boa conversa

Sem explicar a razão do castigo, "cantinho" pode virar punição banal para a criança - Getty Images
Sem explicar a razão do castigo, "cantinho" pode virar punição banal para a criança Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

14/01/2014 07h15

Popularizado com o programa inglês de TV “Supernanny”, que tem versões espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil, o “cantinho do castigo” ou "cantinho da disciplina" –local no qual a criança tem de ficar parada, por um tempo correspondente a um minuto por ano de idade, pensando no que fez de errado– não é uma alternativa unânime entre os especialistas quando o assunto é como disciplinar os filhos.

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“A punição funciona como cumprir uma pena. Não conduz à reflexão e acaba suscitando sentimentos de raiva e de injustiça. Sem contar que, quando aplicamos um castigo, normalmente, estamos nervosos, querendo aliviar a tensão provocada. É como se convidássemos nossos filhos, e eles também nos convidassem, para uma disputa em que um vence e o outro perde”, afirma a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, de São Paulo.

Segundo Daniella, com o uso sem critério, a criança passa a nem ligar mais para esse tipo de castigo. Simplesmente faz a “arte” e se dirige ao “cantinho”.

Já para a psicóloga Triana Portal, também da capital paulista, o “cantinho da disciplina” é mais eficaz do que gritar, dar bronca, tirar brinquedos ou impedir de ver TV, desde que os pais expliquem não só os motivos da punição, mas o que esperam do comportamento do filho.

“Muitas vezes, a criança não entende as convenções tão claramente e, sem ter a compreensão das coisas, não saberá o que evitar futuramente nem as razões pelas quais suas atitudes não são aceitas ou são erradas.”

Táticas para disciplinar seu filho

  • Arte/UOL

Triana afirma que só colocar no “cantinho” não vale. É preciso estimular a reflexão. Ao fazer isso, os pais devem se agachar na altura da criança, olhá-la nos olhos e usar uma voz firme e clara. “É bom ressaltar que avós e demais cuidadores devem ser avisados sobre essa postura para não ‘estragar’ o castigo e, principalmente, não tirar a autoridade dos pais.”

Para a pediatra e psiquiatra Miriam Ribeiro de Faria Silveira, uma das autoras do livro “Filhos: da Gravidez aos Dois Anos de Idade – Um Guia Completo da Sociedade Brasileira de Pediatria” (editora Manole), uma das principais desvantagens de apenas aplicar um castigo, sem uma boa conversa sobre a falta, é que se trata de uma decisão que corta o diálogo.

“Conversar é fundamental. Mesmo crianças muito pequenas são capazes de internalizar e compreender o que lhes é explicado, desde que com amor e carinho”, fala Miriam. De acordo com a especialista, elas também são capazes de entender as consequências, desde que sejam explicadas objetivamente.

“A criança tem de entender que você não gostou do que ela fez, mas que está ao lado dela para ajudá-la a compreender os efeitos”, afirma a psicóloga Daniella.

A conversa não deve ter jeito de sermão. “Evite frases com lição de moral, do tipo ‘nunca devemos bater no amigo porque isso é ruim’ ou ‘não se pode riscar a parede senão a casa vai ficar feia’. Essas mensagens apontam prejuízos, mas não para a criança”, diz a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano.

Ação e consequência

Na prática, então, o que fazer? O ideal é ensinar a criança a “consertar” o que fez ou a enfrentar o resultado. Riscou a parede ou derrubou algum líquido no chão de propósito? Pegue um pano úmido e faça seu filho limpar a sujeira –supervisionando, claro, e até mesmo ajudando-o, mas mostrando que ele é responsável por aquilo.

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Não quer guardar os brinquedos? Deixe sem assistir a desenhos. Tirou notas baixas ou não tem feito a lição de casa direito? Elimine um foco de lazer –TV, computador ou videogame– por um determinado período. Pode até ser curto, como dois dias.

“Esses combinados dão certo porque apresentam a oportunidade de aprendizado e reflexão. A intenção é clara: mostrar que todas as nossas ações produzem reações, resultados que viveremos. A criança percebe que vale mais a pena fazer sua parte e faz”, diz a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria.

Mandar para o “cantinho da disciplina” a todo momento, sem explicar objetivamente o porquê e o que se espera do comportamento da criança, pode acabar banalizando a medida.

O poder do elogio

E não são só as travessuras que ensinam. “É necessário mostrar aos filhos que as ações positivas também trazem boas consequências. As crianças precisam se sentir valorizadas e não somente cobradas”, declara a psicopedagoga Eliana de Barros Santos.

Boas notas, conservação do material escolar, organização do quarto, responsabilidade e outras atitudes devem ser recompensadas, não necessariamente com bens materiais, como brinquedos.

Um passeio bacana, uma tarde diferente com os amigos em casa, uma brincadeira nova ou um elogio merecido são afagos à autoestima, que vão gerar frutos por muito tempo.