Topo

"Em Família": obsessão por ter filho requer apoio médico e familiar

Juliana (Vanessa Gerbelli) está obcecada pela ideia de ter um filho na novela "Em Família" - Divulgação/TV  Globo
Juliana (Vanessa Gerbelli) está obcecada pela ideia de ter um filho na novela "Em Família" Imagem: Divulgação/TV Globo

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

18/03/2014 07h15

Desde o início da novela "Em Família" (Globo), Juliana, interpretada por Vanessa Gerbelli, demonstra um forte desejo de ser mãe. Na trama de Manoel Carlos, Chica (Natália do Vale), uma das irmãs da personagem, chegou a dizer que a mulher só se casou com Nando (Leonardo Medeiros) por causa desse objetivo, que, depois de três abortos, segue sem ser concretizado.

No atual momento da história, ela quer adotar Bia (Bruna Faria), filha da sua ex-empregada doméstica, Gorete (Carol Macedo), morta em um atropelamento. Para tanto, expulsou o marido de casa, virou as costas para os parentes e chegou a roubar uma joia da casa de leilões da família para dar dinheiro ao pai da menina.

Segundo Hitome Nakagawa, médica-assessora da diretoria da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), para que uma pessoa não tenha outros aspectos da vida tão afetados pelo plano de ter um filho, como no caso da personagem da novela das 21h, é preciso que os médicos envolvidos no caso ajudem a restaurar o equilíbrio emocional da paciente ou do casal.

"O profissional que acompanha esses casais também tem de ser o 'psicólogo', o ouvinte. Sempre digo que para atender essas pessoas é preciso existir empatia e saber como colocar certas estatísticas sobre as possibilidades de uma gravidez dar ou não certo da forma mais amena possível", afirma Hitome.


A médica da Febrasgo fala que não há um limite para o número de tentativas para engravidar, mesmo que a paciente tenha sofrido um ou mais abortos. "Nunca sabemos o que provocou o aborto. Sabe-se apenas que, quando ele acontece nos primeiros três meses, é devido a alguma má formação e, então, a natureza se encarrega de não deixar o feto evoluir", fala.

Para lidar com a situação, a mulher tem de fazer uma autoavaliação para entender se o desejo de ser mãe é dela própria ou uma imposição externa. De acordo com a psicanalista Betty Milan, autora do livro "Carta ao Filho" (Record), mesmo com toda revolução do papel feminino no mundo, a mulher ainda não foi liberada desse “dever”. Por isso, antes de se tornar uma obsessão, é preciso se perguntar o porquê de a maternidade ser tão essencial em sua vida.

"A história familiar e os valores culturais podem influenciar (no desejo de ser mãe) e, se a mulher não se der conta disso, não conseguirá dizer não a essa 'imposição'", declara Betty.
$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-foto$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/bia-e-juliana-1395080512820.vm$escape.getQ())
Outro desencontro que acaba agravando o problema é a falta de cumplicidade do casal nessa hora. No caso da novela de Manoel Carlos, é notória a amargura que Juliana sente em relação ao marido por não se sentir apoiada por ele.

"Em um plano como esse, o de gerar uma vida em conjunto com alguém, tem de haver consenso. A grande dificuldade dos casais é conversar e falar abertamente o que pensam. Se todos expusessem suas expectativas, sem culpa e acusações, com certeza, conseguiriam encontrar a medida de até quando insistir ou não", afirma Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Como identificar e tratar

Para o psicólogo, os sintomas de que o sonho de ser mãe se transformou em uma obsessão vão dos mais conhecidos, como choro e ansiedade, aos ligados ao estresse, como reações alérgicas.

"Se a mulher só fala nisso o tempo todo, com muita emoção e angústia, tem queixas físicas, como falta de sono e apetite, e começa a ter o rendimento prejudicado no trabalho ou nos estudos, quer dizer que a sua mente está aprisionada por essa fixação", diz.

Nesse ponto, é necessário um acompanhamento psicológico, em paralelo ao tratamento para engravidar ou ao processo de adoção. A participação do parceiro ou de familiares também é essencial.

"O parceiro pode não ser a causa do problema, mas pode complicar a situação por não saber lidar com a mulher e deixá-la mais pressionada, assim como a mãe ou outra pessoa próxima, que pode, mesmo sem querer, cobrá-la por um resultado", fala Armando Ribeiro.

Para que o desejo de engravidar se concretize, é importante baixar o nível de estresse. "Já vi inúmeros casos de mulheres que desistiram momentaneamente ou decidiram adotar e conseguiram engravidar. Gerar uma vida também é uma questão de equilibrar os hormônios e o corpo", declara.