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Jovem pseudomaduro pode se envolver com drogas e crimes

Estudo da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, acompanhou jovens dos 13 aos 23 anos - Getty Images
Estudo da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, acompanhou jovens dos 13 aos 23 anos Imagem: Getty Images

Jan Hoffman

Do The New York Times

08/07/2014 07h05

Aos 13 anos, eles eram vistos pelos colegas de aula com inveja, admiração e um pouco de reverência. As meninas se maquiavam, tinham namorados e iam a festas organizadas por estudantes mais velhos. Os meninos se gabavam de beber cerveja às escondidas nas noites de sábado e de afanarem camisinhas da loja de conveniência local.

Eles eram maneiros. Eram bonitos. Completamente diferentes de você. O que aconteceu com eles?

"A garotada que foi pela via expressa não terminou bem", afirmou Joseph P. Allen, professor de psicologia da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. O especialista é o autor principal de um estudo, publicado neste mês no periódico "Child Development", que acompanhou esses jovens socialmente precoces e dispostos a correr riscos durante uma década. De acordo com a pesquisa, ao longo do ensino médio, o status social desses indivíduos despencou e eles começaram a patinar de muitas formas.

Foi a corrida prematura, que Allen chama de comportamento pseudomaduro, que abriu o caminho para os problemas. Agora com 20 e poucos anos, muitos deles contabilizam dificuldades com relacionamentos íntimos, álcool, maconha e até mesmo atividade criminal.

"Eles estão fazendo coisas mais radicais para continuarem parecendo bacanas, gabando-se de beber uma dúzia e meia de latas de cervejas em um sábado à noite. Seus colegas pensam: 'essa garotada não tem competência social'. Eles ainda estão vivendo no mundo do ginásio."

Como alunos apressadinhos do fim do ensino fundamental, eles eram motivados por um desejo realçado de impressionar os amigos. Na verdade, o comportamento descarado lhes rendeu uma popularidade alta. Porém, no ensino médio, os colegas começaram a amadurecer, e a popularidade dos garotos descolados desapareceu.

B. Bradford Brown, professor de psicologia educacional da Universidade de Wisconsin-Madison, que escreve sobre relações entre adolescentes e não participou do estudo, disse que a pesquisa oferece dados valiosos. O achado que mais o surpreendeu foi que o comportamento pseudomaduro é um indicador mais forte de problemas com álcool e drogas do que os níveis de uso de drogas no começo da adolescência.

Segundo Brown, pesquisas com adolescentes costumam acompanhá-los durante toda a adolescência, porém esse estudo acompanhou um grupo diversificado de 184 participantes de Charlottesville, na Virgínia, começando aos 13 anos e terminando aos 23.

Os pesquisadores batalharam para documentar a ascensão e a queda do status social, entrevistando, periodicamente, os participantes e as pessoas que esses consideram conhecê-los melhor, geralmente amigos do peito. Aproximadamente, 20% do grupo caiu na categoria de "garoto descolado" no princípio da pesquisa.

De acordo com Allen e seus colegas, três comportamentos visando à popularidade caracterizam a pseudomaturidade: a busca de amigos fisicamente atraentes, romances mais numerosos e intensos, em termos emocionais e sexuais, e pequenos atos de delinquência –matar aula, entrar às escondidas no cinema e vandalismo.

O estudo constatou que, ao completarem 23 anos, na comparação com os colegas do ginásio que tiveram menos pressa, eles tinham um índice 45% maior de problemas resultantes do uso de álcool e da maconha e 40% maior uso dessas substâncias. Eles ainda apresentavam um nível 22% maior de comportamento criminoso adulto, de roubo a assaltos.

Muitos atribuíram os relacionamentos românticos adultos fracassados ao status social, acreditando que a falta de classe fosse o motivo para que os parceiros terminassem com eles. As iniciativas prematuras de agir como um indivíduo mais velho parece ter lhes deixado atrofiados em termos sociais. Quando os colegas foram questionados sobre como esses adultos se davam com os outros, o índice da antiga garotada bacana ficou 24% abaixo do que a média de jovens adultos.

Os pesquisadores questionaram por que esse conjunto de comportamentos levou esses jovens em uma espiral descendente. Allen sugeriu que, embora estivessem tentando ser populares, eles perdiam um período de desenvolvimento crítico. Ao mesmo tempo, outros adolescentes jovens aprendiam a forjar amizades com o mesmo sexo enquanto participavam de atividades sem dramas, como ver um filme em casa, em uma sexta à noite. De acordo com ele, os pais deveriam apoiar esse comportamento e não lamentar que o filho não é "popular".

"Ser verdadeiramente maduro enquanto adolescente significa que você é capaz de ser um amigo bom, leal, solidário, esforçado e responsável. Porém, isso não gera muito sucesso em uma manhã de segunda-feira do nono ano."

Brown sugeriu outra perspectiva sobre por que a garotada maneira se perde no caminho. Os adolescentes que abrem o desfile social no ginásio –determinando as escolhas dos outros nas roupas, mídia social e até mesmo cores das agendas– têm um fardo pesado para o qual não estão emocionalmente preparados. "Assim, eles gravitam na direção de garotos mais velhos."

E esses adolescentes mais velhos, que provavelmente já foram considerados bacanas, eram modelos dúbios a serem seguidos. "Na adolescência, quem está aberto a curtir com alguém três ou quatro anos mais novo? A molecada mais fora do padrão", fala Brown.

Allen descreveu uma biografia típica baseada no estudo. Aos 14 anos, o menino era popular. Conhecia muita gente, beijou mais de seis garotas, envolveu-se em pequenos problemas e se cercou de amigos de boa aparência.

Aos 22, o rapaz havia abandonado o ensino médio e tinha muitos problemas ligados à bebida, como faltar ao trabalho e prisões por dirigir bêbado. Ele estava desempregado e ainda disposto a cometer pequenos roubos e atos de vandalismo.

Entretanto, como Allen enfatizou, a pseudomaturidade sugere uma predileção, ela não é um instrumento de previsão estável. Uma adolescente do estudo teve inicialmente um perfil similar, com muitos namorados na primeira adolescência, amigas atraentes e uma queda por roubar lojas.

Contudo, aos 23 anos, segundo relato de Allen por e-mail, "ela havia se formado na faculdade, não tivera mais problemas com comportamento criminoso, usava álcool de forma responsável e tinha um emprego bom".

Mitchell J. Prinstein, professor de psicologia da Universidade da Carolina do Norte, campus de Chapel Hill, que estuda o desenvolvimento social de adolescentes, disse que, embora esses jovens desejem ser aceitos pelos colegas, estudos sugerem que os pais podem reforçar características que os ajudarão a suportar a pressão para serem legais demais, rápido demais.

"Os adolescentes também gostam de individualidade e confiança. Os que conseguem manter os próprios valores ainda podem ser considerados legais, mesmo sem fazer o que os outros estão fazendo", afirma Prinstein.