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Ao falar sobre sexo com a criança, não vá além do que ela perguntar

Livros podem ser um instrumento facilitador da conversa sobre sexo com a criança - Getty Images
Livros podem ser um instrumento facilitador da conversa sobre sexo com a criança Imagem: Getty Images

Daniela Venerando

Do UOL, em São Paulo

14/09/2014 07h25

O assunto não é fácil e costuma chegar de supetão: "mãe, o que é sexo?”. Quando a criança traz alguma questão relacionada à sexualidade, é muito importante que os pais tentem identificar o que ela deseja saber exatamente e onde ouviu tal informação. Talvez, ela queira apenas entender o que é sexo masculino e feminino, por exemplo.

"Questionar é fundamental para que a resposta seja de acordo com a capacidade de compreensão da criança. E isso vai depender da idade, da maturidade e da intimidade da família", afirma a educadora sexual Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, centro de estudos sobre a sexualidade humana.

Segundo Maria Helena, os adultos costumam ficar ansiosos com esse tipo de conversa e acabam falando o que filho não está preparado para ouvir.

Se uma criança de quatro anos perguntar de onde ela veio, muito provavelmente, dizer que nasceu da barriga da mãe vai saciar sua curiosidade sobre o assunto. Histórias da cegonha ou da sementinha que o papai do céu mandou são vetadas pelos especialistas para evitar a quebra de confiança no adulto.

Respostas breves

Geralmente, a curiosidade surge por volta dos sete anos e, nessa idade, já é possível explicar como as coisas realmente acontecem. Pode ser dito que os pais gostam de trocar carinhos e que o pai tem uma sementinha dentro dele que é colocada na mãe. Ou ainda falar que fazer sexo é quando o homem e a mulher ficam juntinhos se abraçando, beijando-se ou namorando. E que isso é coisa de gente grande, não de criança.


"O importante é dar a resposta de acordo com a curiosidade da criança. Uma breve é o suficiente, sem ir além daquilo que foi perguntado. Se os pais derem informação a mais, o filho não terá capacidade de digerir. Além disso, não é preciso explicar o ato sexual, porque ele nem imagina o que é isso e tão pouco está interessado”, diz a psicanalista Maria Cecília Pereira da Silva, organizadora do livro "Sexualidade Começa na Infância" (Editora Casa do Psicólogo), indicado para pais e educadores.

De acordo com Maria Cecília, depois dos dez anos, é hora de explicar cientificamente sobre as transformações do corpo e como os bebês são gerados. Uma boa saída é oferecer um livro ou propor uma conversa. Mesmo quando for explicar para valer, não se prolongue ou tenha a intenção de fazer uma palestra sobre sexo, alerta a psicóloga e psicanalista Cynthia Boscovich, que atua com orientação de pais. O ideal é trazer o assunto aos poucos e não resumido a uma só conversa. Deixe claro que o tema pode voltar quando o filho sentir necessidade.

Pare e pense

Quando não souber de algo ou desejar mais tempo para elaborar uma resposta, diga que vai investigar o assunto e responderá mais tarde. "A maioria dos pais não teve educação sexual. Por isso, é melhor adiar a resposta do que meter os pés pelas mãos. Se a situação for muito constrangedora, chame um padrinho ou qualquer pessoa da família para conversar sobre o assunto", fala Cynthia Boscovich.

"Vale até mesmo contar com ajuda de um psicólogo para a orientação dos pais", afirma Maria Helena. O Instituto Kaplan, por exemplo, disponibiliza o S.O.S. Sexo, serviço em que os pais recebem orientação de como abordar o assunto com o filho.

Os livros sobre sexo destinados ao público infantil são outro instrumento para facilitar essa conversa, servindo como um guia para os pais. Na opinião dos especialistas, o ideal é fazer a leitura para o filho, sem necessidade de ler tudo de uma vez só. Outra opção é a criança ler sozinha, mas depois é necessário que um adulto se ofereça para tirar dúvidas ou conversar sobre o assunto.