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Desejo sexual pode oscilar durante a gestação; confira depoimentos

Sexo na gravidez é saudável, desde que o médico autorize - Getty Images
Sexo na gravidez é saudável, desde que o médico autorize Imagem: Getty Images

Rita Trevisan e Simone Cunha

Do UOL, em São Paulo

26/12/2014 07h07

Na gravidez, uma série de transformações fisiológicas e emocionais ocorre e o casal precisa adaptar-se a elas. No entanto, o período não exige abstinência e, assim como a libido não cessa, as relações sexuais também podem continuar acontecendo durante os nove meses.

"Não há contraindicações, exceto se o médico der um diagnóstico de gravidez de risco. Cada caso é único e o obstetra deve orientar se as relações sexuais podem ou não ser mantidas e com quais cuidados", afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

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De acordo com Carmita, o período gestacional pode ser dividido em três etapas. Nos primeiros três meses, a mulher sente-se menos interessante e, em geral, fica mais vulnerável, por conta de náuseas, cólicas e sono excessivo. “O sexo pode acontecer nessa fase, mas a libido tende a diminuir”, explica. Isso ocorre, inclusive, pela questão hormonal. Afinal, há uma produção excessiva de progesterona, que causa sintomas muito semelhantes aos da tensão pré-menstrual. "A gestante pode sentir desconforto, o que faz com que fique menos disposta para o sexo", diz. 

A zootecnista Suellen Sobrinho França Mattos, de 26 anos, está com 22 semanas de gestação e conta que, nos primeiros meses, sentiu-se menos desejada. "Mas entendo que foi coisa da minha cabeça. Nessa fase, o desejo continuou existindo, mas a regularidade diminuiu um pouco", lembra.

A ideia de se sentir menos sexy aos olhos do parceiro é algo comum, por causa das mudanças que ocorrem no corpo da mulher. Além disso, com a instabilidade hormonal, a gestante pode ficar ainda mais sensível.

"Considere o fato de que a maioria das pacientes desconhece sua própria anatomia, o que as leva a acreditar que a relação sexual poderá machucar o bebê", afirma Newton Eduardo Busso, obstetra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O médico esclarece que vagina e útero são órgãos vizinhos e que a penetração não interfere no desenvolvimento do bebê.

Segundo trimestre: a fase boa

Passado o turbilhão de emoções do início, a gestante entra em uma etapa mais tranquila, até mesmo para o sexo. “É a melhor fase, em que a mulher geralmente está se sentindo bem, mais segura com a gestação e, consequentemente, mais relaxada. A relação sexual costuma fluir melhor”, diz Eduardo Slotnik, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Nesse período, a variação de posições tende a diminuir, porque a grávida vai, pouco a pouco, reduzindo sua mobilidade. “Uma das melhores posições é a de lado, com um travesseiro como apoio”, diz Slotnik. Suellen concorda: “As posições de lado ou por cima são as mais confortáveis para mim”.

Segundo Carmita, tentar manter o vínculo, por meio da relação sexual, é bem positivo ao casal, em todas as fases. “No entanto, 1/3 dos homens costumam sofrer uma perda temporária de interesse pela grávida”, afirma. Nesse caso, o marido passa a enxergar sua parceira com um olhar mais maternal e ele próprio pode abdicar do sexo, para não perturbá-la. “Em uma situação assim, se a mulher mantém o desejo, deve procurar dialogar e tentar um acordo", diz a psiquiatra.

Com a desempregada Jacqueline Campos dos Santos, de 24 anos, ocorreu o inverso. "Fui muito desejada na gravidez inteira, meu marido dizia que eu estava linda com a barriga crescendo", conta ela, que, atualmente, está na 36ª semana de gestação.

A supervisora administrativa Tatiane Marques Angelini Matos, de 30 anos, que está na 34ª semana, também não sentiu diferença no tratamento recebido por parte do marido. E relata ter percebido o próprio desejo aumentar durante a gravidez. Porém, como ela já tem histórico de abortos anteriores, a relação sexual não foi liberada, como uma precaução. “Mesmo assim, buscamos outras formas de nos satisfazer, sem a penetração. Eu e meu marido lidamos bem com a situação”, afirma.

Terceiro trimestre: novos desafios

Com o barrigão, a dificuldade de se movimentar diminui ainda mais. “A relação sexual continua liberada até o final da gestação, exceto se houver algum risco, como a possibilidade de um parto prematuro. O difícil é encontrar posição confortável”, comenta Busso. 

Foi exatamente por esse motivo que Jacqueline suspendeu as relações sexuais, há poucos dias. “Continuo com desejo, só que agora que a minha barriga está grande demais, fica difícil encontrar uma boa posição e curtir”, afirma. 

A ansiedade pela chegada do parto também pode atrapalhar. No entanto, é preciso considerar que, se o sexo for prazeroso e ambos estiverem envolvidos, a experiência poderá ajudar a relaxar.