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Na TV, contexto erótico, não nudez, gera na criança comportamentos precoces

O ponto central não é a nudez e, sim, o contexto erótico em que ela aparece na TV - Getty Images
O ponto central não é a nudez e, sim, o contexto erótico em que ela aparece na TV Imagem: Getty Images

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

19/06/2015 07h05

Expor crianças a cenas que insinuem sexo, como as exibidas frequentemente em novelas e séries de televisão, pode fazer com que sejam antecipadas situações na infância, como a excitação sexual. “Dependendo da intensidade, a cena pode ser excessiva para o psiquismo da criança, que ainda não desenvolveu mecanismos para entender ou abstrair o conteúdo”, afirma a psicanalista infantil Anne Lise Scappaticci, doutora em saúde mental pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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A especialista explica que, na infância, a cabeça funciona como uma esponja, que absorve tudo, sem entendimento. “A criança, ainda pequena, já observa tudo e reage aos estímulos de um modo pessoal. Se aquele conteúdo vai além de sua capacidade de elaboração, torna-se prejudicial ao desenvolvimento”, afirma.

A partir do momento em que começar a entender o que está na tela, a criança pode ser afetada de outras formas, segundo a psicopedagoga Irene Maluf, da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia). “O que é mostrado na televisão tende a ser incorporado como algo aceito pela sociedade. E a precocidade na vida sexual pode ocasionar prejuízos para a escolaridade e a formação infantil”, diz.

O ponto central não é ver os corpos masculino e feminino nus, pois as reações a esse tipo de conteúdo dependem da naturalidade com que os pais lidam com a nudez no dia a dia. Para a psicanalista Marcia Porto Ferreira, professora do curso psicanálise com crianças do Instituto Sedes Sapientiae, o mais grave é permitir o acesso a cenas eróticas que, vistas na TV, no cinema ou na internet, podem confundir a criança em seu processo civilizatório. “É muito contraditório adultos proporcionarem cenas de conteúdo erótico a pequenos sujeitos em formação, em uma sociedade que não aceita a sexualidade sem freios”, declara.

Por isso, nunca é demais repetir que cabe aos pais proteger os filhos do conteúdo inadequado. Ainda mais se forem levados em consideração os dados do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística), divulgados em 2014, que apontam crescimento no consumo individual de televisão nos últimos seis anos. De acordo com o instituto, as maiores taxas de crescimento envolvem telespectadores de quatro a 11 anos, que passaram a ficar 38 minutos por dia a mais diante da tela em 2013. O tempo médio que um brasileiro permaneceu em frente à TV, no mesmo ano, foi de cinco horas e 45 minutos.

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O adulto é o filtro

De acordo com a psicanalista Marcia Porto Ferreira, tudo o que é oferecido à criança --incluso aí a programação da TV-- deve ser muito bem escolhido pela família. “A criança nasce com um psiquismo incipiente, que vai se constituir a partir do que ela recebe do mundo que a cerca”, diz.

Portanto, é função dos responsáveis reter a programação inadequada. Se, por acaso, alguma cena erótica aparecer de surpresa durante uma atração a que o menor teve acesso, a família deve explicar porque aquele conteúdo não é próprio para ele. “O melhor é agir com naturalidade e mudar de canal, dizendo que não é apropriado para a idade. Com esse tipo de atitude, ele sentirá que o adulto é uma autoridade, responsável por protegê-lo”, diz a psicanalista infantil. A mesma medida deve ser tomada nos casos de exibição de cenas de violência.

Para Irene Maluf, é a cultura e o contexto de vida de cada família que definem o que é adequado ou não para a criança, naquele momento. “A média de idade que parece ser mais adequada para começar a ter acesso a conteúdos mais sensuais ou violentos é por volta dos 16 anos, mas isso é muito relativo e varia conforme o meio cultural, religioso e familiar e com a educação que a criança teve até essa idade”, declara.