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Mudança hormonal e física favorece insônia na gravidez; saiba como lidar

A assistente administrativa Rosângela de Oliveira tem dificuldade para dormir - Arquivo Pessoal
A assistente administrativa Rosângela de Oliveira tem dificuldade para dormir Imagem: Arquivo Pessoal

Cintia Baio

Do UOL, em São Paulo

23/08/2015 07h25

 

Um dos conselhos que a mulher mais escuta durante a gestação é: “durma muito, aproveite bastante para descansar antes de o bebê nascer”. O único problema é que grande parte das futuras mães enfrenta longas noites de insônia em algum momento da gestação, principalmente no terceiro trimestre.

O principal responsável pela falta de sono é um misto de reações físicas e hormonais típicas da fase. Acrescente também uma boa dose de preocupação, comum às grávidas.

“Com o aumento do volume abdominal que ocorre durante a gestação, fica difícil achar posição confortável. Além disso, existe a expectativa do parto, a ansiedade que vem com a chegada de um filho. Tudo isso pode alterar a qualidade do sono da gestante”, explica Helena Hachul, ginecologista e pesquisadora do Instituto do Sono, em São Paulo.

Segundo a especialista, no primeiro trimestre, as alterações hormonais podem causar enjoos, azia e o aumento da frequência urinária, fazendo com que o sono da gestante fique interrompido. Como a barriga ainda não está muito grande, o segundo trimestre pode ser considerado o período mais tranquilo e com menor propensão à insônia.


É no terceiro trimestre que a dificuldade para dormir se intensifica. “O volume abdominal é maior por conta do aumento do útero, o que favorece uma série de incômodos que prejudicam a qualidade do sono, entre os quais, refluxo gastroesofágico e compressão da bexiga”, declara Pedro Genta, pneumologista do Centro de Medicina do Sono do HCor (Hospital do Coração). Além disso, o movimento da criança se intensifica, fazendo a mulher despertar com mais frequência durante a noite.

Com crises de insônia antes mesmo de engravidar, a assistente administrativa Rosângela Scandoliero de Oliveira, 38, com 38 semanas de gestação, está no período mais difícil para conseguir uma boa noite de sono. “Antes de engravidar, tomava leite quente para dormir melhor, às vezes funcionava. Agora não tomo, pois fico enjoada.”

Para Genta, a quantidade extra de progesterona no corpo também pode atrapalhar o sono. “O hormônio tem vários efeitos, entre eles, reduzir o tempo do sono profundo nas grávidas, que é aquele que deixa a pessoa mais descansada.”

Quando começar a se preocupar?

Embora a insônia na gravidez seja algo completamente comum, é preciso consultar um médico quando ela vem acompanhada de algum distúrbio do sono, como dispneia (falta de ar), e hipertensão arterial. “Os distúrbios respiratórios de sono estão frequentemente associados à gestação anormal e são comuns em grávidas hipertensas e com pré-eclâmpsia”, diz a ginecologista Helena.

Segundo a médica, em casos assim, é recomendado fazer a polissonografia (exame no qual o sono da pessoa é monitorado). Muitas vezes, o tratamento pode ser feito com medidas não farmacológicas, como orientações de "higiene do sono" (expressão para medidas como ter horários regulares para deitar e levantar; não levar aparelhos eletrônicos --como celular e tablet-- para a cama; evitar chá e café perto da hora de dormir, entre outras) e restrição no leito, ou seja, só ficar na cama o período em que realmente for dormir.

Outro ponto que deve ser observado, segundo Pedro Genta, é se a gestante começa a mexer muito as pernas durante o sono, o que pode indicar que ela esteja sofrendo com a síndrome das pernas inquietas. “A síndrome está ligada à deficiência de ferro, algo muito comum durante a gravidez. Portanto, é algo que também precisa ser investigado”, afirma Genta.

Movimente-se

Fazer algum tipo de atividade física é uma das dicas dadas por especialistas para driblar a falta de sono, principalmente no final da gestação. “O ideal é que a futura mãe comece a se exercitar no primeiro trimestre. Assim, ela chegará à reta final com uma boa postura, respirando melhor e com uma musculatura mais forte. Tudo isso contribui para uma noite de sono tranquila”, declara Alexandre Alves, especialista em atividade física para gestantes.

Segundo ele, o tipo de exercício físico não importa. “Pode ser hidroginástica, ioga ou musculação. O mais importante é a grávida se manter ativa, com uma atividade que a deixe confortável”, afirma.