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México capacita parteiras para tentar salvar futuras mães

Em Chiapas, México, parteiras ajudam mulheres a parir com segurança - Reprodução/The New York Times
Em Chiapas, México, parteiras ajudam mulheres a parir com segurança Imagem: Reprodução/The New York Times

Denise Grady

Do The New York Times

03/09/2015 16h22

Estado mais meridional do México, Chiapas é uma mistura de maravilhas e tristezas. O lugar abriga florestas tropicais, ruínas maias, cachoeiras, planaltos escarpados e alguns dos índices de mortalidade mais elevados entre mulheres que dão à luz.

Gravidez e nascimento não são doenças, mas são uma causa importante de morte entre mulheres jovens de países em desenvolvimento. Em âmbito global, complicações na gravidez ou parto mataram 289 mil mulheres em 2013, quase inteiramente em países pobres. A cifra era muito pior em 1990, quando mais de 500 mil mulheres morreram.

Entretanto, a melhoria dos últimos anos não atende às metas estabelecidas pelas Nações Unidas, que pediram que o planeta reduzisse em 75% a mortalidade materna até 2015. A taxa permanece "inaceitavelmente alta", segundo a Organização Mundial da Saúde.

Para especialistas, as cifras são inaceitáveis. Com atendimento de saúde básico adequado, quase todas as mortes durante a gravidez e o parto podem ser impedidas.

A história em Chiapas é bem parecida com a de outras regiões pobres ao redor do mundo. Onde quer que as mortes maternas sejam altas, o principal motivo é o mesmo: falta de médicos, enfermeiros e parteiras equipadas e capacitadas para auxiliar durante o parto.

Quando algo dá errado durante o nascimento, o fato pode ser repentino, exigindo resposta imediata. Não demora muito para uma mulher morrer de hemorragia após dar à luz, principalmente se não tiver ajuda especializada, os remédios certos e acesso à transfusão de sangue. A hemorragia é a principal causa de mortalidade materna no mundo.

Diversos fatores colocam as mulheres em risco em Chiapas. A região é pobre e muitas pessoas vivem sem carro em estradas distantes de hospitais. As mulheres costumam dar à luz em casa e, se tiverem problemas, pode ser impossível chegar a um hospital a tempo. Ou o marido ou parentes, seguindo a tradição ou preocupados com as despesas, podem não deixá-la ir ao hospital.

Há gerações, grupos indígenas de Chiapas têm os filhos em casa com o auxílio das parteiras tradicionais. Elas cuidam de partos normais com facilidade, mas a maioria não tem treinamento, remédios nem equipamento necessário para lidar com emergências obstétricas, como hemorragia, pressão alta e infecção.

Todavia, as parteiras são respeitadas e amadas por suas mãos habilidosas e sabedoria e pelo calor humano, afeto e tranquilidade que passam à mulher em trabalho de parto. Pelo menos metade das mulheres em comunidades indígenas de Chiapas ainda se vale das parteiras tradicionais.

Muitas dessas futuras mães temem e não gostam de hospitais, considerados lugares frios e caros onde o pessoal médico pode não falar sua língua, discriminá-las e desrespeitá-las e a suas parteiras. Muitas mulheres nativas têm medo de serem colocadas em camas durante o parto em vez de poderem ficar de cócoras ou outras posições eretas, que consideram mais confortáveis para dar à luz. Elas também temem que a equipe médica as force a fazer uma cesariana.

Contudo, as estatísticas em Chiapas não podem ser ignoradas. Pesquisadores estimam que a cada cem mil mulheres que dão à luz, 55 ou mais morrem, taxa significativamente mais elevada do que no resto do México.

Grupos de ajuda humanitária e o governo mexicano estão tentando ajudar Chiapas. A fotógrafa Janet Jarman viajou bastante pela região nos últimos meses, documentando os métodos antigos e novos e os lugares onde se encontram.

Um programa levou parteiras com treinamento médico a um hospital público na esperança de que sua presença fosse atrair as mulheres. Outro ofereceu capacitação às parteiras tradicionais. Uma nova casa de parto foi aberta em uma cidade, com parteiras profissionais, tentando recriar a experiência mais parecida possível com o parto em casa, até mesmo oferecendo uma corda pendurada no teto, para a mulher se agarrar e puxar durante as contrações.

Os programas novos não são perfeitos. As parteiras tradicionais reclamaram que não existem instruções suficientes e que o equipamento prometido nunca chegou.

Mesmo assim, as autoridades se dizem cautelosamente otimistas, e que a taxa de óbito materna em Chiapas começou a cair.