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Criança que fica horas sentada tem maior risco cardiovascular, diz estudo

Pais devem incentivar a criança a se movimentar - Getty Images
Pais devem incentivar a criança a se movimentar Imagem: Getty Images

Gretchen Reynolds

The New York Times

02/10/2015 11h51

 

As crianças que passam muito tempo sentadas podem ter de encarar consequências parecidas com as dos adultos, de acordo com um novo estudo sobre a saúde de garotas. A pesquisa revelou que depois de apenas um período de inatividade prolongada, as crianças desenvolveram mudanças na corrente sanguínea e nas artérias que, em adultos, significaria o começo de sérios problemas cardiovasculares.

Há muita evidência, claro, de que ficar sentado por muito tempo abala a saúde dos adultos. Vários estudos epidemiológicos descobriram associações entre horas de inatividade e aumento de riscos para diabetes, obesidade, doenças cardíacas e do fígado, síndrome metabólica e outros problemas, incluindo morte prematura. O mais preocupante é que esses riscos permanecem elevados mesmo quando a pessoa se exercita, mas depois senta em sua cadeira pelo resto do dia.

Esses estudos, no entanto, envolveram adultos. Poucas experiências examinaram diretamente os efeitos do sedentarismo em corpos jovens e saudáveis, e assim não estava claro se as crianças seriam afetadas como seus pais quando passam longos períodos sentadas.

Por isso, para o novo estudo, publicado neste mês no "Experimental Physiology", Ali Mc Manus, professora associada de fisiologia do exercício pediátrico da Universidade de Columbia, em Kelowna, e seus colegas decidiram pedir para as crianças ficarem sentadas e quietas.

Em geral, os jovens de hoje fazem muito isso. Uma recente pesquisa epidemiológica de larga escala relatou que crianças por todo o mundo ficam sentadas cerca de oito horas e meia todos os dias. Outro estudo recente descobriu que os níveis de atividade entre elas diminuem muito depois dos oito anos e continuam a cair por toda a adolescência, quando os jovens trocam o movimento por mais tempo sentados.

Esse declínio na atividade, segundo o estudo, é mais pronunciado entre as garotas.

Por essas e outras razões, em seu novo estudo, os cientistas focaram em meninas entre nove e 12 anos de idade. Eles recrutaram nove garotas, entre elas, duas com sobrepeso. As outras tinham peso normal.

Como os pesquisadores estavam interessados no que acontece no curto prazo quando alguém se senta por muitas horas, escolheram avaliar a função vascular. Estudos anteriores em adultos haviam mostrado que, quando permanecemos muito tempo sentados, as artérias em nossas pernas param de se expandir como deveriam para permitir que o sangue corra de maneira saudável. Em vez disso, elas se contraem, impedindo o sangue de fluir, aumentando a pressão sanguínea e, com o tempo, contribuindo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Os cientistas começaram testando a função arterial básica nas nove meninas, usando ultrassom e medidor de pressão sanguínea. Todas elas tinham função arterial saudável.

Então, metade das garotas se sentaram em pufes confortáveis no laboratório por três horas ininterruptas, brincando em iPads e assistindo a filmes. Se precisassem ir ao banheiro, o pesquisador as levava em uma cadeira de rodas.

As outras garotas também se sentaram por três horas, mas, no começo de cada hora, levantavam-se e pedalavam devagar por dez minutos em bicicletas ergométricas colocadas no laboratório antes de voltar para seus pufes.

Depois, as artérias de todas as meninas foram reexaminadas.

Alguns dias mais tarde, elas repetiram a experiência, mas agora as que haviam feito exercício ficaram sentadas sem se levantar e vice-versa.

Os resultados devem fazer com que muitos de nós, pais, parem de pedir aos filhos que fiquem quietos.

Depois que as garotas permaneceram sentadas por três horas ininterruptas, suas artérias não funcionaram tão bem quanto no começo da experiência. Na verdade, as meninas mostraram “uma profunda redução da função cardiovascular”, escreveram os cientistas, com a dilatação das artérias –seu alargamento normal e saudável– caindo até 33%.

“Para comparação”, diz Ali Mc Manus, foi provado que, em adultos, 1% de declínio da função vascular por algum tempo “aumenta o risco de doença cardiovascular em 13%”.

O bom é que as artérias das meninas se recuperaram rapidamente, porque aquelas que ficaram sentadas pelas três horas mostraram funções vasculares normais quando foram testadas novamente na segunda sessão no laboratório.

Igualmente encorajador foi o fato de que, quando as meninas se levantaram e foram para as bicicletas, não mostraram declínio na função vascular.

“Nossos resultados deixam claro que as crianças não devem ficar sentadas por períodos muito longos e ininterruptos”, afirma Ali Mc Manus.

Apesar de as artérias das garotas terem voltado às funções normais depois do tempo que passaram sentadas ininterruptamente, “não sabermos quais os impactos que isso teria dia após dias”, diz a pesquisadora.

Por isso, é bom encorajar os jovens a se levantarem e se moverem, pelo menos, a cada uma hora, avisa. Um passeio pela sala de aula ou pela casa ajuda. As meninas no estudo pedalaram “muito devagar”, afirma Ali, sugerindo que não é necessário um exercício vigoroso para manter as artérias das crianças saudáveis.

Infelizmente, as cadeiras são tão tentadoras para os jovens quanto para os adultos. “Fiquei surpresa com a facilidade de manter as meninas sentadas por três horas ininterruptamente. Achávamos que elas fossem querer levantar e andar por ali”, conta Ali. Mas ficaram felizes sentadas, envolvidas com os filmes e os iPads.

“Na verdade, foi mais fácil do que eu esperava”, diz a pesquisadora.