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Incentivados pelas mães, adolescentes abraçam o ativismo

Catharina Doria, 17, criou o aplicativo "Sai Pra Lá" para mapear casos de assédio em SP - Arquivo pessoal
Catharina Doria, 17, criou o aplicativo "Sai Pra Lá" para mapear casos de assédio em SP Imagem: Arquivo pessoal

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

04/05/2016 07h05

Em 2015, depois de ser intimidada por um homem mais velho do que ela na rua, a estudante Catharina Doria, 17, abriu mão do dinheiro que guardava para uma viagem de formatura para desenvolver o aplicativo Sai pra Lá, que mapeia casos de assédio em São Paulo. Ela atribui a atitude à criação recebida pela mãe, Silvia.

“Ela me criou sozinha, ensinando a respeitar as minorias. Ela tem um coração muito bondoso e sempre foi minha inspiração. Além disso, sou feminista e apaixonada por estudos de gênero, fiz até um curso sobre esse assunto”, afirma Catharina.

Tomada a decisão, ela contratou um desenvolvedor e um designer e, três meses depois, lançou o aplicativo. Doze horas após o lançamento, já haviam sido feitos 2.600 downloads do Sai pra Lá, que funciona em iOS e Android. No primeiro dia, foram registradas 300 ocorrências de assédio. “Pensei em quantas mulheres devem passar por situações constrangedoras a cada dia e percebi que era hora de agir.”

Apesar de saber que a exposição traz consequências, às vezes não tão boas, a estudante não se intimida e criou um canal no YouTube para abordar temas como assédio e empoderamento feminino.

“Já recebi muitas ofensas e até ameaça de estupro por lutar contra o machismo. No começo, minha mãe se assustou, mas expliquei que os 'haters' [expressão em inglês para designar quem odeia tudo e todos] são covardes e só brigam na internet. Tento sempre me concentrar nas pessoas que estou ajudando, nas vítimas que não têm voz.”

Aula de história e cultura afro-brasileira

Em outubro de 2015, Pedro Henrique Côrtes, 14, de São Paulo, mais conhecido como Ph Côrtes, ganhou de presente de Dia das Crianças um ingresso para assistir ao espetáculo "O Topo da Montanha", com Lázaro Ramos e Taís Araújo.

“Essa peça fala da última noite de Martin Luther King e isso mexeu demais comigo. Então pedi para minha mãe as biografias de Luther King, Mandela e Malcolm-X, e ela disse que me daria no Natal, com uma condição: que eu pesquisasse também sobre os heróis negros brasileiros”, conta. 

Ph Côrtes, 14, criou um canal no YouTube sobre heróis negros brasileiros - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Ph Côrtes, 14, criou um canal no YouTube sobre heróis negros brasileiros
Imagem: Reprodução/YouTube

Na época, Pedro, que desde os 11 grava e edita vídeos na web, já tinha um canal na internet para falar de assuntos variados. “Ao pesquisar, encontrei muitos heróis, e minha mãe sugeriu que falasse sobre isso no Dia da Consciência Negra.” 

Como a pesquisa rendeu, Pedro decidiu criar um quadro chamado “Meus Heróis Negros Brasileiros” só para tratar do assunto. As gravações são feitas em seu quarto e já geraram 12 vídeos, sendo o de maior repercussão o que trata de Zumbi dos Palmares, com 34 mil views.

“Sei que me assistem na Austrália, Suécia, França, Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Angola e Moçambique. Meus vídeos são em língua portuguesa e ainda não tenho como colocar legendas.”

Segundo ele, o envolvimento da mãe, Egnalda, no projeto foi fundamental para que a iniciativa fosse bem-sucedida. “Ela é meu braço direito, me ajuda na organização de tudo, desde o figurino até a escolha dos personagens. Sempre contribui para meu desenvolvimento a respeito dos assuntos relacionados à consciência e ativismo.”

Sobre comentários negativos e preconceituosos, Pedro explica: “Não há como agradar a todos, mas quando se trata de racismo ou ofensas, minha família toma as providências legais.”

Contra a exploração dos animais

Diego Naropa grava vídeo para o canal "Mini Vegano", do Youtube - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Diego Naropa grava vídeo para o canal "Mini Vegano", do Youtube
Imagem: Reprodução/YouTube

O estudante Diego Naropa, 12, conheceu o veganismo pela mãe, Nana Lacerda, defensora da causa, e decidiu compartilhar seu conhecimento sobre essa filosofia de vida com outras crianças utilizando a internet. 

“Minha mãe nunca me escondeu nada, mas a maioria das crianças não conhece a origem dos alimentos que consome. Um dia, conversando com uma amiga perguntei se ela sabia de onde vinha a carne. Ela respondeu: ‘claro, vem do supermercado’. Foi quando percebi que poderia ajudar”, diz.

No canal Mini Vegano que administra no YouTube, Diego defende a alimentação vegana, denuncia maus-tratos de animais, canta, ensina receitas e aborda o consumismo, com direito a pequenas esquetes bem-humoradas, produzidas com a participação da mãe, do padrasto, Bruno, e da irmã Martina, 14. 

o vegano Diego é defensor dos animais - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Diego é vegano e defensor dos animais
Imagem: Reprodução/Facebook

Seu primeiro vídeo, publicado no final de 2015, conta com 26 mil visualizações. Compartilhada no Facebook e em alguns grupos do Whatsapp, a gravação repercutiu no exterior, chegando a países como Portugal, México e Nova Zelândia.

Diego diz que sua missão é falar com pais e filhos para ajudar a derrubar alguns mitos que rondam a alimentação sem carne. “Gosto da repercussão, mas não procuro a fama, o que sempre quis foi que os animais e as pessoas convivessem bem.”

Como ocorre com qualquer postagem na internet, os vídeos de Diego, vez ou outra, recebem críticas e comentários maldosos. “Antes eu queria responder, mas minha mãe me orientou a não entrar em brigas. Não é esse meu papel. Hoje não ligo mais. Se ligar, não vou ter força e tudo desmorona”, diz.