Aposta da moda baiana, Vitorino Campos é destaque do Dragão Fashion, em Fortaleza (CE)

FERNANDA SCHIMIDT

De Fortaleza*

Há um ano e meio, Donata Meirelles foi a um jantar organizado para Kofi Annan em Nova York com um vestido do estilista Vitorino Campos. Entre tantos modelos de renome nacional e internacional, a consultora de estilo da Daslu enxergou talento na peça que ganhou de presente da promoter baiana Licia Fábio, e apostou na criação do estilista desconhecido como seu look para a grande noite ao lado do ex-secretário da ONU. Desde então, Vitorino teve ascensão-relâmpago: virou a aposta da moda baiana, não dá conta do número de encomendas que recebe a cada temporada e deve fechar contrato com a Daslu em breve.

Soteropolitano de nascimento, criado entre o ateliê de roupas sob medida da tia e a fábrica de fardamentos da mãe, Vitorino encontrou na família sua principal inspiração. A mãe, a tia e a avó são as musas de suas coleções cujos vestidos são o ponto alto, acompanhados de saias e calças de cintura alta. A cartela de cores enxuta e a preocupação com o avesso da roupa, acabada com forro de seda, são algumas das características do trabalho do criador, que prima pela delicadeza ao idealizar sua figura feminina. "Não consigo trabalhar a mulher de uma forma agressiva", diz o jovem talento, que faz questão de desenhar para uma mulher real, uma "rainha simples".

Aos 22 anos, o designer tem planos ambiciosos para sua jovem e promissora grife, criada em 2008: estar presente em todas as capitais do Brasil até 2012. Hoje, conta com dois pontos de venda em Salvador, um em Recife e outro em Brasília. Entre os projetos futuros está uma terceira linha, desta vez masculina, a Vitorino Campos Camiseiro, e a inauguração, em agosto, de seu novo galpão com mil metros quadrados. Enquanto isso, além das linhas Vitorino Campos, de peças sob medida e noivas, e a Vitorino, com 90 modelos prêt-à-porter por estação, assina uma série de móveis para a Toque de Casa, de Salvador, que tem lançamento previsto para o dia 10 de maio.

  • Dário Amorim/UOL

    Desfile de Vitorino Campos no Dragão Fashion Brasil 2010, em Fortaleza (25/04/2010)

Destaque do Dragão Fashion, Vitorino desfilou sua coleção para o Verão 2010/11 no último domingo (25), primeiro dia da semana de moda de Fortaleza, que acontece até o dia 28 de abril e concentra vários jovens talentos da moda nordestina.

Em entrevista ao UOL Estilo, o designer falou, além dos projetos e da carreira, sobre o mercado fashion do Nordeste. A seguir, leia trechos da conversa.

Como começou seu contato com a moda?

Fui criado entre o ateliê de costura de minha tia e a fábrica de fardamentos da minha mãe. Então, as máquinas, que para uns pareciam fazer barulho, para mim cantavam. Viés, carreteis, tudo esteve sempre ao meu alcance, os tubos de linha organizados pareciam mais cartela de cores. Tudo isso me influenciou para esse lado, desde pequeno. Com mais ou menos cinco anos, comecei a fazer meus primeiros vestidos com massinha de modelar em base de funil plástico.

De onde você busca inspiração?

Acredito muito no comportamento, é o que me faz buscar as coleções. Mas há outras coisas ainda: pode ser uma pessoa passando na rua, uma mulher chamando um táxi, tudo isso já possui uma cartela de cores dependendo da luz. Sempre estou com o meu celular fotografando. As três referências que me fazem desenvolver a marca são as três mulheres da minha vida: minha mãe, minha avó e minha tia. Então, eu não consigo trabalhar a mulher de uma forma agressiva. Para mim, as roupas são muito mais importantes no avesso do que no direito, não penso em enfeitá-las muito. Penso que a roupa tem de estar sempre muito bem costurada por dentro – trabalho com a costura inglesa. Os vestidos são, em sua maior parte, forrados com seda para que dêem conforto e a mulher possa ter esse contato leve com o corpo.

Você costuma dizer que as mulheres têm de se vestir como rainhas. Como é essa rainha de Vitorino Campos?

É uma mulher simples. Ela tem uma sofisticação subentendida. Não é aquela mulher que fica de duas da tarde até dez da noite se produzindo. É uma mulher que sabe fazer um coque despojado, colocar um vestido bacana, calçar um sapato legal e ir para qualquer lugar.

Quais são as dificuldades que um jovem estilista enfrenta no mercado de moda nordestina?

Disso, não posso reclamar, porque não tenho dado conta dos pedidos. Estou indo agora para o Verão 2011, a coleção já está pronta, com showroom na próxima semana. Mas os jovens estilistas podem sentir alguma dificuldade quando não entram no calendário oficial, e outras marcas acabam levando uma vantagem de compra à nossa frente. Acho que é fundamental estarmos caminhando junto com o calendário para que os compradores possam apostar nas nossas peças.

O que falta na moda do Nordeste?

Pessoas que possam apostar mesmo nela: ver o Nordeste não como algo folclórico, mas como uma porta nova que pode gerar um grande negócio.

Você está lançando uma linha de camisaria masculina. Como pretende transpor a delicadeza da sua moda feminina para a masculina?

Isso vai estar impresso na trama. O nosso algodão é egípcio, o fio é italiano, e eu vou desenvolver a trama dessa camisaria, que vai ser feita em uma fábrica no interior de São Paulo. Vai ser uma camisaria que preza pelo conforto, é uma camisa de manga longa que não vai te deixar abafado de calor. Como temos um clima tropical no Brasil, vamos tentar trabalhar com fios tecnológicos, mas com uma imagem clássica, de colarinho duplo. Primeiramente, serão só camisas, para podermos entender o mercado masculino.

Qual é o cuidado que você tem em ampliar a marca sem perder a produção detalhada de cada peça?

Isso está dentro do controle de qualidade. Não quero abrir 20 pontos de lojas, se não puder atendê-los. Não é uma questão de quantidade, de quanto eu vou conseguir vender, mas de qualidade, de como essas roupas vão chegar ao ponto de venda. Penso isso tudo de uma forma muito tranquila. Com a fábrica nova, vou ter uma estrutura muito maior, de célula, de capacitação de mão de obra para trabalhar com os tecidos. Tudo isso vai gerer uma maior produção. Hoje, trabalham 12 pessoas, dentre costura, modelagem, acabamento...

E o que mais vem por aí?

Estou lançando minha primeira linha de móveis no dia 10 [de maio de 2010], para a Toque da Casa, de Salvador, que vende marcas superbacanas e renomadas. Fiz o desenvolvimento de uma estampa, dentro de uma linha clássica de móveis. É um brocado espanhol, com uma trama diferenciada, que faz com que a estampa digital pegue apenas no fio de algodão, criando uma terceira estampa sobre um tecido texturizado. Uma das estampas é inspirada em flores em pó e a outra, como um macramê. Serão sofás almofadas e puffs. E os tecidos também estarão à venda para os clientes comprarem e forrarem uma cadeira, por exemplo.

 

Ficha técnica:

Quem é: Vitorino Campos
De onde: Salvador (BA)
Quando começou: 2008
Tipo de roupa: "Simples, para um mulher segura que sabe o quer e segue o que sente"
Onde vende: Galpão de Estilo (Salvador), Porto Kerteszi (Brasília) e Juliana Beltrão (Recife)
Preço: a partir de R$ 400 (blusas de seda)
O que a Vitorino Campos acrescenta à moda nacional: “Uma nova visão, como todos os estilistas. Cada marca que surge apresenta uma nova visão para o mundo, e as pessoas acolhem ou não aquela ideia”
 

*A repórter viajou a convite da organização do Dragão Fashion Brasil

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