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Brasileiras criam modelos de véus islâmicos e vendem pela internet

Fernanda Kholoud (esq.) e Falastin Zarruk (dir.) estão entre as brasileiras que levaram à internet suas criações de hijabs - Adriana Terra/UOL/Divulgação
Fernanda Kholoud (esq.) e Falastin Zarruk (dir.) estão entre as brasileiras que levaram à internet suas criações de hijabs Imagem: Adriana Terra/UOL/Divulgação

Adriana Terra

Do UOL, em São Paulo

18/05/2012 07h17

Há poucos anos, o comércio brasileiro do véu islâmico hijab restringia-se a nomes conhecidos apenas nas mesquitas. “Levava tecido para as costureiras fazerem, mas nem sempre elas entendiam, apesar de ser uma coisa super simples”, conta a paulistana Fernanda Kholoud, 26, descendente de árabes por parte de pai e muçulmana desde criança. 

Véu mais popular entre as seguidoras do islã que vivem no Brasil, o hijab não tem um corte especial. Trata-se de um pedaço de tecido retangular e de tamanho variável, mas suficiente para cobrir cabelo, nuca e colo da mulher. O material deve ser leve, para que o hijab tenha bom caimento. Deste modo, quando não há o véu específico, é comum adaptar lenços. Com o auxílio da internet, no entanto, tem sido mais fácil comprar no Brasil o hijab e acessórios complementares, como forros, faixas e prendedores. 
 
Em 2006, Fernanda começou a vender véus que inicialmente eram trazidos do exterior por amigos e depois passaram a ser confeccionados por ela e comercializados em um blog, pelo qual também vende alfinetes decorados para prender ou enfeitar o hijab, além da al-amira, tipo de véu fechado que parece um tubinho. 
 
A gaúcha Falastin Zarruk, 24, filha de pai palestino, abriu em 2010 um blog para falar de moda e religião, após estudar ambos os assuntos. Daí nasceu a loja virtual Fay.Z, hoje bastante popular. Os hijabs de Falastin são feitos por uma confecção terceirizada, mas está nos planos da gaúcha uma confecção própria, além da expansão da marca pela América do Norte. 
 

No universo fashion

A estilista indonésia Hannie Hananto é um nome forte da moda islâmica, produzindo hijabs com estilo cosmopolita e “toque indonésio”, como ela define.

Há também um festival de moda exclusivamente islâmica, o IFF (Islamic Fashion Festival), realizado desde 2006 em diferentes cidades do mundo.
Na pequena Montenegro, região metropolitana de Porto Alegre, Hanan Mustafa, 25, também comanda uma loja virtual de moda islâmica. Muçulmana há seis anos, ela produz todos os véus e abayas (espécie de vestido comprido e largo) que vende. Além da loja, Hanan mantém um blog com o objetivo de dar dicas de como se vestir para as recém-convertidas -estima-se que, na última década, o número de brasileiros muçulmanos tenha aumentado 25%.
 
São também as novas religiosas as principais clientes da carioca radicada em Juiz de Fora (MG) Zainab Hudhayfa, 61, que comercializa, também por meio de um blog, véus com strass, flores, canutilhos, bordados e outros detalhes cuidadosamente confeccionados por ela. "A mulher não é proibida de se enfeitar, mas sim de se mostrar”, explica. Cor e estampa são permitidos, diz ela. “Respeitando os preceitos do hijab [o termo aqui é usado em seu significado original, para falar de toda a vestimenta], que são cobrir-se, não usar transparências ou roupas que valorizem o corpo, e com modéstia”, detalha a gaúcha Falastin.
 
Customização brasileira
Hijabs com estampas animais, de bolas (os "poás", no termo da moda), aplicações de flores, fitas elásticas, de cetim e pérolas, além de faixas e broches estão entre as criações destas modistas. A paulistana Fernanda diz conhecer muçulmanas de todos os tipos, das mais sóbrias até aquelas que gostam de se arrumar mais, por isso os diferentes modelos de hijab fazem sucesso. 
 
Hanan Mustafa gosta de véus coloridos. “Sou jovem, quero coisas com vida, não só marrom, cinza. Gosto de ser diferente, de personalizar”, diz. Para se aperfeiçoar e ter referências, ela faz cursos de costura e observa fotos de lojas do Oriente Médio.
 
A carioca Zainab nunca havia costurado antes do hijab, mas a partir da produção caseira dos véus ela se aperfeiçoou e hoje comemora a compra de duas máquinas, uma de costura e outra de bordado. Ela explica que gosta de fazer modelos exclusivos, produzindo no máximo quatro peças iguais, e defende uma “personalização brasileira” do véu. 
 
Os preços dos hijabs vendidos pelas brasileiras na internet variam entre R$ 15 e R$ 40. Um véu para uma celebração como o casamento, no entanto, chega a valores bem mais altos.