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"Mesmo com pouco dinheiro você consegue se vestir bem", diz presidente de comitê de luxo

Elisabeth Ponsolle de Portes, presidente do Comité Colbert, associação francesa voltada para o mercado de luxo - Comité Colbert/Divulgação
Elisabeth Ponsolle de Portes, presidente do Comité Colbert, associação francesa voltada para o mercado de luxo Imagem: Comité Colbert/Divulgação

Fernanda Schimidt

Do UOL, em São Paulo

04/09/2012 21h13

“O que faz um produto de luxo ser diferente dos demais é que ele mexe com a sua imaginação, faz sonhar”, afirma Elisabeth Ponsolle des Portes, presidente do Comitê Colbert, associação francesa que reúne 75 grifes luxuosas. “É o que chamamos de poesia dos objetos”, completa ela, durante conversa com o UOL na manhã desta terça-feira (4) em São Paulo.

A entidade, no entanto, procura fugir das definições absolutas. “Luxo diz respeito a intimidade e experiência pessoal. Para mim pode significar uma coisa e para você, outra”, diz Elisabeth. Ela explica que o luxo vive sob um constante paradoxo: “É um produto que pode durar anos, mas ao mesmo tempo diz respeito à moda, que por essência é efêmera”.

Com marcas cobiçadas como Baccarat, Cartier, Chanel, Dior, Givenchy, Louis Vuitton, Hermès e Yves Saint Laurent, o comitê representa um mercado de 31 bilhões de euros (cerca de R$ 80 bilhões). Mas seu trabalho passa longe do comércio propriamente dito de bolsas, joias e vestidos. O grupo procura divulgar a cultura e a identidade francesa, sua “arte de viver”, baseada na elegância e refinamento. Seu objetivo é promover a troca de experiências entre as empresas francesas e colocá-las em contato com marcas de outros países que compartilhem seus desejos. Por isso, na próxima terça (11), o comitê homenageará, em Paris, os irmãos-designers Humberto e Fernando Campana com um prêmio por seu trabalho e diálogo com o artesanato brasileiro.

Além de se encontrar com a dupla premiada, a empresária veio ao país ver pessoalmente o crescimento das grifes francesas que abriram lojas na capital paulista nos últimos anos. O mercado brasileiro, apesar do rápido desenvolvimento, representa uma pequena parcela do consumo mundial de luxo francês, com cerca de 2%. Elisabeth explica que, destes consumidores, 60% ainda fazem suas compras no exterior e apenas 40% optam por adquirir seus produtos no Brasil. “Os brasileiros compram mais fora por conta dos impostos pesados. Este é um dos argumentos que usamos com as autoridades brasileiras. Não estamos investindo tanto quanto gostaríamos, não estamos empregando ou treinando as pessoas, nem pagando impostos locais”, diz.

Luxo sustentável

Elisabeth afirma que o comitê mantém junto com seus membros um trabalho de desenvolvimento sustentável. “Fazemos de tudo para proteger os recursos naturais, porque precisamos deles”, afirma. O lado social é outra preocupação. “Procuramos melhorar a qualidade de vida de nossos trabalhadores e artesãos. Queremos preservar o seu ‘know-how’, porque eles são como tesouros”, explica. Para ela, os grandes grupos de luxo, como LVMH e PPR, são cruciais para a vida cultural francesa tomando o papel de mecenas modernos.

A ideia de herança, de que ao comprar uma bolsa como a famosa Birkin, da Hermès, você adquire um produto que será passado para as suas filhas e netas, também seria um ponto a favor da sustentabilidade, contra o excesso de consumo promovido pelos baixos preços e alta rotatividade de produtos das lojas de departamento.

No entanto, são justamente estas características das fast fashion que foram absorvidas pelas grandes grifes. “Casas como a Chanel agora têm oito coleções por ano. Até no setor de luxo você é incentivado a comprar algo novo toda semana”, explica Elisabeth.

Concorrência amigável

Engana-se quem acha que o crescimento das redes populares de moda como Zara e H&M é uma ameaça ao luxo. “Na França, estamos acostumados a misturar, a combinar um casaco Lanvin a um jeans Zara”, diz Elisabeth, referindo-se à moda do “high-low”, em que um look é composto por peças de marcas caras e baratas.

Ela reconhece que as roupas vendidas por estas grandes cadeias são claramente inspiradas pelas tendências apresentadas nos desfiles de Paris e Milão. “É o que chamamos de um efeito ‘spill-over’ (transbordamento) positivo. Mesmo que não compre artigos de luxo por serem muito caros, você se beneficia deles. Hoje em dia, mesmo com pouco dinheiro você consegue se vestir bem”, explica.