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O visual pode influenciar a carreira; saiba como se vestir para liderar

A diretora de transações Ana Carolina Pereira Lima posa em frente ao guarda-roupa reformulado - Arquivo Pessoal
A diretora de transações Ana Carolina Pereira Lima posa em frente ao guarda-roupa reformulado Imagem: Arquivo Pessoal

Claudia Silveira

Do UOL, em São Paulo

19/12/2012 07h26

A diretora de transações Ana Carolina Pereira Lima, 39, é uma mulher bem-sucedida, daquelas que conciliam casamento, maternidade e o cargo de executiva em uma multinacional. Ao retornar da licença-maternidade, há dois anos, Ana Carolina achou que era hora de tentar uma promoção. Foi aí que ela ouviu algo inesperado: “A minha líder virou para mim e disse: ‘Olha para você, para sua roupa. Você não se cuida’”. Nesse momento, Ana Carolina se deu conta de que não bastava ser competente nas metas e desafios, era preciso demonstrar isso também pelas roupas que usava no trabalho.

“Sei que ela não falou para me magoar, mas no ambiente de trabalho, executivo é um conjunto de referências e inspira as pessoas”, conta Ana Carolina. Segundo a consultora de imagem Milla Mathias, o guarda-roupa de qualquer profissional, principalmente o das mulheres executivas ou que ocupam cargos políticos, deve ser prioridade, “pois somos nosso próprio cartão de visita”.

“É muito importante transmitir a mensagem correta, seja de credibilidade, de autoridade etc.”, diz a consultora de imagem. “A imagem não é algo fútil. Ela representa 55% da comunicação total da pessoa e pode facilitar ou atrapalhar, se estiver desconexa”, complementa Milla. Esse cuidado vale para quem já alcançou o sucesso profissional, para quem ainda está trilhando esse caminho e, claro, para quem está no começo da carreira.

Por ter apenas 17 anos e estar às vésperas de assumir o cargo de vereadora de Ipê, no interior do Rio Grande do Sul, a jovem Gislaine Ziliotto tenta conciliar um guarda-roupa de alguém da sua idade com o cargo que ela ocupará a partir de 1º de janeiro. Ela e outras 659 prefeitas e quase 140 mil vereadoras, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, vão se vestir no primeiro dia de 2013 para atuar na política das suas cidades. Gislaine tem consciência da responsabilidade que o cargo público vai trazer e sabe também que estará em um ambiente formal, majoritariamente masculino e adulto.

“Sei que vou me vestir [de maneira] um pouco mais formal”, diz a jovem, que acaba de completar o Ensino Médio. “Mas eu não quero mudar meu estilo, minha personalidade. Quero manter o espírito jovem”, afirma. Por isso, as peças que estão no guarda-roupa da futura vereadora não devem ser substituídas tão cedo.  “Porque sempre me vesti muito reservada, nunca fui chamativa.”

Para a consultora Milla, é muito importante respeitar o próprio estilo, tanto para quem vai está na política quanto no ramo corporativo. “Se a pessoa não se sente confortável ou não consegue fazer o trabalho à vontade, ela não será produtiva e isso não será positivo para seu caminho profissional”, afirma a especialista, que é coautora do livro “Guia de Estilo para o Candidato ao Poder” (editora Senac).

  • Folhapress/Getty Images

    À esquerda, a presidente Dilma Rousseff quando ainda era pré-candidata do PT, em 2009. À direita, durante evento oficial em Bruxelas em 2011

Moda na política
A comunicação por meio das roupas é um campo bem explorado na política. Em seu livro “Power Dressing - First Ladies, Women Politicians and Fashion” (em tradução livre: “Roupas do Poder: Primeiras-damas, mulheres políticas e moda”), o jornalista inglês Robb Young observa a mudança no guarda-roupa da presidente Dilma Rousseff. Antes da campanha, ela preferia cores escuras, o que acentuava a sua personalidade rígida.

Ao aderir a cores mais suaves, Dilma Roussef se tornou menos sisuda. Segundo Milla Mathias, as pessoas reagem inconscientemente de modo unânime às cores. A dica da consultora é dar preferência a cores escuras e sólidas - como preto, marinho, vinho - caso queira passar uma imagem mais formal, de autoridade, seriedade ou respeito. As cores claras - como bege, rosa-bebê ou azul-claro - passam uma imagem mais casual, suave e indicam que você é uma pessoa flexível, descontraída, leve.

Cuidado com o decote e o comprimento

- Decotes discretos são elegantes, não geram falatório e não abalam a sua reputação. Não é preciso usar uma blusa toda fechada, mas deixe pouco colo e nada de seio à mostra
- Roupas muito justas não transmitem seriedade. Opte por calças, saias e vestidos mais soltos no corpo
- Os joelhos devem ser o ponto de referência: as rótulas à mostra criam uma imagem mais alongada, mais jovem e mais magra. Evite as saias e vestidos com comprimento que acabe no meio da panturrilha

“O mesmo acontece com os cortes e modelos das roupas. Um homem vestido de paletó e gravata transmite mais seriedade do que um de calça jeans e camisa. A mulher de terninho preto e camisa branca faz o mesmo. Já uma com uma calça de alfaiataria e uma blusa colorida passa a ideia de mais descontração”, compara a consultora.

Da água para o vinho
A mudança no guarda-roupa de Dilma Roussef foi gradativa e surtiu efeito com o eleitorado. No caso da executiva Ana Carolina, a mudança no visual foi imediata. “Eu não salvei nenhuma das calças que eu usava”, relembra. Hoje, o seu guarda-roupa tem menos quantidade e mais peças de qualidade e com caimento adequado ao seu corpo. As roupas passaram a ser de tecidos mais nobres, e a executiva passou a observar quais as cores e estampas que harmonizavam com o seu rosto.

Logo nos primeiros dias da “nova” Ana Carolina, ela sentiu que as pessoas a enxergavam de um outro jeito. “Elas te abordam e falam com você de uma forma diferente”, observa. “Eu não tenho nenhuma dúvida agora que a forma como me visto influencia muito. Mas eu sei que é a competência que vai se sobressair sempre”, diz a executiva, que deu um “tapa no visual”, passou a inspirar colegas de trabalho, mas não tirou os pés do chão.

Além da moda

Cuidados com a beleza também são importantes. É necessário estar atenta a cabelos e unhas e saber dosar a quantidade de maquiagem e perfume.

Os cabelos devem estar sempre limpos e arrumados. Converse com o seu cabeleireiro para descobrir o tipo de corte que fica melhor no seu rosto, pois é possível “diminuir” alguns anos só com o corte e coloração adequados. Manter o mesmo corte de cabelo, como faz a editora-chefe da "Vogue", Anna Wintour, pode dar a ideia de foco, disciplina e dedicação. Ficar trocando o corte e a coloração do cabelo a cada estação, por outro lado, pode dar a impressão de impulsividade e ambivalência (juízos contraditórios sobre um mesmo objeto).

Mantenha as unhas sempre feitas ou, no mínimo, bem cuidadas. Evite esmaltes cintilantes ou de cores muito chamativas e, principalmente, fuja dos desenhos nas unhas. Não roa as unhas ou puxe as cutículas com a boca, principalmente em público.

Evite maquiagem em excesso, mas isso não quer dizer não usar nenhuma maquiagem. Corretivo, pó compacto, delineador, máscara para cílios, blush, batom e condicionador de lábios são itens essenciais. Resista à maquiagem da moda ou artística. Delinear os olhos em estilo gatinho ou usar sombra laranja só porque está na moda neste verão é inadequado para um ambiente formal de trabalho.

A escolha do perfume é algo pessoal, mas há uma unanimidade: não se deve exagerar. Você provavelmente não vai querer ser rotulada pela quantidade de perfume que exala ao chegar ao escritório.