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Antes brega, logomania volta a ser tendência e conquista até famosos

Fernanda Schimidt

Do UOL, em São Paulo

11/11/2014 17h09

Os nomes das grifes e suas iniciais inconfundíveis deixaram de povoar apenas as bolsas e, agora, também estão nas peças de vestuário. Antes considerada brega, a logomania tem aparecido maciçamente nas passarelas internacionais e, impulsionada pelo estilo de algumas celebridades, voltou a ser tendência.

A valorização das marcas e seus estilistas, feita de forma literal em suas criações, tem origem antiga. Na década de 20, o estilista francês Jean Patou foi o primeiro a lançar esta moda ao inserir as iniciais “JP” em suas peças. Cinquenta anos depois, a ideia ganhou força alavancada pelo poder das grifes e sofisticação do prêt-à-porter, segmento da indústria da moda que produz diretamente para o público final.

Se nos anos 90 eram marcas comerciais como Gap e Calvin Klein que estampavam suas logomarcas em camisetas e moletons, agora é a vez do mercado de luxo investir nesta forma de “propaganda ambulante”. Um vestido vermelho com uma letra M grande e amarela, seguida do nome Moschino, remete à rede de restaurantes McDonald's. A peça, vendida na época do lançamento por cerca de R$ 3 mil, esgotou. Com a mesma voracidade, consumidoras foram em busca de um simples moletom cinza com a palavra “Radarte” estampada em cinza, uma brincadeira das estilistas da grife norte-americana Rodarte, que custava quase R$ 500. “Esta é uma forma de legitimar um produto e exteriorizar um status. Muitas vezes,  nos vestimos para nós mesmos, mas também nos vestimos para os outros. E aí não adianta ter a etiqueta do lado de dentro da roupa”, explica o professor de história da moda, João Braga.

A lógica é a mesma usada pelo funk ostentação, gênero musical popular entre adolescentes. E, não à toa, ambas as “modinhas” surgiram na mesma época. Para Braga, esta tendência visual é reflexo também do crescimento da classe média e de seu poder aquisitivo. O professor cita o estilista Giorgio Armani, que tem sob sua direção marcas voltadas para públicos distintos, da exclusiva Armani Privé à popular Armani Exchange, facilmente reconhecida pelo logo em suas peças. “Uma das posturas adotadas pela marca é ter as letras a e X gigantescas nas peças. É para um publico que ainda precisa legitimar-se com essa identidade visual e ser reconhecido”, explica.

A estratégia adotada pelas grifes varia de acordo com a classe social que querem atingir. “É preciso treinar o olhar do cliente que não conhece, que ele aprenda que o V é de Valentino e que as duas letras C entrelaçados são da Chanel“, diz Braga. Ele acredita que o olhar do mercado de luxo está voltado não só para o Brasil, mas para todo o bloco BRICS, que conta ainda com Rússia, Índia, China e África do Sul. Esse vai-e-vem de novidades é mantido sempre por necessidades comerciais. “No caso das marcas, significa assumir postura comercial em busca de dinheiro. É uma decisão da presidência, não do estilista”, opina Alberto Hiar, dono da Cavalera, grife nacional que adotou as estampas com logos desde sua criação em 1995. Segundo ele, as marcas de luxo só investem em uma vertente mais comercial quando precisam de resultados.

Apesar de ter a logomania como proposta da empresa, Hiar conta que utiliza as mesmas táticas para alavancar vendas. “Quando uma camiseta tem um o logotipo muito exposto, cobro mais caro. É o caso de quem quer ostentar mais a marca do que sua personalidade ou estilo. Todas as marcas pensam dessa maneira”, explica.

Logopiadas
Há também que tenha aproveitado a onda da logomania para criar peças de desejo que debocham das grifes de luxo. O estilista norte-americano Brian Lichtenberg virou sensação entre público e celebridades com trocadilhos de marcas famosas, que em camisetas e bonés transformaram Hermès em “Homies” e Céline em “Féline”, por exemplo. Por aqui, a própria Cavalera aposta neste tom de zombaria há quase duas décadas. “Sou o pirata-mor. A minha cultura é a de desejar e não poder ter, de tirar sarro da própria cara e de quem está usando coisa falsificada. É uma característica da marca”, diz o proprietário.

João Braga acredita que esta é uma postura típica dos Brasil. “É genial, um humor bem brasileiro. Mas aí o brasileiro, por questões culturais, vai reconhecer o americano que fez, não a Cavalera”, comenta o professor, que se divertiu recentemente com camisetas à venda em um mercado de Fortaleza, com “grifes” como Tommy Cachaça no logo da Tommy Hilfiger. “Não resisti e comprei uma que tinha uma lagosta com o rabo virado e escrito ‘Lagoste’”, lembra ele sobre a logopiada com a marca Lacoste.

O bom humor, no entanto, nem sempre é compartilhado por quem é alvo das brincadeiras. “Sou local na justiça. Tem processos em que perdi o valor de alguns apartamentos. Mas é o preço que tenho que pagar para fazer o que faço”, fala Alberto Hiar.