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'Falsa gorda', silicone e mais curvas: manequins também seguem tendências

Adriana Terra

Do UOL, em São Paulo

04/12/2014 11h26

Até a altura do número trezentos, a rua São Caetano faz jus ao nome pelo qual é conhecida: rua das noivas. Isso graças às inúmeras lojas que oferecem vestidos não só para as coadjuvantes desse dia, mas também para noivas, madrinhas e damas de honra. A partir dali começam a surgir casas que vendem máquinas de costura, seguidas dos primeiros comércios dedicados a manequins; e que ocupam quase três quarteirões desta via no bairro da Luz.

Desde a década de 70 existem lojas do setor na região. A pioneira é a Fábrica Paulista de Manequins, seguida pela Exposival, na década de 80. Em 1990 veio a Equipaloja, fundada a partir de uma história curiosa: um importante comerciante de máquinas de costura da região teve um problema contratual ao vender seu ponto e acabou recebendo o pagamento em manequins. Assim, fez da adversidade um novo ofício e a família até hoje trabalha no ramo.

De 90 para cá, outras tantas lojas surgiram na São Caetano, principalmente com antigos funcionários desses comércios abrindo seus próprios pontos.

Apesar da tendência já consolidada de manequins regulares, a fim de deixar o destaque para as roupas, em uma voltinha por ali é possível ver “manecos” (como os vendedores costumam chamar os expositores) de muitos tipos. Na loja de Ferreira, por exemplo, um modelo de três metros recebe o visitante na entrada. Filho de vitrinista, aos 18 anos ele assumiu a empresa da família, fez cursos de modelagem e ficou fascinado pela ideia de testar possibilidades. Desenhou um modelo com rosto caricatural, inicialmente, nos anos 90. “Como um produto novo, ninguém acreditou, mas eu coloquei para vender e comecei a ver o resultado”, conta.

A irmã de Kassius, Fabiana da Silva Marques, também atua no setor em uma loja na mesma rua, mas com foco na venda de modelos restaurados. A ideia é estimular um consumo mais sustentável. “O manequim de fibra é antiecológico, não pode ser despachado em qualquer aterro. Eu os compro dos lojistas que fecharam as portas”, explica.

Não muito longe da loja de Fabiana está a de Erisvaldo Soares. O administrador também chegou neste mercado por meio da família: nos anos 90, se uniu aos irmãos, ex-funcionários da Fábrica Paulista de Manequins, para fundar a ArtViva, empresa que desenvolve manequins em polietileno, mais facilmente reutilizável que a fibra de vidro. Atendendo marcas como TNG e Pernambucanas, a loja tem modelos em cores como chumbo e pérola, tendências que os donos acompanham em feiras do setor.

"Busto Claudia Raia" e corpo fitness
As modas para os manequins variam de acordo com o local e a época. Na Venezuela, por exemplo, viu-se no ano passado um aumento de manequins imitando seios com próteses de silicone. No Brasil, na mesma época, houve a iniciativa de manequins com mais curvas.

Já houve tempos em que a moda era o chamado "busto Claudia Raia", em homenagem às formas da atriz brasileira --seu formato tinha bumbum grande e peito pequeno. Erisvaldo Soares diz ter notado nos últimos anos aumento dos pedidos de manequim plus size, o que é coerente com a maior oferta de roupas no setor. O modelo fitness, com o corpo bem definido, também cresceu.

Para Fabiana, o manequim plus size ainda está em fase de amadurecimento. “No princípio, eram manequins grandes, apenas. Hoje em dia, existe a tal ‘falsa gorda’, que é uma 'maneca' larga, mas sem barriga, como se tivesse feito uma lipoaspiração. Só que o mercado plus size não está satisfeito com ela. É um problema a questão do manequim maior, porque as pessoas engordam em partes diferentes”, acredita.