Balenciaga é fragância sofisticada e a altura do nome da grife

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • O perfume Balenciaga Paris
    Criadora: Coty Gênero: Feminino Avaliação:

Para quem conhece um pouco da história da moda, Balenciaga ainda é um nome extraordinário, tanto que logo depois de qualquer perfume da célebre maison ser borrifado na pele, vamos tentar primeiro analisar se ele está à altura do nome para depois considerar o perfume em si.



O designer espanhol Cristóbal Balenciaga dominou a moda do meio do século 20. Seu trabalho era modernista, ousado, arquitetônico e inovador. Christian Dior o chamava de “mestre de todos nós”, uma declaração extraordinária feita pelo concorrente. Ao mesmo tempo, os modelos de Balenciaga apresentavam uma moda clássica e de altíssimo luxo. Em 1937, abriu sua primeira loja na avenida George V, em Paris, um endereço respeitado, endinheirado, e de tirar o fôlego de tão... “George V” que era – a ponto de a Coty, autorizada dos perfumes de Balenciaga, ter estampado seu endereço na embalagem.

Na verdade, parte da história deste perfume fala sobre como a Coty se transformou em empresa autorizada. A Coty, Inc. é dividida em Coty Prestige, que licencia Marc Jacobs e Calvin Klein, entre outros, e Coty Beauty, cuja execução está mais voltada para o mercado de massa. A Prestige comprou a licença de Balenciaga: a atitude foi um passo consciente em direção aos sagrados nome e endereço da maison, além de seu estilista, o admirado Nicolas Ghesquière. Na indústria da moda, não havia muita expectativa quanto à primeira oferta olfativa. Como a Coty, com Ghesquiàre atuando como diretor de criação, interpretaria Balenciaga?

A resposta está na embalagem. Balenciaga Paris é um perfume ao mesmo tempo retrô, evocando os elegantes florais femininos do pós-guerra, e uma moderna atualização daquele arquétipo. O perfume foi feito por Olivier Polge, e é um verdadeiro prazer ver que Balenciaga exibe Polge em seu site, com uma fotografia profissionalíssima e texto descritivo. Bacana.

Com Paris, Polge criou uma máquina floral balanceada. Como base, ele deu à fragrância o caráter aldeídico do talco, mas em volume muito, muito baixo: ele dá dicas de - ao invés de insistir em - o luxo abstrato que se nota em fragrâncias como Chanel No. 22 ou White Linen. O caráter floral aqui não representa uma variedade colhida do jardim de alguém, aleatoriamente. Ao invés disso, canaliza o bouquet fabuloso que domina os lobbies de mármore de hotéis elegantes em noites em que as mulheres se vestem de longo. Se ele passa a ideia de glicínia e madressilva, pense novamente: passa também a ideia de copo-de-leite (embora Polge mantenha o controle de seu aspecto robusto).

Os detalhes são todos técnicos. A fixação de Paris na pele não é ruim, nem sua intensidade. A estrutura do perfume parece bem decente; ela se mantém bem de quando você chega na festa até a hora de ir embora para casa, exausta. Mas não se destaca em nenhum destes pontos. Para uma versão exclusiva dos charmes florais de Paris, lembre da maravilha de glicínia e hortência de En Passant, criado por Olivia Giacobetti para Frederic Malle.

Novamente, repare no espantoso preço de En Passant. A Coty sabe como comercializar seus perfumes, e pelo preço, Paris, de Balenciaga, foi muito bem projetado. Sim, ele é seguro. Mas é também correto. É a Av. George V, régia e clássica. Pode-se entender exatamente por que este perfume estreia nos dias de hoje e como ele transmite o luxo de que se tratam as ações de Ghesquière – e de Balenciaga - no mercado. Com a segunda fragrância de Balenciaga planejada para breve, veremos qual o papel da inovação neste jogo, se é que haverá alguma. É algo que anseio por experimentar. Por enquanto, só nos resta o deleite da ideia.
 

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