Marc Jacobs Bang é uma fragrância maravilhosa, mas tem fixação mediana

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Frasco do perfume Marc Jacobs Bang
    Criadora: Marc Jacobs Gênero: Masculino Avaliação:

Uma peculiaridade sobre a evolução dos amadeirados é que eles costumavam ter cheiro de madeira e agora não têm mais. Gucci Pour Homme, por exemplo, lançado em 2008, é poderoso ao extremo – você se sente praticamente usando um toco de cedro no braço. Mas o gosto popular muda continuamente, e geralmente muda muito. Agora as pessoas resolveram, em larga escala, que não querem mais sentir cheiro de madeira.


As fragrâncias amadeiradas de hoje se misturam com outras notas. Acordes doces estão em voga, e uma das novas percepções olfativas – que produzem perfumes muito interessantes, tanto no conceito quanto no odor – é a da madeira macerada em algum drinque doce e agradável de verão. Um exemplo é Sensuous, um feminino construído pela perfumista Annie Buzantian e pela diretora criativa de fragrâncias da Estée Luader, Karyn Khoury. Outra fragrância é um masculino novinho em folha criada por Yann Vasnier e supervisionada por Ann Gottlieb. Chama-se Bang.


O nome não tem muito a ver com a fragrância. Bang não sai do frasco como uma bala de revólver (sim, alguns perfumes saem), mas é um nome masculino e divertido – e este é, claro, o objetivo. É um nome muito bom. E o perfume por trás do nome é ainda melhor.


Borrife-o na pele e um amadeirado maravilhoso e leve desabrocha feito uma flor. Este não tem nada a ver com o toco de cedro da Gucci, não é pesado e não tem sequer um traço da aspereza do cedro. Ele é, acredito, algum sândalo sintético e de excelente qualidade do mercado: as notas de madeira soam macias, mornas, suaves, como a madeira que acabou de ser desbastada pela mais delicada lixa que há.


O pacote para imprensa que foi criado para Bang, que é absolutamente irretocável em sua banalidade previsível, deixa claro: “a hipnótica resina do breu e do benjoim aromático combinados com vetiver, musgo branco e patchuli, criando uma sensualidade poderosa.” O impressionante aqui é que, pela primeira vez, a descrição promocional está correta. Nunca se sabe quando podemos confiar em um release de imprensa, mas neste caso o acorde amadeirado realmente traz uma característica doce e quase comestível do benjoim, como uma torta com um leve toque de limão, que poderia ser o vetiver e uma suavidade reconfortante, que poderia ser o patchuli. As especiarias de Bang – ao que tudo indica uma combinação de pimentas em grão – e seu ângulo floral deixam a fragrância um gourmand ainda mais formidável. 

Bang é, do modo mais agradável e benigno, hipnotizante. Eu quis me deitar sobre ele para contemplar o céu azul do verão. Ele deleita e acalma seu humor e, ao mesmo tempo, deixa-o alerta. Borrifá-lo na pele nos traz a sensação de mergulhar em uma piscina gelada num dia muito quente.


Na verdade, Bang poderia ter sido, e deveria ter sido, um perfume de cinco frascos na nossa classificação se sua construção técnica fosse melhor. Eu o usei várias vezes, e pedi para várias outras pessoas fazerem o mesmo. Todos chegamos à mesma conclusão: Bang tem uma fixação mediana. Segundo a concisa observação de um advogado em quem eu testei, “ele vai”. Ele precisa ficar por perto muito mais tempo. Do mesmo modo, oferece uma difusão fraca no ar. A menos que você esteja colado nele, ele não ecoa. Sutileza é uma coisa, mas este perfume está além da sutileza. A tragédia de Bang é que, finalmente uma grande marca produziu uma fragrância tão boa que você gostaria que ela gritasse. E ela murmura.


É uma pena. Esteticamente, Bang é uma fragrância maravilhosa. Gottlieb claramente sabia o que estava fazendo aqui, e Vasnier está entre os melhores perfumistas do mercado. A única solução parece ser a reaplicação. Certamente está longe do ideal e você precisará fazer um cálculo de custo/benefício antes de investir em um frasco, mas no caso de Bang, o benefício pode ser maior.

Tradutor: Érika Brandão

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