Big Pony 2, 1/4 da coleção de fragrâncias que Ralph Lauren lançou recentemente, funciona como um lembrete das implacáveis possibilidades de belos e provocativos perfumes masculinos dentre o atual e absurdo mar de imitações de Cool Water. É também prova da resistência da L'Oreal, que possui a licença para fabricar os perfumes da Ralph Lauren, em dar aos perfumistas verbas altas para que trabalhem com matérias-primas de qualidade em seus perfumes.

Sem dinheiro para a fórmula, talvez o grande Germaine Cellier não tivesse criado o inimitável Fracas, em 1948, e sim algo como uma pálida e sintética tuberosa – bela o bastante, talvez, e certamente baseada em um ótimo conceito, mas carecendo da engenharia pesada necessária para fazer a máquina andar. E só o conceito nunca é o bastante. A sublime e deslumbrante Igreja do Jubileu, do arquiteto Richard Meier e que fica em Roma, é uma maravilha contemporânea – suas portas se abriram em 2003 – mas teria sido um desastre se a incorporadora Lamaro Appalti não tivesse destinado verbas que garantissem a qualidade do concreto e do aço.

Big Pony 2, criado por Antoine Lie, um dos perfumistas mais maravilhosamente inventivos e tecnicamente versados de que se tem notícia, e Ellen Molner, que tem excelente tino comercial, é uma façanha de conceito e desenvolvimento. O aspecto comercial da coleção é crucial, e assumido. O time criativo de Ralph Lauren primeiramente foca nas unidades vendidas – bem-feitas, sólidas, artigos de luxo acessível, é verdade – e algo tão vanguardista não entra no vocabulário da marca. Ralph Lauren não veio revolucionar os perfumes masculinos – embora tenham dado um passo nessa direção.

 

Não sei se Lie e Molner conhecem o trabalho superlativo do perfumista Maurice Roucel. Dentre a coleção de arte da maison da marca Bond No. 9, New Harleem, fragrância de 2004 criada por Roucel, é, discutivelmente, a melhor – uma obra de arte olfativa, com notas evidentes de chocolate, frutas suculentas e batom carregado. Ele é potente e fascinante, além de prova do controle preciso de Roucel do seu meio. Além disso, Haarlem é uma obra de arte, não simplesmente em cada aspecto de sua construção, desempenho técnico e inovação estética, mas também em sua vasta e poderosa invocação olfativa de todo um local e de toda uma era histórica – a era das proibições, do jazz no Harlem, da excitação e da decadência que a caracterizaram.

 

Lie e Miolner também criaram um masculino que realmente constitui um passo autêntico e excitante dentro de um território de vanguarda. Big Pony 2 abre incrivelmente, revelando um conceito de chocolate – doce e amargo – e um ângulo (muito pequeno, mas definitivamente palpável) das especiarias sedosas do Opium, com um caráter gourmand virtualmente inexistente na perfumaria masculina. Sim, Lie e Molner fizeram isso para que esta fragrância pudesse ser aceita em um clube universitário, e eles casaram esse corpo olfativo de vanguarda com um firme e tradicional chassi masculino da Ralph Lauren – um rapaz fresco, limpo, recém-saído do banho da academia. Ainda assim, é um conceito novo e interessante.

 

Entretanto, os criadores de Big Pony 2 simplesmente não receberam o dinheiro para construir uma fragrância sólida. É mais ou menos universalmente notório entre a indústria que a L’Oreal é incongruente quando falamos em verbas e orçamentos. Eles querem qualidade, mas dão pouco dinheiro para que os perfumistas construam qualidade. No caso de 2, o toque de especiarias e chocolate se mantém aquilo mesmo – uma ótima ideia que logo desaparece, deixando um masculino competente porém ordinário seguir adiante até que, este também, simplesmente desaparece da pele.

 

Nesta coleção de quatro fragrâncias, eles não podiam ter seguido somente com uma? Não podiam correr um único risco? Um homem poderia simplesmente reaplicar com relativa frequência – a fragrância é leve a ponto de ser impossível uma overdose. Mas a questão é que a promessa deste maravilhoso e doce beijo é simplesmente uma promessa. Quem sabe, para o próximo masculino, a Ralph Lauren não arregaçará as mangas para seguir em frente?

 

Tradução: Erika Brandão