Perguntas sobre perfumes de celebridades - se são legítimos, se são realmente criados com palpites da celebridade cujo nome aparece no frasco, e (basicamente) se são bons ou não - são tão ubíquas quanto a própria celebridade do perfume.

 

Lady Gaga acaba de assinar contrato para a criação de uma fragrância com a Coty Beauty. Bom para eles. Veremos se ela vai ou não vai colocar a mão na massa no projeto. O lançamento do perfume, previsto para 2012, será inerentemente interessante, no mínimo porque todos vão querer saber qual o cheiro do perfume da Lady Gaga.

 

Por enquanto tudo não passa de conjecturas e eu posso estar errado, mas aposto que o perfume vai ser interessante. Tanto quanto sei, o figurino mais famoso de Gaga, até o momento, era feito de carne. Talvez o perfume tenha cheiro de carne. Ou sabe-se lá cheiro do quê. No seu caso, "bom" significa, também, Gagazice engarrafada.

 

Mas e se você for uma celebridade que não é Gaga? E se, por exemplo, você for Kate Walsh, estrela de TV que ficou famosa por interpretar a Dra. Addison Montgomery, uma cirurgiã gélida em "Grey's Anatomy"? Ela então ganhou sua própria série, no papel da mesma cirurgiã que se tornou, misteriosamente, muito menos gélida e muito mais simpática e irônica, como a maioria dos atraentes personagens principais precisam ser.

 

A marca Walsh não é um ponto de partida óbvio para a construção de uma marca de perfume. A personagem que ela interpreta é simpática o bastante, mas ela é uma profissional, uma médica, uma cirurgiã – recebeu melhor educação que 99,9% do resto do mundo. Ela faz a assepsia enquanto discute com oncologistas. Em nosso mundo particular, nós - em especial aqueles de nós que são parte da cultura pop-centrada de onde vem a Lady Gaga - podemos desejar ser Gaga. Mas nós não necessariamente desejaríamos ser uma mulher com o horário de expediente e uma hipoteca. É quase como se o perfume de Walsh estivesse ligado a outro médico de televisão:  o Dr. House. Talvez seja por isso que o perfume, que chega às lojas em janeiro, se chame Boyfriend (“Namorado”) - um toque aparentemente incongruente de colegial.

 

A surpresa é que Boyfriend, criado pelo perfumista Marie-Pierre Julien, é um perfume esteticamente muito bom. Na verdade, ele é um dos melhores perfumes do mundo do luxo de que se tem notícia. Escrevo isso com um sentimento de choque. Grandes marcas de luxo como Vera Wang, Donna Karan, Yves Saint Laurent e Givenchy teriam tido sorte em lançar um perfume sofisticado como este, adulto e refinado. Boyfriend pertence à categoria dos perfumes ambarados, que, na sua melhor iterações, baseiam-se no caráter gramíneo, orgânico e tátil do patchouli – um toque de palha aquecida, uma superfície de veludo tropical – entalhado na doce certeza restabelecida da baunilha.

 

Boyfriend é essencialmente âmbar com um forte ângulo de madeira, e é maravilhosamente construído para o público de massa. Esta não é uma grande obra de arte olfativa, mas isto não vem ao caso. A questão é a usabilidade; uma beleza prática, uma sensualidade que funciona dentro e fora do escritório. A questão é profissionalizar a beleza, e este perfume é muito bem-sucedido nisso.

 

Os problemas da fragrância são técnicos. Ela tem uma estrutura sólida, o que é crucial, e é perfeitamente montada. Mas ela está aquém do desejado em duas outras maneiras, fundamentais: a difusão é inferior - você precisa estar colado nele para sentir seu cheiro - e sua fixação na pele é um problema: ela quase não existe.

 

Lamento as limitações técnicas do perfume. Lamento que ele não tenha uma melhor performance. Lady Gaga (a persona pop, não Stefani Germanotta, a mulher que criou Gaga e que a interpreta em público) é uma ficção surreal - fabulosamente divertida, chocante e, fundamentalmente, proporciona uma fuga da realidade. É ótimo que tenhamos em Kate Walsh uma figura aspiracional que não seja fantasia pura. É maravilhoso ver uma mulher famosa e com uma imagem séria e inteligente criando um perfume. E mesmo com suas limitações, Boyfriend inspira aspiração.

Tradutor: Erika Brandão