Incoerente, coleção D&G Anthology tem perfumes completamente desnecessários

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Frasco do perfume 18 La Lune da coleção D&G Anthology
    Criadora: Dolce & Gabbana Gênero: Unissex Avaliação:

No meio de uma aparentemente infindável série de lançamentos de coleções de perfumes – da primorosa coleção Chanel à nem tão extraordinária coleção Marc Jacobs – acusações são proferidas com violência sobre quem veio primeiro com o conceito de coleção. A maison Dolce & Gabanna foi retardatária nesta corrida, com sua “Fragrance Anthology”, mas isso é irrelevante. O importante é que a coleção funcione.


A ideia de D&G de basear uma coleção em cartas de tarô é muito forte como conceito de marketing. Se você precisa produzir uma campanha publicitária inteira, além da identidade de um produto, o tarô lhe fornece tanto o mistério quanto as incontáveis opções narrativas. Não entendo nada de tarô, mas quero aprender mais a respeito, assim como me intrigam o vodu e a pesca no gelo, e estou tão aberto para ouvir uma história, improvável porém divertida, através dos perfumes quanto através do cinema.
 

Estranhamente, a realização deste conceito tornou a coleção incoerente, e é pouco provável que alguém na Dolce & Gabanna não tenha pensado, ao menos um pouco, a respeito. Se alguém pensou, o raciocínio é tão misterioso quanto as previsões de uma cartomante. Sim, os nomes dos perfumes vêm do tarô: 1 Le Bateleur, 3 L’Imperatrice, 6 L’Amoureux, 10 La Roue de la Fortune, 18 La Lune. Mas os frascos desta coleção são completamente limpos, não fornecendo dicas visuais que associem os perfumes aos seus nomes ou ao tema geral. Temos, então a campanha publicitária: um grupo de seis pessoas, sensuais e nuas (só reconheci duas: Claudia Schiffer e Naomi Campbell), que não têm nada a ver com o tarô. E também não há nenhuma ligação entre a campanha e a embalagem. Enquanto ela exibe belíssimas fotos, ainda que extremamente poluídas (seis pessoas nuas, todas ao mesmo tempo?), você fica com a sensação de que alguém franziu a testa durante a criação da campanha, parou e perguntou:

“Espera um pouco. O que eu estava fazendo, mesmo?”
“Estava criando perfumes.”
“Ah, é verdade.”
 

Então aqui temos cinco perfumes originais, todos alarmantemente destituídos de qualquer indício de personalidade, significado, particularidade ou importância. Le Bateleur, criado pelo perfumista Michel Girard, é um belo pastiche de desodorantes esportivos e frescos, só que pouco definidos. L’Imperatrice, de Nathalie Lorson, nos apresenta um mediano floral e frutado melão-grapefruit-melancia, que não exige mais que seis neurônios para aparecer. L’Amourex acena em direção a especiarias vagamente descritas. La Lune, de Olivier Pescheux e Jean-Michel Duriez, dois perfumistas extremamente talentosos, traz o cheiro de almíscares sintéticos, além de algumas fragrâncias florais como crianças pequenas devem imaginar que flores gigantes exalam. La Roue de la Fortune, de Aurelien Guichard, devia vir com um aviso, porque ele pode induzir à hipoglicemia.
 

Estes perfumes são completamente desnecessários. Eles evaporam da mente, nenhum jamais será o favorito de alguém. Com tão pouca beleza ou originalidade, mesmo o rótulo “esquecível” concede uma importância a estes produtos que eles não merecem.


Então, por que criar a coleção? Obviamente, a resposta é dinheiro. Algumas pessoas na Dolce & Gabanna acreditaram que a publicidade funcionaria, outros acreditaram que seus frascos e suas embalagens funcionariam, outros ainda acharam que o conceito de marketing daria certo. Mas parece que os vários colaboradores não trabalharam juntos, como um grupo, para criar uma visão coerente para o projeto. O que o futuro reserva para esta coleção? Nada de bom.

Tradutor: Érika Brandão

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