Gucci Sport Pour Homme dá a homens circunspectos o cheiro de quem tem coração
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Criadora: Gucci Gênero: Masculino Avaliação:
Na maioria das mídias – cinema, literatura, música -, poucos são os motivos para deixar de revisitar os clássicos, afinal de contas fórmulas são fórmulas porque deram certo. Por exemplo, a mais recente adaptação de “Sherlock Holmes”, dirigido habilmente por Guy Richie, é um dos melhores exemplos de filme de suspense e mistério que vi em anos. O filme começa com a imagem de uma bela jovem vestida de branco, amarrada a um placa de mármore por um gênio do mal, que se prepara para sacrificá-la como parte de algum ritual satânico. Pronto, você já está imerso no filme. Se fizer justiça ao gênero, terá duas horas da mais pura diversão.
Este conceito também se emprega na perfumaria. Frida Giannini, diretora criativa da Gucci, pediu para o perfumista Michel Girard criar uma fragrância masculina que se enquadrasse nos moldes do final do século 20, e Girard construiu, com primor, Gucci by Gucci Sport Pour Homme – uma fragrância original o bastante para fazer valer a próxima compra de qualquer homem conservador. Conservador? Os significados políticos dos perfumes passam pelo eixo que vai do tradicional ao radical. E embora a ideia de masculinidade tenha evoluído com o passar das décadas, Sport Pour Homme se encaixa perfeitamente à direita do centro.
Vale lembrar que para os homens, os cheiros variam menos do que para as mulheres. A gama das fragrâncias femininas se estende a ponto de incluir perfumes tão díspares quanto Jicky de Guerlain, 1000 de Jean Patou, Le Feu d’Issey e l’Eau d’Issey, e cada um deles ocupa quatro pontos absolutamente diferentes no eixo estético. Por outro lado, a perfumaria masculina vai do Vol de Nuit de Guerlain (unissex) ao Sport Pour Homme – ambos carregados, densos, quase lembrando odor corporal. Em 1981, Pierre Bourdon criou Kouros para Yves Saint Laurent, um perfume que cheira a mestre de obras no verão. Em 1966, Edmond Roudnitska criou Eau Savage para Dior, e ele, teoricamente, acrescentou frescor, toques cítricos e um pouco de leveza ao macho-noir das axilas masculinas. Mas pela perspectiva de hoje, aquela leveza só realçou a axila.
Entretanto, tivemos algumas inovações. No ano seguinte ao Kouros de Bourdon, Pierre Wargnye criou Drakkar Noir, mudando repentinamente todo o formato da arte. Ironicamente, Bourdon contra-atacou Wargyne em 1988 com o Cool Water, solidificando o novo paradigma masculino: clareza, leveza e limpeza. Se um homem dos anos 30 sentisse o cheiro de Cool Water em outro homem, assumiria que este era homossexual. Este tipo de percepção é mutante.
Então o que Girard fez pela Gucci? Pegou a limpeza translúcida de Cool Water e envolveu suas qualidades vítreas e contemporâneas em uma doçura sutil, riscada por um cheiro penetrante de gengibre. Os primeiros cinco minutos após a aplicação de Sport Pour Homme são os melhores, porque revelam essa mudança brilhantemente. Se Girard tivesse criado uma fragrância com tal qualidade do começo ao fim, ela sim seria uma inovação. Não é, mas o simples fato de existir uma abertura refescante e adocicada (e que se dissipa em seu próprio tempo) dá ao Sports Pour Homme mais mérito do que a maioria dos outros perfumes usados por homens circunspectos e de terno escuro. Se eles o usassem, mesmo o banqueiro de Wall Street mais cauteloso e sobriamente vestido exalaria o cheiro de quem tem um coração.