Conheça as três maneiras de se criar uma fragrância masculina realmente boa
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Gênero: Masculino
As fórmulas repetitivas das fragrâncias masculinas são, como a morte e os impostos, inevitáveis. Às vezes, por causa dos seus cheiros, você prefere a morte. Mas de vez em quando uma perfumaria cria uma fragrância masculina que é realmente boa. Ótima, até. E isso pode acontecer de três maneiras.
Na primeira, o perfumista percorre um caminho familiar, mas transforma o perfume em algo indomável. Criado por Rodrigo Flores-Roux em 2004 para os fãs da tradição (parênteses: não me incluo no grupo), John Varvatos é a prova de que isso pode ser feito. A maioria dos masculinos tradicionais contém um pouco de madeira para reafirmar sua hombridade, um pouco de fumaça e/ou couro para que ele se sinta descolado, e alcatrão, para que ele se lembre de um Camaro 1978. Então eles envolvem a fragrância com laranja e limão, e pra coroar, uma mistura de especiarias viris e... "voilà"! Um perfume sutil como uma granada de mão. Flores-Roux construiu essa máquina e depois foi amaciá-la. A evolução é mais sutil, o motor funciona mais suavemente, as linhas são mais finas. Um amigo estica o braço: "O que é isso?" Debruço-me, passo três segundos pensando. Sento-me para trás e respondo: "John Varvatos". Ele olha espantado, mas o crédito é realmente do perfume. Não é o que eu uso, mas o produto tem personalidade. É a edição padrão, mas neste caso, ele funciona.
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Frasco da Mugler Cologne: cítrico astral
Na segunda, o perfumista transforma um gênero familiar de modo tão brilhante que realmente fica criativo. Sob a direção artística de Thierry Mugler e Vera Strubi, Alberto Morillas conseguiu fazer isso com Mugler Cologne em 2001. Ao tomar seu caráter fresco e vestir a fragrância com uma roupa de astronauta, Mugler evoca um pomar de limões numa galáxia distante. O brilhantismo deste perfume sedutor é que ele não se refere a nada na natureza, tampouco a algo químico ou sintético. É um cítrico astral, pó de estrela. O segredo é uma mistura incomum criada por Morillas (e sobre a qual o pessoal do marketing não vai falar), que se transformou na combinação perfeita. A falta de fixação na pele - o habitual problema técnico com os aromas cítricos frescos - remove um ponto de sua nota, mas mantenha um frasco na gaveta do escritório, e tudo resolvido. Não, na verdade, está mais que resolvido. Ele também é ótimo para mulheres.
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Frasco do New Haarlem: perfume funciona como uma Maserati
Na terceira maneira, basta criar um aroma surpreendente, dizer, com sagacidade, que ele é unissex e jogá-lo no mercado. A perfumaria Bond No. 9 pode se dar ao luxo inestimável de mandar o mercado, cujo lema é "homens só compram lixo", passear. A Bond No. 9 é como a fábrica de Willy Wonka administrada pelo New Museum: produz obras de arte como o lançamento de 2003 New Haarlem. Sob a direção criativa de Laurice Rahme, Maurice Roucel criou um aroma levemente condimentado que mistura café e açúcar queimado, macio como um creme, forte e elegante como Reggie Bush. Este perfume age como uma Maserati. É ouro 22 quilates na pele de um jovem, mas os homens de meia idade do Upper West Side de Manhattan podem borrifá-lo e sentir a transformação. Tecnicamente perfeito - difusão, fixação, evolução - New Haarlem não precisa deixar todos os outros masculinos comendo poeira. Trata-se, simplesmente, de outro jogo.
Tradutor: Erika Brandão