Suntuoso e denso, Gold by La Prairie exala o conceito de dinheiro
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Criadora: La Prairie Gênero: Feminino Avaliação:
Toda marca, celebridade e designer – e todos os outros que têm perfumes criados especialmente para eles – quer acreditar que seu perfume transmite sua essência: que ele pode transportar personalidade, filosofia, estilo de vida e números vultosos na conta corrente. (O release para imprensa que acompanhava o primeiro perfume da Paris Hilton dizia algo como “...que aquele que usar o perfume compartilhe do glamour que é Paris Hilton”.
La Prairie, uma linha de produtos para a pele de alta tecnologia e altos preços, acaba de lançar seus três mais novos perfumes: “Life Threads” Gold, Silver e Platinum. Ao fazer isso, a marca conseguiu criar fragrâncias que, para o bem e para o mal, personificam e refletem o luxo que significa La Prairie, ao mesmo tempo possibilitando àquele que usa o perfume compartilhar deste luxo. Os perfumes também demonstram que é possível produzir um trabalho esteticamente medíocre que encarne perfeitamente a marca.
O primeiro, Gold, foi batizado com propriedade. Suntuoso, denso, é um feminino clássico, saído dirtetamente da torneira dourada da perfumaria dos anos 70. É inconfundível, pois sem dúvida dispara, quando é cheirado, a sensação de que se está em um jantar beneficente em Bal Harbour, na Flórida, pedindo para ser servida de vinho branco.
Aqui, a perfumista Constance Georges-Picot criou, em fragrância, o conceito do dinheiro, mas não da riqueza. Gold é um floral extremamente doce – com o tipo de bouquet excessivamente poderoso do copo de leite, que nos atinge feito campo de força, sem nada dos efeitos especiais do algodão doce ou do neon que evidenciam os que usam o perfume Britney Spears. Ele foi projetado precisamente para sua consumidora-alvo: a mulher na faixa etária entre os 40 e o “é melhor a gente não entrar em detalhes”, que provavelmente votou no Bush e no McCain, mas não vai discutir a respeito. Ela é casada com um dono de incorporadora, faz suas luzes no melhor salão da cidade e tem uma pele ótima.
Silver é uma tuberosa domesticada, com um bom resultado porém não tão bom quanto outros similares (o perfume original de Michael Kors é muito mais atraente e se abstém da exuberância). A tuberosa está saturada. Ela passa a ideia de luxo, mas faz com que as crianças se lembrem de suas avós. Platinum, depois de dez minutos na pele, é um clone virtual do Tresor, da Lâncome, mas um pouco menos ousado.
Georges-Picot, caridosamente, manteve-se afastada dos aldeídos nos três La Prairies, então nenhum deles tem cheiro de talco. E eles são bem usáveis, mas estas fragrâncias não vão deixar a menor marca na história da perfumaria-arte. É duvidoso que mais do que alguns poucos frascos passem pelas mãos de qualquer um que não tenha sido catequizado pela marca La Prairie. Na escolha entre arte e comércio, estes fazem parte, enfaticamente, do segundo grupo.