Quando Matthew Malin e Andrew Gothz, criadores da linha epônima de produtos caros e raros de tratamento de beleza, decidiram criar uma linha de fragrâncias, a explicação deles foi bastante incomum. Disseram: “Queremos enfatizar que nossa linha de produtos para pele não usa fragrâncias sintéticas, e para isso vamos oferecer nossa linha de fragrâncias como uma outra categoria, separada.” Deste modo, propondo enfatizar a natureza 100% orgânica de seus produtos para pele, eles anunciaram a criação de uma coleção de fragrâncias sintéticas que contrastassem com a anterior.

 

Esta linha entre o natural versus o sintético coloca os produtos para a pele em um rigoroso contraste. O cheiro é parte integrante dos produtos Malin + Goetz. Além da ótima qualidade de seus produtos, o ótimo cheiro é parte inegável do apelo. Os cremes de limpeza de pele de pomelo e gerânio, os xampus de menta, sabonetes líquidos de eucalipto e bergamota, sabonetes de limão e rum são deliciosos de tocar e sentir, mas a experiência completa só acontece quando a pessoa aprecia seus extraordinários efeitos também através do olfato. Quem quer que tenha ajustado as fragrâncias destes produtos é um mestre.

Não sou fã – na verdade, sou um ávido oponente – da ideia que produtos não alimentícios como cosméticos, tecidos e remédios são de qualidade superior quando “100% naturais”. Esta premissa é cientificamente falsa. Mas Malin + Goetz rezam no altar dos orgânicos e seus produtos não parecem sofrer com isso. Na verdade, a rígida fidelidade à natureza faz com que suas fragrâncias fiquem ainda mais interessantes.
 

Este é, entretanto, o aspecto negativo das fragrâncias. Não são os perfumes dos seus pais. Na verdade, não tenho certeza se eles seriam os perfumes dos seus netos, a menos que seus netos morem em outro planeta (ou lua, ou asteroide). São fragrâncias que alguém poderia usar antes de vestir aquela roupa espacial para dar um belo passeio por Titan.

O efeito é completamente intencional. A coleção foi criada pelo perfumista Rene Morgenthaler, sob a direção de Malin e Goetz. Morganthaler realizou um trabalho preciso e primoroso – pode-se sentir como cada uma das fragrâncias se igualam à descrição original de Malin e Goetz. A coleção: em 2006, Synthesized Musk and Lime Tonic (Almíscar Sintetizado e Limão Tônico). Em 2007, Synthesized Lotus Root (Raiz de Lótus Sintetizada). Em 2009, Synthesized Geranium (Gerânio Sintetizado) e o igualmente sintético Petitgrain Tonic (Petitgrain Tônico).
 

Da caixa do Lime Tonic: “Nossa fragrância é sintetizada para reproduzir notas cítricas de limão fresco.” E aqui está a ideia. Toda arte pós-moderna faz duas coisas: questiona os vários conceitos que são apresentados para quem vê / lê / ouve (ou neste caso, cheira), enfatizando que o trabalho em si está absolutamente subordinado à ideia que o inspirou. A frase que causa efeito aqui, claro, é “sintetizado para reproduzir”. Significa que estas fragrâncias não são perfumes, e não têm intenção de ser perfumes. Há uma correspondência positiva entre o que é interessante e o que é usável, e enquanto alguém acredite que aquilo é fascinante, não significa que vai querer borrifar o perfume pelo corpo. (Não conheço ninguém que more em Titan.)
 

É por isso que uma descrição de como cheira determinada fragrância está muito longe do ponto. Entre os ingredientes do Synthesized Musk estão etilhexil metoxicinamato e ethilhexil salicilato – moléculas que produzem condimento e pedra sintéticos – mas o trabalho é basicamente uma tela pintada com grandes pinceladas de helvetolide, galaxolida e qualquer uma dentre as dezenas de outras moléculas de almíscar sintéticas que existem. Lotus, no que lhe diz respeito, acrescenta uma flor conceitual que fora destilada em um tanque de oxigênio.

Se o sistema de classificação em frascos desta coluna se aplica à fragrância e não aos fundamentos intelectuais de uma fragrância, dois frascos parecem uma nota apropriadamente arbitrária. Claro, a nota poderia facilmente ser cinco frascos, ou nenhum frasco. Tal escala simplesmente não é relevante para estas obras de arte.