Icônica, fragrância Marc Jacobs é como um bracelete de 18 quilates

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Frasco do perfume Marc Jacobs
    Criadora: Steve DeMercado Gênero: Feminino Avaliação:

Alguns perfumes se tornam ícones da forma mais sutil e discreta possível. Tais aromas não são famosos pelo frasco, embalagem ou celebridade que os anuncia; em vez disso, são perfumes famosos por mérito próprio. Ainda que o perfume Marc Jacobs não tenha surgido sem estardalhaço – seus anúncios são visualmente onipresentes há anos desde seu lançamento em 2001 – as mulheres que o experimentam ainda o citam de forma saudosa e calorosa, como se falassem de uma amiga que não veem há anos e que adorariam reencontrar. Um perfume com esse efeito sobre as pessoas tem o que é necessário para alcançar o status de ícone.

Como uma seminal fragrância floral pós-moderna, o perfume Marc Jacobs está numa posição quase hipnotizante. O gênero de florais verdadeiros que o precedia (embora o pós-modernismo em perfumaria não se atenha à cronologia) remete literalmente a flores. Une Fleur de Chanel (1999) tem o belo aroma das camélias, a flor favorita de Coco Chanel; da mesma forma direta, Dioressence, da metade do século 20, incorpora o igualmente belo aroma de lírio do vale. Outro exemplo, Apres L’Ondee, a obra-prima pré-guerra de Guerlain, evoca folhas de íris e violeta.

 

O realismo desses aromas não é fotográfico, mas artístico: há uma perfeição neles que transcende a natureza. Mas seus sentidos interpretam os aspectos florais como o tipo de flor que você encontra pelo caminho ao passear por um campo – ou ao entrar em uma floricultura sofisticada. (Afinal de contas, são produtos de luxo.)

 

Emeraude, de François Coty, talvez seja a primeira fragrância floral pós-moderna, lançada em 1921. Ela derruba, porém, de forma brilhante e genial, a figura de linguagem na perfumaria floral: sua flores não existiam realmente. Na perfumaria, a decisão estética de evitar referências olfativas reconhecíveis mostra uma simpatia com o expressionismo abstrato (certamente com a intenção de desorientar).

 

Com a fragrância Marc Jacobs, o perfumista Steve DeMercado, trabalhando na Camille McDonald como diretor criativo, elaborou uma versão de Emeraude para o século 21. Sua cuidadosa aplicação de um buquê similarmente indescritível torna a fragrância uma bisneta dessa maravilha abstrata. DeMercado criou uma fragrância encorpada contendo o aroma e a textura de um shake de proteína com o acréscimo de lírios de Calla. Nessa fórmula, ele acrescentou jasmim, e talvez um pouco de madressilva e glicínia.

 

Além disso, adicionando um toque de anos 1970, ele revestiu este buquê quase dominador em um aspecto de ouro brilhante, tornando-o uma joia olfativa. O perfume Marc Jacobs é como um bracelete de 18 quilates e 2 polegadas de espessura. Após borrifá-la, você se olha no espelho e tem a sensação de ver brincos combinando.

 

O status de ícone da fragrância tem a ver com o momento de seu lançamento. McDonald tinha a impressão – que se revelou totalmente correta – de que os consumidores que abraçaram as fragrâncias extremamente doces, neon e retrô dos anos 1990 iriam amar o bracelete de ouro que Marc Jacobs lhes ofereceu. A criativa equipe de Donna Karan já havia brincado com a ideia anteriormente, pedindo para a perfumista criar uma fragrância retrô 1970 similar, mas o resultado, chamado Gold, era um pouco rude e não tinha muita fixação.

 

Certamente, o trabalho de DeMercado, embora icônico, também é ligeiramente rude. É um pouco Trump, um pouco Hamptons. Mas é maravilhosamente quente e suntuoso, e, ao contrário de Gold, consegue ser poderoso e ao mesmo tempo despretensioso. A fragrância Marc Jacobs não é uma inovação estética, mas foi criada para se adequar perfeitamente a seu gênero e era. Envolve e tremula como uma seda. Irradia, vislumbra, e é inebriante como champanhe – tudo o que um perfume deve ser para quem o usa lembra-lo com tanto carinho.

Tradutor: Fabiana Souza

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