Com potencial para ser sucesso comercial, Pleasures Bloom é inferior ao original Pleasures

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Frasco do perfume Pleasures Bloom da Estee Lauder
    Criadora: Estée Lauder Gênero: Feminino Avaliação:

Quando a Estée Lauder colocou Pleasures no mercado, em 1995, ele representou uma revolução tecnológica na arte da perfumaria. Nos anos 90, aqueles que fabricavam perfumes estavam apenas começando a usar uma nova tecnologia, chamada “extração com dióxido de carbono”, que produz derivados de suas matérias-primas.

 

Durante séculos as pessoas utilizaram a técnica do arraste de vapor, destilando materiais como canela em pau, pétalas de rosas ou favas de baunilha em água e recolhendo os óleos resultantes da operação, com cheiro de canela, de rosa ou de baunilha. Estes óleos são chamados “essências”. E aquela tecnologia foi um poderoso avanço sobre os métodos mais primitivos para aprisionar cheiros; na França do século 18, as pessoas espalhavam gordura animal sobre algum tecido e então, cuidadosamente, dispunham pétalas de rosas sobre a gordura, que absorvia as moléculas de cheiro nas flores. O resultado era uma matéria-prima que cheira, e não seria nenhuma surpresa, como rosas embebidas na gordura rançosa de um hambúrguer.

 

Embora o arraste de vapor tenha sido um aperfeiçoamento marcante sobre técnicas anteriores, ele também trazia seus problemas: uma vez que os materiais eram processados a 100º C, a temperatura do vapor, as essências produzidas não eram simples destilações das matérias-primas em seus estados naturais – rosa, por exemplo, ou narciso, ou baunilha – mas sim o cheiro de rosa cozida, narciso cozido ou baunilha cozida. 

Os absolutos, que são similares às essências, foram desenvolvidos com o surgimento dos solventes, dentre os quais o mais popular é o hexano. Mas o hexano também exigia temperaturas elevadas para funcionar. Ele gerava uma cera, e era preciso embebê-la em álcool para recuperar o cheiro. Cada etapa do processo significava acrescentar um tanto de pressão à matéria original.

 

Então surgiu a extração com dióxido de carbono. Quando se coloca o dióxido de carbono sob alta pressão, você obtém o chamado fluido supercrítico, que é tanto solúvel como um líquido quanto difusível como um gás. Se você carrega um compartimento com ylang-ylang, açafrão ou cacau, o CO2 consegue extrair seus óleos com excelente eficiência. O CO2 age essencialmente como solvente, a diferença é que ele age à temperatura ambiente. O desenvolvimento deste método significou que, pela primeira vez, os perfumistas poderiam produzir essências do vetivér ou do patchouli que não pareceriam cozidos, que teriam o cheiro exatamente igual ao seu cheiro na natureza. 

 

Claro que a extração com dióxido de carbono não é barata, o método é mais caro que as técnicas mais antigas que produzem essências e absolutos. Mas os resultados são extraordinários. Depois de sentir o cheiro de essências e absolutos de gengibre, poder sentir o cheiro do resultado da extração com CO2 do gengibre é o mesmo que ver o seu mundo, que antes era branco e preto, ficar colorido. A adstringência, o frescor, o ardor e a pungência ficam, de repente, extraordinariamente claros. A extração com dióxido de carbono está para o perfume assim como a tecnologia HD está para o cinema e para a televisão.

 

Quando a empresa sediada em Genebra, Firmenich, conseguiu a extração com CO2 da pimenteira do Peru e a levou para a Estée Lauder, Lauder não só pagou pela matéria-prima em si, como também pagou uma taxa para retirá-lo do mercado durante três anos. Aquela extração da pimenteira do Peru viria a se transformar no âmago de Pleasures, um perfume que fez para o CO2 o que “Avatar” fez para o 3D. Ambos eram de tirar o fôlego, não somente pela novidade mas, muito mais importante, pela sua beleza. A pimenta do Peru é uma das matérias-primas mais extraordinárias do mundo: floral, suculenta, com um ângulo picante e doce. Qualquer que seja a nota que o atinja primeiro, é quase impossível não se arrebatar. 

 

Pleasures subiu como um foguete para o topo das listas dos perfumes mais vendidos nos Estados Unidos e permanece lá, ano após ano. Ele merece todas as honras: é um perfume “cinco frascos” em todos os sentidos. Agora, Lauder resolveu criar um flanker, chamado Pleasures Bloom.

 

Os flankers surgem de todas as formas e tamanhos. Alguns refletem a fragrância original, enquanto outros não têm a menos conexão além do nome. Alguns são inferiores, alguns são melhores que os originais. O Pure White Linen, de Lauder, lançado em 2006, se enquadra na última categoria. Um floral fresco e com talco e que traz uma brisa percorrendo seu corpo, Pure White Linen é a imagem rejuvenescida do original White Linen: está ligado às suas raízes, mas carregado de muito mais encanto.

 

Diferentemente de Pure White Linen, que transcende seu progenitor, Pleasures Bloom parece ter sido projetado para aproveitar uma reputação conquistada a duras penas e capitalizada comercialmente do sucesso de Pleasures. Tecnicamente falando, Bloom é um perfume bem realizado, com difusão, fixação e estrutura sólidas. É direcionado para determinada fatia demográfica – o que fica óbvio instantaneamente na primeira vez em que sentirmos seu cheiro – que está entre os 16 e os 20 e poucos anos. E, em teoria, não há nada de errado nisso.

 

O que decepciona é que, com a mágica da pimenteira do Peru extraída com CO2, Bloom poderia ter sido outra maravilha. Ao invés disso, ele é polido e bonito, com o tom do floral adocicado e das especiarias diminuídas. Comercialmente, Bloom pode se tornar um enorme sucesso. Não é, entretanto, um enorme perfume.

 

Tradução: Erika Brandão

Tradutor: Érika Brandão

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