O lançamento em 2008 de Sensuous foi um evento importantíssimo no mundo da perfumaria. Como garotas-propaganda do perfume, Elizabeth Hurley, Gwyneth Paltrow ou Caroline Murphy poderiam ter, cada uma sozinha, estrelado uma grande campanha de marketing. Mas a Estée Lauder juntou as três, e ainda acrescentou ao grupo a modelo Hilary Rhoda – provavelmente tendo gasto com isso a maior verba de marketing já dedicada a um único perfume.

Sensuous foi criado pelo perfumista Annie Buzantian sob a direção criativa de Karyn Khoury. É uma fragrância amadeirada – uma clara mudança de rumo para Estée Lauder, que é uma marca tão fortemente associada aos florais quanto Chanel é associada às notas de talco. Ou, pelo menos, Sensuous deveria ser amadeirado. Madeira é uma categoria olfativa bem definida, que vai do cedro, passa pelo sândalo e chega no carvalho. Sycamore, de Chanel, evoca a deliciosa fragrância de antiguidades em uma casa de fazenda da região de Provence. Sensuous incorpora, no máximo, um movimento elíptico nessa direção.

A fragrância amadeirada fundamental é Gucci Pour Homme, que tem cheiro de cedro, e mais nada. É como uma marcenaria olfativa, uma tábua engarrafada. Por comparação, Sensuous não seria nem uma versão light de um amadeirado. Seu cheiro é abstrato. Tem a agradável fragrância de flor sem ser excessivamente floral e a agradável fragrância de madeira sem ter o cheiro de nenhuma madeira em particular. É uma boa fragrância, bem construída e com matérias-primas de alta qualidade. Ao mesmo tempo, seu lançamento poderia ter sido interpretado com facilidade como um sinal que Lauder estava se esquivando de apostar em uma reviravolta que apontasse em uma nova direção. Sensuous flerta com o amadeirado, mas nunca se compromete totalmente com a madeira. Lauder alega ser dona do território sem realmente ocupá-lo.

Ainda assim, a apresentação de Sensuous foi marcante. E foi só uma questão de tempo antes de Lauder apresentar aquilo que a indústria da perfumaria chama de flanker: uma nova versão de uma antiga fragrância.

Não é incomum um flanker ser melhor que o original, então o fato de Sensuous Noir ofuscar seu predecessor não é novidade. O que talvez seja surpresa é o fato de ele dominar com firmeza o território que Sensuous tomou para si, embora mantenha o estilo elíptico original do perfume. O que parece acidental em Sensuous parece uma escolha intencional em Noir, e esta é uma das maiores forças do perfume. A madeira está muito mais claramente presente na nova fragrância. Não tem o toque canforado do cedro ou o toque cremoso do sândalo. O amadeirado de Noir é muito mais abstrato: o tipo de personalidade que o carvalho ou a cerejeira podem adquirir depois de anos de banho de sol. Ele é seco, gasto, profundo e um tanto escuro.

Noir tem cheiro doce, com notas moderadas de especiarias e incenso, como mel que recebeu pitadas de pimenta-do-reino, canela e noz-moscada. Não tem cheiro de nenhuma flor em particular, embora passe uma sensação floral que lembra o Sensuous original.
 

Enquanto algumas das escolhas feitas por Khoury e Buzantian sejam questionáveis, a acessibilidade e o potencial de marketing do mais novo trabalho não são. Sensuous Noir simplesmente cheira bem. Não é singular, mas é fácil de gostar e fácil de usar. E é o próximo passo lógico de Lauder em direção a este novo território das fragrâncias.

 

Tradução: Erika Brandão

Tradutor: Érika Brandão