Comme des Garçons oferece fragrância da rosa platonicamente perfeita
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Criadora: Françoise Caron, Yann Vasnier e Christian Asteguevielle Gênero: Feminino Avaliação:
À primeira vista, Comme des Garçons não parece uma maison que combina com fragrâncias. Rei Kawakubo, sua iconoclasta cofundadora e criadora de looks desconstruídos, reconstruídos e enigmáticos, criou uma aura cult tanto para si quanto suas coleções. O modo como a maison é conduzida, e sua abordagem vanguardista na hora de vender seus produtos (dependendo de para quem você perguntar, a Comme aperfeiçoou ou originou a ideia das lojas de guerrilha) não é facilmente compatível com a produção de obras olfativas. De fato, o resultado poderia ter sido uma cacofonia. Mas a coleção de fragrâncias de Comme des Garçons – tão extensa, intelectual e organizada quanto a coleção de besouros de um entomologista do século 19 – constitui uma das melhores coleções do mundo.
O caráter variado da coleção não pode ser subestimado. Odeur 53, criado pelas perfumistas Anne-Sophie Chapuis e Martine Pallix, é uma obra de puro expressionismo abstrato, com praticamente nenhum apelo comercial. Realmente, o cheiro de pneu queimado e especiarias chamuscadas já foi descrito para mim por um editor de moda como o “perfume supremo para os fashion victims”. É difícil argumentar sobre isso, e igualmente difícil imaginar qualquer pessoa usando tal perfume sem que esteja usando também uma roupa de 12 mil dólares de Kawakubo.
Por outro lado, Kyoto e Avignon, de Bertrand Duchafour (quem mais poderia ser?), são simplesmente dois dos melhores perfumes já criados. Especiarias, incenso gnóstico e argamassa durante um gélido inverno, o impacto dos dois perfumes é inesquecível. A maioria das coleções teria sorte em possuir um destes perfumes, mas a Comme parece tratar de ambos com extrema falta de atenção; uma atitude muito Kawakubo e, claro, nem um pouco desatenta.
Em comum a todos os perfumes da Comme temos a qualidade que eles compartilham com as fragrâncias de outras grandes coleções, como as de James Heeley e Frederic Malle: a habilidade de fascinar. Posto isso, chegamos à rosa, uma frangrância manhosa. Cheiro de rosa pode parecer datado, e quando usada errado (ou com materiais baratos), ele se manifesta grosseiro ou arrivista. A rosa de Comme, chamada Series 2 Red: Rose, é diametralmente oposta a essas coisas.
Na pintura e na perfumaria, o realismo nunca é realmente fotográfico. O artista sempre nos dá mais do que a realidade. Neste caso, as perfumistas Françoise Caron e Yann Vasnier, trabalhando sob a direção criativa de Christian Asteguevielle, nos fornece a fragrância da rosa platonicamente perfeita. A Rosa odorata poderia descrever seu toque gracioso, levemente mofado e baço. Esta rosa é doce, não foi adoçada. Tem vida, é fresca. Não foi refrigerada.
Como argumento, o Rose Poivree – um prodígio extraordinário que Jean-Claude Ellena criou para The Different Company – é discutivelmente superior ao Series 2 Red: Rose assim como quando uma obra de arte independente perde seu foco. Rose Poivree tem a impressão digital de Ellena estampada em cada molécula, e sua rosa foi aquecida a incandescentes mil graus antes de ser forjada e moldada para se tornar um manifesto. Ao fazer a rosa de Comme, Caron e Vasnier fizeram uma escolha muito diferente. Eles se mantiveram invisíveis. No entanto, a ideia do cheiro da rosa, a visão artística delas, é o que você vai usar. No que diz respeito a pontos de vista, este é fascinante.