Encorpado e estranho, Une Rose Chyprée tem presença marcante como a de um veludo
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Criadora: Andy Tauer Gênero: Feminino
Andy Tauer, perfumista suíço autodidata, lançou o tipo de coleção supersegmentada que decepciona alguns e encanta outros – mas que se torna o assunto principal da conversa tanto para seus admiradores como para seus detratores. Isso pode ser resultado do estilo marcante de Tauer; artistas que não possuem preparo formal frequentemente tem mais peculiaridades e uma assinatura mais distinta. Partindo-se desse princípio, quem trabalha com perfumes invariavelmente tem uma forma de criar fragrâncias que torna suas criações imediatamente reconhecíveis como uma série de acordes de Fauré, límpidos, perfeitos, aquarelados. Em certos casos, a peculiaridade e a assinatura são o resultado de uma técnica cuidadosamente calibrada: em outros, essas qualidades são simplesmente fruto das limitações específicas do perfumista.
O trabalho de Tauer conquistou um grande número de consumidores, notadamente desproporcional à sua falta de pesquisa de mercado. Isso sugere que o mercado vê talento em suas criações, e é tentador estar em sintonia com o mercado. L’Air du Desert Marocain, o segundo perfume de Tauer e de longe seu best-seller, sempre foi, na minha opinião, o perfume que o Pequeno Príncipe teria usado em seu planeta muito distante. Essa estranha fragrância proporciona uma sensação de controle e descontrole, ao mesmo tempo. Traz muitos anseios, ao mesmo tempo em que busca uma forma de articular esses anseios. Uma fragrância verde, com cheiro de grama, vetiver, dissimulada em umidade noturna e combinada com uma sugestão de protetor labial mentolado, Marocain é abstrato. Quando você o experimenta, sem dúvida obtém uma forte imagem olfativa – tão distinta quanto difícil de entender.
Uma das criações recentes de Tauer, Une Rose Chyprée, é similar a Marocain em estilo e efeito. É tão encorpado e estranho que não se pode deixar de pensar que Tauer não consegue controlar suas matérias-primas, ou que ele tenha criado algo extraordinariamente belo a partir de componentes extremamente estranhos.
O perfume se abre com uma imediata e discutivelmente admirável fragrância de Dr. Pepper sabor cereja. Não o Dr. Pepper de cereja que você bebe no copo: é o puro xarope concentrado antes de receber um jato de água carbonatada na fábrica. O perfume resultante é viscoso, doce e condimentado, com aspectos de frutas escuras. Seu ardil declarado funciona de forma belíssima – como a mistura sintética que paira em Rush, da Gucci – empurrando a fragrância para um terreno mais interessante, da arte. É totalmente fabricado – no melhor sentido possível da palavra: criado por uma mente artística que diz, com confiança: “Eu quero que você sinta exatamente este cheiro.”
Talvez a coisa mais interessante sobre Une Rose Chyprée é o papel da rosa que lhe dá o nome. Como no genial Lipstick Rose de Ralf Schweiger, em que a nota de rosas exerce um maravilhosamente irônico papel coadjuvante, direcionando para um batom barato, o componente rosa de Une Rose Chypree é virtualmente irreconhecível e, não obstante, crucial.
Como resultado, o perfume é uma fragrância de rosas retrô dos anos 1920 ou um trabalho de arte olfativa pós-moderna do século XXI. Essa incerteza cria tensão, e cada mulher que experimentar a fragrância terá de decidir por si só. O que quer que ela decida, encontrará um perfume advertidamente encorpado, com uma presença de palco marcante como o veludo – como o tecido de uma capa suntuosa, na qual poderia se colocar uma única rosa, bem vistosa. Uma rosa frívola que talvez ame um pequeno príncipe que more em um planeta distante.
Tradutor: Fabiana Souza