Marca "cult" francesa, Diptyque lança o estranho e bom Vetyverio

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Frasco do perfume Vetyverio, da perfumaria francesa Diptyque
    Criadora: Diptyque Gênero: Unissex Avaliação:

Em 1961, uma minúscula loja chamada Diptyque foi aberta no Boulevard Saint-Germain, em Paris. Foi a criação de três amigos, artistas e sonhadores: Desmond Knox-Leet era pintor, Yves Coueslant um cenógrafo de teatro e Cristiane Gautrot uma designer têxtil. Eles vendiam potpourris trazidos de Londres junto com brinquedos infantis dos anos 60, tecidos que eles mesmos criavam e qualquer outra coisa que lhes parecesse interessante.


Nenhum dos três sabia qualquer coisa a respeito de perfumaria, mas eles amavam cheiros, e acabaram pedindo para que um perfumista criasse um para a marca. Em 1963, a primeira vela perfumada da Diptyque, Aubepine, se juntou aos produtos bacanas vendidos na loja. Cinco anos depois, os empresários acrescentaram à loja seu primeiro perfume, L’Eau. Fantasmagórico e profundamente silencioso, ele levou o gênero da água-de-colônia – a fórmula cítrica e aromática – para um lugar estranho e interessante.
 

A coleção de perfumes cresceu. L’Autre, que Knox-Leet, Coueslant e Gautrot licenciaram do perfumista Serge Kalouguine, foi lançado em 1973. Era supercondimentado: coentro e cardamomo aos montes, junto com alcaravia e patchouli. L’Autre era realmente um golpe nos sentidos. Sua beleza adquiriu uma forma extrema: denso, opaco e quase perigoso. L’Eau Trois, outra criação de Kalouguine, nasceu em 1975. Aromático, continha uma generosa porção de mirra. O efeito era o de uma poção feita por um feiticeiro.
 

No começo, as fragâncias da Diptyque eram somente mais uma parte de seu estoque excêntrico, mas no fim dos anos 80, a loja passou a vender exclusivamente velas e perfumes. O tema central de seus perfumes é a estranheza primorosa e indefinível – um caminho maravilhoso, refrescante e diferente dos perfumes cheios de brilho e flashes que as marcas de luxo exibem em elegantes revistas de moda. A Diptyque não faz propaganda de suas fragrâncias. Sentir o rastro que alguém deixa é como entrar no País das Maravilhas sendo Alice, depois de ter tomado a garrafa inteira cujo rótulo dizia “beba-me”. Nem todos os perfumes são usáveis, ou colocando de outra forma, alguns são usáveis – mas só se você for uma das deliciosas criaturas bizarras que Alice pode encontrar.
 

Ultimamente, a Diptyque tem fugido deste isolamento ao oferecer perfumes que não só são altamente usáveis, mas que também são fruto de um trabalho artístico puro e cristalino. O artista olfativo Olivier Pescheux criou três das mais recentes águas-de-colônia da marca: L’Eau de Neroli, L’Eau des Hesperides e L’Eau de Tarocco – e são pequenas maravilhas. Pescheux, partindo do mesmo padrão de L’Eau, de 1968, trouxe a Diptyque para uma nova órbita: ao invés de escuridão, silêncio e opacidade, a mais recente e vibrante regra apresenta menos perigo.

Entretanto, as fragrâncias continuam levemente estranhas.
 

Com a mais recente, Vetyverio, Pescheux suga e estreita os aspectos clássicos e contemporâneos da Diptyque. Vetiver, uma adstringente gramínea do Haiti com um ângulo acentuado e sujo é um dos mais belos tons na paleta do perfumista. Aqui, Pescheux o utilizou para construir uma fragrância ilusoriamente literalista. O que se poderia ler, num primeiro momento, como simplesmente um vetiver absoluto mergulhado em uma solução alcoólica é, na verdade, a visualização cuidadosa do artista daquela matéria-prima. Pescheux o refinou, suavizando boa parte do caráter acentuado de grama, enquanto ainda conserva o conforto da terra. Ele também acrescentou um aspecto muito doce e belo de flor, que dá ao vetiver um caráter sensacional de ruibarbo. Quem poderia imaginar?
 

Enquanto esteticamente maravilhoso, a simplicidade fundamental do vetiver nega sua objetivo como parte de um design revolucionário (não que ele aponte para tal). Ao invés disso, é impecavelmente executado, um trabalho belíssimo e sutil feito por um artista da fragrância. Possui boa fixação na pele, uma difusão sutil e uma excelente coerência. E não sofre o peso da classificação por gêneros: Knox-Leet, Coueslant e Gautrot deixam claro que todas as suas fragrâncias são criadas sem um gênero em mente. É inerente ao mundo Diptyque: levemente estranho, criado de acordo com suas próprias diretrizes. E vem em um pequeno frasco, que deveria estampar no rótulo um grande “beba-me”.

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