Difícil de classificar, Vivara supera suas descrições, assim como as estampas Pucci

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • O perfume Vivara by Pucci
    Criadora: Pucci Gênero: Feminino Avaliação:

Para início de conversa, tive reações divididas quanto ao Vivara da Pucci – e ainda estou assim. Não falo do Vivara original de 1965, feito pelo perfumista Michel Hy e para quem o próprio Emilio Pucci dirigiu a criação. Estou me referindo à nova versão lançada em agosto de 2007, que tem a filha de Pucci, Laudomia, como co-diretora criativa.

O mais recente Vivara debutou em uma das lendárias festas da moda que acontecem no Palazzo Pucci em Florença, mais especificamente no no. 6 da Via de Pucci. Imagine: você sai do táxi na rua estreita e elegante, despista os paparazzi, vasculha, encontra e apresenta seu convite. Você é então propelido através da multidão por italianos grandes, sisudos, impecavelmente vestidos e que parecem filhos da Máfia desfilando em uma passarela de Milão.
 

Você passa pela grande entrada de pedra e chega no pátio central do Palazzo, onde fica parado e com os olhos arregalados. Imensas esferas, ou bulbos, de estampas Pucci se movem no ar, sobre a sua cabeça, balançando como anêmonas alienígenas em um mar de oxigênio, enquanto os mais ricos da Itália se esbarram em vestes tão requintadas e maravilhosas que seus olhos até doem. Todos conversam efusivamente. E lá está Laudomia, sorrindo enquanto serpenteia por entre seus convidados, cintilando com o resplendor da nobreza florentina. (Kylie Minogue parece que também está lá, passeando com Matthew Williamson, o então estilista da Pucci. Ou pelo menos é o que dizem. Nunca cheguei a vê-la.)

 

Champanhe abunda, é claro. Carregados pelos garçons, os pratos do jantar rodam pelo palácio como pérolas em um prato chinês. A coisa toda parece ter sido sonhada por Fellini e adaptada perfeitamente para Pucci: a marca icônica e surreal dos jet-setters nos anos 60.


Mas depois vem a questão: Será que Laudomia consegue fundir a mágica retrô com a relevância contemporânea? Será que Pucci consegue um retorno? Inquestionavelmente, a dúvida foi engarrafada junto com o perfume. Sentimos o cheiro de Vivara na manhã seguinte durante um fabuloso café da manhã na propriedade de campo de Laudomia. Uma caixa com a fragrância estava a nossa espera ao nos sentarmos às mesas cobertas com toalhas de linho branco. Abri minha caixa e encontrei uma das anêmonas decorativas e multicoloridas da noite anterior em miniatura. Elas eram simplesmente versões maiores do mais engenhoso dos frascos – criado por Helle Damkjaer – a ser lançado em anos.


O Vivara de 2007 não é o mesmo perfume que o Vivara de 1965. Laudomia e seus co-diretores criativos, Pierre Aulas e administrador dos perfumes da LVMH François Demachy (a LVMH comprou 67% da marca Pucci em 2000), foram muito claros quanto ao que não esperar. Eu me surpeendi com a fragrância, talvez porque estivesse presumindo, de um modo talvez rudimentar, que cores líquidas e neon fossem atomizadas na pele. Vivara não faz isso de jeito nenhum. Na verdade, ele primeiro me comoveu por parecer unidimensional como um floral moderno e transparente, e que fora capturado em um frasco esférico e tão atraente que seu caráter floral é quase superado. Isso era Pucci?


Era, e é, embora eu tivesse que usá-lo por alguns anos e ouvir algumas pessoas se encantarem por seu charme antes de entendê-lo. Vivara foi criado pelas perfumistas Marie-Aude Couture e Nathalie Gracia-Cetto, e ali elas fundiram Pucci, ícone do passado, com Pucci, a atual maison. Vivara é retrô, mas no modo mais sutil que se pode imaginar. Quando sinto seu cheiro agora penso nos Diors da metade do século – Diorama, Diorella – não pelo que cheiravam, mas como cheiravam: grandes abstrações do meio do século. Vivara também é abstrato. Ele faz lembrar a época em que perfumes tinham o imenso poder dos florais, chipres e orientais pré-guerra, mas filtra aquele poder nostálgico através de seu frasco futurista. A força e a encapsulação da natureza pós-guerra o tornam retrô, mas o fato de ser facilmente usável, além de seu comportamento quase pretensioso, fazem dele um produto do século 21. E seu caráter aparente e intencionalmente químico adiciona uma tensão interessante à equação.


Eu o acho singularmente difícil de classificar. Todos para quem eu o mostrei, homens ou mulheres, adoraram. Vivara supera suas descrições, um pouco como as estampas Pucci. Se é disso que você gosta, é tudo o que poderia querer.

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